sábado, 7 de abril de 2012

07/04 - Dia do jornalista

Uma singela homenagem do blog a todos os jornalista através do jornalista Lúcio Flavio Pinto e esse texto de Sandro Vaia. Parabéns jornalistas e por favor continuem nessa luta em fazer com que o povo saiba um pouco mais a respeito do mundo. 

Lúcio Flávio e o jornalismo 

Sandro Vaia (*) 

Sandro Vaia
Lúcio Flávio Pinto é um jornalista moderno às antigas.Não seria difícil imaginá-lo com as viseiras dos épicos jornalistas de cinema. 
Não seria caricatura compará-lo ao mr.Peabody de “O homem que matou o facínora” e imaginá-lo dizendo a qualquer um dos responsáveis pelos 33 processos abertos contra seu jornal: - O senhor está tomando liberdades com a liberdade de imprensa.

Lúcio Flávio sozinho é um jornal. Chama-se “Jornal Pessoal” e desde 1988 sai a cada 15 dias em Belém do Pará, a sua terra. Tem 12 páginas, não publica fotos nem infográficos, nao tem anunciantes, é só texto, normalmente um texto preciso, implacável, exato , que não brinca com fatos. É jornalismo puro e duro. É vendido nas bancas e custa 3 reais. 

Sua pauta permanente é a defesa da Amazônia contra a depredação ambiental, o tráfico de matéria prima, os negócios escusos, as transações suspeitas. 

Lúcio Flávio Pinto
Lúcio Flávio, que ganhou 4 prêmios Esso e escreveu vários livros sobre a Amazônia, foi repórter da revista “Realidade” e correspondente dos jornais “Correio da Manhã” e “O Estado de S.Paulo” quando eles ainda tinham aspirações a uma cobertura intensa da vida real em todo o território nacional. 

Coordenou uma rede de correspondentes na região da Amazônia e chegou a planificar a criação de uma sucursal amazônica do Estadão antes que os grandes jornais se rendessem às limitações contábeis e sacrificassem a sua qualidade deixando-se abater na guerra do custo/benefício.
Trabalhou durante algum tempo no jornal “O Liberal”, de Belém, até perceber que a única maneira viável de manter a sua independência era fazer seu próprio jornal. 

De 1988 para cá, Lúcio Flávio Pinto sofreu 33 processos, sendo condenado em 4 deles. Embora já tenha sido chamado de quixotesco diversas vezes, essa é uma definição imprecisa. 

Quixotes arremetem contra moinhos de vento, e este não é o caso de Lúcio Flávio. Ele arremete contra entidades, pessoas e instituições bem reais que agem contra a Amazônia e não o faz com lanças, mas com a narrativa precisa e cortante dos fatos que ele expõe em seus textos. Lúcio Flávio não é um fabulador, é um repórter. 

E por que estamos falando de Lúcio Flávio agora? 

Em 1999, ele publicou em seu jornal uma denúncia de que o empresário paranaense Cecílio Rego Almeida, dono da construtora C.R. Almeida, estava grilando quase cinco milhões de hectares de terra no vale do Xingu (toda a história está aqui). 
Ele foi processado por Rego Almeida (o processo foi mantido apesar da morte do autor, em 2008), não pela denúncia em si, mas por tê-lo chamado de “pirata fundiário”. 

O processo chegou ao STJ e ele pode ser condenado por “erros formais” na apresentação de sua defesa, apesar de não ter publicado nada além da verdade comprovada. 
Lúcio Flávio não é um partido, uma corporação, uma organização, uma entidade, uma patota. É um jornalista cuja dignidade e independência precisam ser preservadas para que a sobrevivência da liberdade de expressão não seja colocada em risco. 

Nada menos do que isso: neste momento, Lúcio Flávio é o jornalismo. 

(*) Jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez. E.mail: svaia@uol.com.br

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