Opinião do Estadão
Repreendido por mau comportamento, um aluno da 6.ª série do ensino fundamental de uma escola pública de Diadema jogou um vaso contra o professor, atingindo-o na cabeça. A agressão ocorreu no ano passado e foi presenciada pela mãe do estudante. O caso resultou em boletim de ocorrência registrado numa delegacia de polícia e, por causa da violência do agressor, que tinha na época 12 anos, converteu-se num dos exemplos mais citados nos estudos de órgãos públicos e fundações privadas da área educacional sobre os fatores responsáveis pelo aumento da violência escolar.
Em 2011, segundo dados do Ministério da Educação, quase 4,2 mil professores de português e matemática da 5.ª e da 9.ª séries da rede pública e privada de ensino fundamental contaram ter sido agredidos fisicamente por alunos dentro das salas de aula, nos corredores ou na saída dos colégios. O número representa 1,9% dos 225 mil docentes que responderam a um questionário anexado à última Prova Brasil. Trata-se de um exame aplicado a cada dois anos nas escolas públicas urbanas pelo Ministério da Educação.
A Prova Brasil faz parte do Sistema Nacional de Avaliação do Rendimento Escolar e seus resultados entram no cálculo do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Na Prova Brasil de 2007, 6,6 mil professores afirmaram ter sido agredidos por aluno e outros 1,9 mil testemunharam estudantes portando armas de fogo dentro das escolas. Na Prova Brasil de 2011, mais de 9 mil docentes informaram ter visto estudantes portando facas e canivetes em sala de aula. Pelas estatísticas do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), as agressões aos docentes estão crescendo cerca de 20% por semestre. Entre 2008 e 2011, a entidade recebeu 157 denúncias de agressão, roubo, vandalismo e ameaças de morte em escolas paulistas.
Além dos ferimentos físicos, as agressões geram depressão, síndrome do pânico e estresse pós-traumático nos professores. Para tentar coibir a violência escolar, as entidades sindicais do professorado criaram canais para receber denúncias. Entre 2011 e 2012, o Sindicato dos Professores de Minas Gerais recebeu uma denúncia de violência a cada três dias.
Em todo o País, colégios públicos e privados estão oferecendo cursos de conciliação, de mediação e de justiça restaurativa para alunos e professores. Também investem na formação de pedagogos e dirigentes escolares preparados para fomentar o diálogo e aproximar os professores do universo social e cultural dos alunos. No Rio de Janeiro, professores de 150 escolas - entre elas os melhores colégios particulares do Estado, como o Teresiano e o São Bento - participaram de cursos oferecidos pelo Tribunal de Justiça. Para a responsável pelos cursos, desembargadora Leila Mariano, a sentença judicial não basta para atenuar a violência escolar. "Na escola, as relações são continuadas. A professora e o aluno que brigam estão ali no dia seguinte. Se a gente não resolver o problema emocional deles, a questão não vai parar aí", afirma.
Essas medidas, contudo, têm se revelado insuficientes para coibir a agressividade dos alunos e conter a escalada da violência nas escolas. "A violência física é a ponta de um iceberg de outras violências que acontecem e não são tratadas. Ninguém dá um soco do nada. Começa com olhares, xingamentos e empurrões", diz o pesquisador Renato Alves, do Núcleo de Estudos da Violência da USP, depois de lembrar que as escolas já não se preocupam mais em estimular o bom relacionamento, como no passado. O problema estaria na ênfase excessiva no vestibular, que privilegiou o individualismo em detrimento do estímulo à convivência. "Temos uma educação do século 19 para alunos do século 21, com uma linguagem que não chega aos jovens", afirma Miriam Abramovay, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais.
No ensino fundamental, a violência escolar tornou-se um problema tão grave quanto o da má qualidade da educação. E não é só por meio da oferta de cursinhos de mediação que ele será equacionado.
Repreendido por mau comportamento, um aluno da 6.ª série do ensino fundamental de uma escola pública de Diadema jogou um vaso contra o professor, atingindo-o na cabeça. A agressão ocorreu no ano passado e foi presenciada pela mãe do estudante. O caso resultou em boletim de ocorrência registrado numa delegacia de polícia e, por causa da violência do agressor, que tinha na época 12 anos, converteu-se num dos exemplos mais citados nos estudos de órgãos públicos e fundações privadas da área educacional sobre os fatores responsáveis pelo aumento da violência escolar.
Em 2011, segundo dados do Ministério da Educação, quase 4,2 mil professores de português e matemática da 5.ª e da 9.ª séries da rede pública e privada de ensino fundamental contaram ter sido agredidos fisicamente por alunos dentro das salas de aula, nos corredores ou na saída dos colégios. O número representa 1,9% dos 225 mil docentes que responderam a um questionário anexado à última Prova Brasil. Trata-se de um exame aplicado a cada dois anos nas escolas públicas urbanas pelo Ministério da Educação.
A Prova Brasil faz parte do Sistema Nacional de Avaliação do Rendimento Escolar e seus resultados entram no cálculo do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Na Prova Brasil de 2007, 6,6 mil professores afirmaram ter sido agredidos por aluno e outros 1,9 mil testemunharam estudantes portando armas de fogo dentro das escolas. Na Prova Brasil de 2011, mais de 9 mil docentes informaram ter visto estudantes portando facas e canivetes em sala de aula. Pelas estatísticas do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), as agressões aos docentes estão crescendo cerca de 20% por semestre. Entre 2008 e 2011, a entidade recebeu 157 denúncias de agressão, roubo, vandalismo e ameaças de morte em escolas paulistas.
Além dos ferimentos físicos, as agressões geram depressão, síndrome do pânico e estresse pós-traumático nos professores. Para tentar coibir a violência escolar, as entidades sindicais do professorado criaram canais para receber denúncias. Entre 2011 e 2012, o Sindicato dos Professores de Minas Gerais recebeu uma denúncia de violência a cada três dias.
Em todo o País, colégios públicos e privados estão oferecendo cursos de conciliação, de mediação e de justiça restaurativa para alunos e professores. Também investem na formação de pedagogos e dirigentes escolares preparados para fomentar o diálogo e aproximar os professores do universo social e cultural dos alunos. No Rio de Janeiro, professores de 150 escolas - entre elas os melhores colégios particulares do Estado, como o Teresiano e o São Bento - participaram de cursos oferecidos pelo Tribunal de Justiça. Para a responsável pelos cursos, desembargadora Leila Mariano, a sentença judicial não basta para atenuar a violência escolar. "Na escola, as relações são continuadas. A professora e o aluno que brigam estão ali no dia seguinte. Se a gente não resolver o problema emocional deles, a questão não vai parar aí", afirma.
Essas medidas, contudo, têm se revelado insuficientes para coibir a agressividade dos alunos e conter a escalada da violência nas escolas. "A violência física é a ponta de um iceberg de outras violências que acontecem e não são tratadas. Ninguém dá um soco do nada. Começa com olhares, xingamentos e empurrões", diz o pesquisador Renato Alves, do Núcleo de Estudos da Violência da USP, depois de lembrar que as escolas já não se preocupam mais em estimular o bom relacionamento, como no passado. O problema estaria na ênfase excessiva no vestibular, que privilegiou o individualismo em detrimento do estímulo à convivência. "Temos uma educação do século 19 para alunos do século 21, com uma linguagem que não chega aos jovens", afirma Miriam Abramovay, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais.
No ensino fundamental, a violência escolar tornou-se um problema tão grave quanto o da má qualidade da educação. E não é só por meio da oferta de cursinhos de mediação que ele será equacionado.
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