Eliane Cantanhêde (*)
Renan Calheiros, presidente do Senado, e Henrique Eduardo Alves, presidente da Câmara, têm muito em comum.
Os dois são do PMDB, partido do vice-presidente da República, Michel Temer. Vêm de Estados menores, Renan de Alagoas e Henrique do Rio Grande do Norte. Estão às voltas com o Ministério Público por práticas públicas heterodoxas.
São também parlamentares muito experientes, que conhecem cada canto e cada segredo do Congresso e ascenderam a cargos nacionais sendo essencialmente políticos regionais, que poderiam ser de São Paulo, do Rio ou de qualquer outro Estado, mas sempre com teto regional.
Com suas denúncias e processos, causam constrangimento na relação do Legislativo com o Judiciário? Dane-se. Vão ser duros nas negociações com o Executivo? Todo mundo sabia.
Ambos, enfim, são políticos que têm mais importância dentro do Congresso (ou seja, para seus pares) do que fora (para a opinião pública).
Por isso, convém ouvir e ler com cautela os discursos de ontem dos dois novos presidentes. Renan, por exemplo, fez um belo discurso em que se comprometeu com as reformas política e tributária (?!) e destacou as boas intenções e ações dos homens públicos e do Legislativo.
Citou duas vezes "patriotismo", falou no empenho pela "democracia social", conclamou a "união de todos pelo bem comum", pediu a "bênção de Deus" e encerrou desdenhando: "as miudezas, para os pequenos".
Falou, portanto, para a opinião pública. Não se engane, porém. Renan e Henrique vão falar para "fora", como o cargo institucionalmente exige, mas agindo para "dentro", como a experiência de ambos dita.
Caberia o velho ditado: "Faça o que eu digo, não faça o que eu faço". Mas não naquela tribuna, onde todos falam o que queremos ouvir e fazem o que querem fazer. As vitórias e expressivas votações de Renan e Henrique comprovam isso sobejamente.
(*) Jornalista, é colunista da Foha de São Paulo
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