Senão fôsse o S.Raimundo

Tem o que elogiar?

Antenor Pereira Giovannini (*)

“Antenor, você reclama demais "!!!! Ouvi de um amigo essa frase. 

Exatamente por conta de tudo que escrevo em relação a nossa cidade. Minha resposta foi com outra pergunta: “Mas a gente tem o que elogiar, afora o São Raimundo? 

O amigo apenas sorriu como que concordando. Já embalado na resposta fui colocando uma terceira marcha e esclarecendo que " aprendi a amar esta terra desde o dia que aqui cheguei, há quase oito anos. Tive a honra e o privilégio, sem fazer absolutamente nada pela cidade, de receber o titulo de Cidadão Santareno. Titulo que muito me orgulha e, paradoxalmente, também me envergonha por nada ter feito pela cidade enquanto outros, nascidos aqui, fizeram infinitamente mais do que eu e não tiveram ainda esse privilégio. 

Fui recebido pelo meu RG e não meu pelo CPF e muito menos pelo título que naquela altura trazia na testa que era o de ser gerente de uma grande empresa que recém se instalara na cidade. Coisa que me deixou extremamente envaidecido. 

Aqui me instalei, aqui tive a honra e a dádiva por Deus de ser novamente pai aos 55 anos, aqui me aposentei e aqui resolvi terminar meus dias. Não há como ficar quieto e passivo ao ver a cidade que escolhi sendo abandonada e ultrajada por tudo o que se observa a cada dia.”.

Dificuldades, todas as cidades de nosso país possuem. 

Dos meus quase 40 anos de trabalho, andei 28 anos por este país em cidades ou vilarejos infinitamente menores do que Santarém, mas com um espírito progressista, com vontade de crescer, se desenvolver e, principalmente, se realizar economicamente. 

Ao contrário das demais, nossa cidade nesses quase oito anos que aqui estou ao invés de avançar, retrocedeu, regrediu.. Se novas empresas chegaram, outras em número muito maior deixaram a cidade ou fecharam as portas, e com isso inviabilizaram a geração de novos empregos e principalmente aumento de receitas. 

É visível o abandono pelas ruas esburacadas, as calçadas ocupadas, a poeira por toda cidade, lixo espalhado por vários pontos, arvores cortadas e jogadas nas ruas, orlas com todo tipo de lixo, e nenhum esforço das autoridades competentes para mudar esse quadro, eternamente escondidas por trás da desculpa de que não há verbas. 

Vereadores omissos, secretários preocupados com suas futuras carreiras e a prefeitura andando em ziguezague como querendo transferir essa situação pelo fato de ter tido uma ausência forçada por determinação judicial. 

Não temos um Código de Postura. Inúmeras obras em toda cidade construídas de forma irregular. Não temos uma hidroviária, mesmo sendo desde a sua fundação uma cidade ribeirinha. Não brigamos para ter acesso rodoviário para qualquer parte inclusive para nossa capital. Nossa agricultura é ridícula e continuamos importando 400 toneladas de alimentos por mês.

É uma grande a vergonha ter que expor isso tudo a visitantes conhecidos ou desconhecidos. Afora isso tudo, junto com as nossas belezas naturais, temos que mostrar aos que buscam a cidade, um pseudo-turismo em que o atendimento, com raras exceções, deixa a desejar e muito. Os preços são extorsivos e a infra-estrutura é limitada. . Divulgar festas tradicionais e levar visitantes e turistas até elas é sinônimo de passar vergonha. 

Encontra-se de tudo, desde a desorganização até a total falta de respeito. Homens urinando nas portas dos eventos, falta de estrutura para acomodação básica, e barraquinhas de todos os tipos emporcalhando o local que acaba se cercando de bêbados e gangueiros. 

Quem quer retornar? Quem retorna a um local onde é mal tratado? Quem retorna a um local em que é explorado?

Pois é, meu amigo, desculpe, mas hoje a única coisa a elogiar é o São Raimundo que com as mesmas dificuldades que afligem a cidade, conseguiu com esfôrço, dedicação, luta, tenacidade, se superar,sem dinheiro, vencer e ser campeão. 

A cidade não poderia imitá-lo e, quem sabe, também não seria campeã?.

Por isso eu pergunto tem o que elogiar?

(*) Aposentado e morador em Santarém