sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Esculhambação em todas as áreas

COI acionado para investigar a interferência judicial no Brasil  

Juca Kfouri (*)

POR ASSOCIATED PRESS 

Os presidentes depostos de duas federações esportivas brasileiras apresentaram
denúncias ao COI alegando eles foram retirados de seus cargos após interferência ilegal dos tribunais locais. 

Os presidentes das confederações de esporte no gelo e da federação de badminton alegam que as decisões judiciais são uma clara violação da Carta Olímpica e dizem que podem eventualmente levar a uma suspensão do Comitê Olímpico Brasileiro à frente dos Jogos de 2016 no Rio de Janeiro. 

O COB negou qualquer irregularidade e descartou qualquer ameaça de suspensão, dizendo que os presidentes caíram por causa de processos judiciais movidos por terceiros e relacionados a supostas irregularidades em sua administração. E que não houve interferência do governo. 
O Comitê Olímpico Internacional confirmou que recebeu as denúncias, mas disse que as federações primeiro devem tentar resolvê-los com o COB e suas federações internacionais. 

As federações locais disseram à Associated Press nesta semana que eles estão buscando ajuda do COI, porque não estão sendo ajudados pelo Comitê Olímpico Brasileiro. 
Eles acusam o órgão nacional de não fazer o suficiente para preservar a autonomia das entidades esportivas como exigido pela Carta Olímpica. 

Alegam que o COB vem trabalhando contra as federações locais e até mesmo participou de uma ação contra um deles. 
“Este é um simples caso de inadmissível interferência do governo em assuntos olímpicos”, disse Eric Maleson, presidente da Confederação de Esportes no Gelo. “A ação judicial no Brasil alarma e angustia o COI e os membros do movimento olímpico em todo lugar.” 

Maleson foi o único voto contra a reeleição de Carlos Nuzman como presidente do comitê brasileiro do ano passado. Nuzman também é o presidente do Comitê Organizador Rio 2016. 
A suspensão de um comitê nacional é normalmente uma ação de último recurso pelo COI, que tenta garantir que as supostas irregularidades sejam resolvidas antes que tenha que se envolver. 

Mas as federações brasileiras já dizem que é hora de o COI agir, citando a suspensão, em dezembro, do comitê olímpico da Índia por interferência do governo no processo eleitoral.
“Com a recente suspensão da Associação Indiana, não pode haver dúvida de que o COI leva a interferência do governo e as violações da Carta Olímpica muito a sério”, queixa-se Maleson para o COI. “A ação judicial no Brasil é a interferência do governo semelhante ao da Índia e uma clara violação da Carta Olímpica.” 

Maleson foi removido de seu posto no ano passado, depois de um tribunal do Rio de Janeiro ter nomeado um presidente interino para assumir a federação. 
A decisão veio depois que um ex-atleta processou e acusou Maleson de irregularidades financeiras. 

Maleson disse que pode provar que a federação tem boa posição financeira e argumenta que, como o caso está em curso, ele não deveria ter sido removido até que uma decisão final seja tomada. 
O ex-presidente da Federação de Badminton, Celso Wolf, foi removido após um processo movido por um ex-treinador alegando irregularidades com as finanças da entidade. O caso também está em andamento, mas o juiz determinou novas eleições e outro presidente foi eleito. 

O COI disse que não vai se envolver diretamente com as denúncias, chamando-os de uma “questão interna” no momento. 
“A Carta Olímpica é destinada a fornecer orientação para os interessados do Movimento Olímpico”, disse o COI em comunicado enviado à AP. “No entanto, qualquer questão específica sobre uma federação nacional deve ser tratada ao nível adequado – as organizações esportivas diretamente competentes as quais se encontra associada, que é o Comitê Olímpico Nacional e a Federação Internacional em causa.” 

As federações internacionais contactados pela AP disseram que estão cientes da situação em curso, mas estão esperando que Justiça do Brasil se pronuncie sobre os casos. 

(*) É formado em Ciências Sociais pela USP. É colunista da Folha de S.Paulo e do UOL 

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