Elio Gaspari (*) para O Globo
Se tudo der certo, Hu passará o governo para Xi Jinping, um engenheiro de 59 anos. Nas últimas semanas a hierarquia do Partido Comunista detonou a estrela ascendente de Bo Xilai, ex-governador de uma das principais províncias do país.
O rolo chinês mostra o vigor da democracia brasileira e e de suas instituições. O sucesso econômico do Império do Meio dá sinais de fadiga e, olhando-se para o jogo político, a coisa piora.
O segredo com que são conduzidas as sucessões chinesas camufla um jogo bruto, às vezes selvagem. O Grande Timoneiro Mao Zedong teve três herdeiros. Um morreu numa enxovia, outro explodiu num avião e o terceiro foi escanteado sem deixar sua marca.
Deng Xiaoping, o pai da China moderna, dispensou um herdeiro, botou o outro em prisão domiciliar e coroou um azarão que, por sua vez, não conseguiu fazer o sucessor.
No início do ano, mesmo quem dava como certa a ascensão de Xi Jinpin, achava que Bo Xilai seria uma novidade no núcleo dirigente do Partido Comunista. Era mais um dos príncipes das dinastias de chefes da revolução comunista. Diferia dos demais porque era um governador enérgico e punha ladrões na cadeia. Isso tudo e mais um toque de nacionalismo e demagogia maoísta.
Desde o tempo de Deng a China tem uma peculiaridade que confunde os observadores, sobretudo os brasileiros. Lá, a facção que defende a redução do Estado simpatiza com a desordem fiscal. Já os estatizantes sustentam a ortodoxia orçamentária. Dependendo do lado pelo qual se olha, são a coisa e seu contrário.
Até o mês passado, o companheiro Bo parecia um Demóstenes Torres 1.0. De repente, o chefe de sua polícia pediu asilo aos Estados Unidos, teve-o negado, pode estar preso e contou sua história, envolvendo o patrão em roubalheiras.
Um inglês que vivia no círculo de poder do príncipe apareceu morto. Teria sido intoxicação alcóolica, mas os amigos dizem que ele não bebia. Era consultor de empresas, protegido por Madame Bo.
Quase todos os hierarcas chineses tiveram familiares associados ao usufruto de Bolsas Consultoria. As da mulher do primeiro-ministro ficavam no ramo dos diamantes.
Os pequenos principes são acompanhados por uma auréola de roubalheiras poucas vezes vista no Brasil. A mulher de Deng Xiaoping casou-se com ele durante a Longa Marcha, formou-se em física, ralou dois ostracismos e aleijaram-lhe um filho durante a Revolução Cultural. Aguentou tudo, mas tentou se matar em 1994, quando outro filho foi denunciado por corrupção.
Por trás da briga de hoje estão rivalidades que remontam aos anos 80, quando o pai de Bo ajudou a derrubar o protetor de boa parte dos mandarins de hoje.
Desde a queda do Demóstenes 2.0, a China foi tomada duas vezes pelos boatos de uma crise política. Daqui a alguns anos vai-se saber o que aconteceu.
• Um bom retrato da confusão chinesa está no artigo “The Revenge of Wen Jibao” (“A vingança de Wen Jibao”), do jornalista australiano John Garnaut.
(*) Jornalista e escritor
Numa época em que o mundo flerta com a disciplina chinesa, vale a pena dar uma olhada na sucessão do presidente Hu Jintao. É duro ler sobre um rolo no qual Wen briga com Bo porque Deng escolheu Zhao, mas é útil, porque nessa sopa de letras está o futuro da segunda economia do mundo e do maior parceiro comercial do Brasil.
Se tudo der certo, Hu passará o governo para Xi Jinping, um engenheiro de 59 anos. Nas últimas semanas a hierarquia do Partido Comunista detonou a estrela ascendente de Bo Xilai, ex-governador de uma das principais províncias do país.
O rolo chinês mostra o vigor da democracia brasileira e e de suas instituições. O sucesso econômico do Império do Meio dá sinais de fadiga e, olhando-se para o jogo político, a coisa piora.
O segredo com que são conduzidas as sucessões chinesas camufla um jogo bruto, às vezes selvagem. O Grande Timoneiro Mao Zedong teve três herdeiros. Um morreu numa enxovia, outro explodiu num avião e o terceiro foi escanteado sem deixar sua marca.
Deng Xiaoping, o pai da China moderna, dispensou um herdeiro, botou o outro em prisão domiciliar e coroou um azarão que, por sua vez, não conseguiu fazer o sucessor.
No início do ano, mesmo quem dava como certa a ascensão de Xi Jinpin, achava que Bo Xilai seria uma novidade no núcleo dirigente do Partido Comunista. Era mais um dos príncipes das dinastias de chefes da revolução comunista. Diferia dos demais porque era um governador enérgico e punha ladrões na cadeia. Isso tudo e mais um toque de nacionalismo e demagogia maoísta.
Desde o tempo de Deng a China tem uma peculiaridade que confunde os observadores, sobretudo os brasileiros. Lá, a facção que defende a redução do Estado simpatiza com a desordem fiscal. Já os estatizantes sustentam a ortodoxia orçamentária. Dependendo do lado pelo qual se olha, são a coisa e seu contrário.
Até o mês passado, o companheiro Bo parecia um Demóstenes Torres 1.0. De repente, o chefe de sua polícia pediu asilo aos Estados Unidos, teve-o negado, pode estar preso e contou sua história, envolvendo o patrão em roubalheiras.
Um inglês que vivia no círculo de poder do príncipe apareceu morto. Teria sido intoxicação alcóolica, mas os amigos dizem que ele não bebia. Era consultor de empresas, protegido por Madame Bo.
Quase todos os hierarcas chineses tiveram familiares associados ao usufruto de Bolsas Consultoria. As da mulher do primeiro-ministro ficavam no ramo dos diamantes.
Os pequenos principes são acompanhados por uma auréola de roubalheiras poucas vezes vista no Brasil. A mulher de Deng Xiaoping casou-se com ele durante a Longa Marcha, formou-se em física, ralou dois ostracismos e aleijaram-lhe um filho durante a Revolução Cultural. Aguentou tudo, mas tentou se matar em 1994, quando outro filho foi denunciado por corrupção.
Por trás da briga de hoje estão rivalidades que remontam aos anos 80, quando o pai de Bo ajudou a derrubar o protetor de boa parte dos mandarins de hoje.
Desde a queda do Demóstenes 2.0, a China foi tomada duas vezes pelos boatos de uma crise política. Daqui a alguns anos vai-se saber o que aconteceu.
• Um bom retrato da confusão chinesa está no artigo “The Revenge of Wen Jibao” (“A vingança de Wen Jibao”), do jornalista australiano John Garnaut.
(*) Jornalista e escritor
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