segunda-feira, 9 de novembro de 2009

E tudo isso aconteceu ...

Extraido do site da Federação Nacional dos Policiais Federais (FENAPEF) http://www.fenapef.org.br/fenapef/noticia/index/25126



Constrangimento
Troféu da vergonha para os policiais federais »
Por: Josias Fernandes Alves(*)


Para ser muito complacente, a notícia sobre os patrocinadores do 4º Congresso Nacional de Delegados de Polícia Federal trouxe, no mínimo, vergonha e constrangimento aos policiais federais que se preocupam com a própria imagem profissional e a da instituição.
Dos cinco patrocinadores do evento, realizado em Fortaleza, entre os dias 3 e 6 de novembro, pelo menos três já foram (ou são) alvos de investigações feitas pela Polícia Federal: Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Caixa Econômica Federal (CEF) e Petrobras.
O presidente da entidade promotora do congresso, a Associação dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), o delegado Sandro Avelar, em declaração ao jornal “Folha de S. Paulo” (07/11/09) não viu “nenhum conflito de interesses” na ajuda financeira.
A manchete da reportagem publicada pela “Folha” induz o leitor a pensar que foi um evento oficial da PF:  “Investigados patrocinam encontro da Polícia Federal” (pág. A4). Apesar do equívoco, a confusão do redator do título é compreensível. Além de outros dirigentes, o diretor-geral da PF, Luiz Fernando, Correa estava presente no encerramento do evento.
Mais surpreendente que o rol de patrocinadores investigados pela PF e a indiferença do presidente da ADPF quanto ao evidente conflito de interesses foi escolha do homenageado pelos organizadores.
O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, recebeu dos delegados da PF um troféu, “por sua contribuição no debate sobre as expectativas para a Copa de 2014”, de acordo com a nota divulgada no site da própria CBF. Por coincidência, a entidade bancou a maior cota do patrocínio do evento, de R$ 300 mil.
No congresso dos delegados federais - cujo tema foi “a Polícia Federal como instrumento de combate à impunidade” – as transações financeiras da CBF e os negócios particulares Ricardo Teixeira poderiam servir como emblemático estudo de caso, para discussão do tema do evento.
As 229 páginas do volume II do Relatório Final da Comissão Parlamentar de Inquérito, criada em 2000, pelo Senado Federal, com a finalidade de investigar fatos envolvendo as associações brasileiras de futebol detalham as investigações e as evidências em relação à CBF e seus dirigentes. O documento está disponível no 


Aos interessados, outra leitura imprescindível para conhecer um pouco melhor a entidade presidida pelo homenageado da ADPF é o livro “CBF/Nike: o lado oculto dos grandes negócios da cartolagem” (Ed. Casa Amarela, 2001). Os autores são o ex-ministro de Coordenação Política e deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB/SP), presidente da CPI CBF/Nike e o deputado federal Silvio Torres (PSDB/SP), relator dessa CPI e um dos principais críticos de Ricardo Teixeira e do projeto de gestão da Copa do Mundo-2014.
Em respeito aos demais policiais federais e à reputação que a PF goza perante a sociedade brasileira, os delegados federais – que se intitulam dirigentes do órgão – têm por dever zelar pelo nome da instituição. E não têm o direito de ser tão ingênuos ou mal informados sobre o histórico de seus parceiros comerciais.
Afinal, ao pedirem patrocínio financeiro para um evento voltado a uma classe, ainda que indiretamente, usam o nome da PF como atrativo. Se não é ilegal, com certeza é imoral pedir ajuda a pessoas físicas e jurídicas investigadas.
Não é admissível que uma entidade com interesse direto em um (ou mais de um) inquérito policial financie congressos, cursos, seminários, confraternizações ou qualquer outro evento, em que os participantes sejam os responsáveis pela investigação contra ela.
O patrocínio dos delegados da PF é tão aético quanto o daquele encontro de juízes do trabalho, ocorrido em abril deste ano, na Bahia, bancado pela Federação Brasileira de Bancos. O fato também foi denunciado pela “Folha de S. Paulo”, dentre outros.
Nem precisa ser delegado para deduzir que essa promiscuidade gera questionamentos razoáveis sobre possíveis intenções escusas de investigados/patrocinadores, além do retorno de marketing proporcionado evento.
Se não possuem recursos suficientes para organizar seus congressos, os delegados deveriam – pelo menos – ter critérios e bom senso na escolha de financiadores e homenageados. Num exemplo hipotético, o que diriam se o delegado Protógenes Queiroz pedisse ao banqueiro Daniel Dantas que financiasse sua eventual campanha eleitoral?
Aos policiais, assim como fiscais, juizes e outros servidores públicos, tal a mulher de César, não bastam ser honestos. Devem parecer honestos.
Por essas e outras, que a Federação Nacional dos Policiais Federais, em seus quase 20 anos de existência, tem evitado pedir e aceitar patrocínios financeiros para realização de seus congressos, seminários e encontros. Muito menos de instituições e pessoas investigadas. Foi assim no último evento, realizado em Brasília, em julho, o seminário “Reflexão sobre a investigação brasileira através do inquérito policial”, pago com recursos dos sindicatos e sindicalizados, através de suas contribuições.
Os vários policiais federais discriminados, perseguidos ou arrolados em procedimentos disciplinares, pelo simples fato de expressarem publicamente opiniões e críticas, devem estar se perguntando quais medidas serão tomadas para apurar tais fatos, que provocaram escândalo e certamente comprometem a função policial.
A situação embaraçosa dos policiais federais pode ser resumida na frase irônica do jornalista esportivo Juca Kfouri, em seu blog, no título da nota sobre a pisada na bola da homenagem da ADPF ao presidente da CBF: “Fala a verdade: não é maravilhoso?”

(*) Agente de Polícia Federal, formado em Jornalismo e Direito, é Tesoureiro do Sinpef/MG e Diretor de Comunicação da FENAPEF. josiasfernandes@hotmail.com


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