terça-feira, 10 de abril de 2012

Será que o Brasil vai tirar como exemplo???

O ‘legado’ de Pequim-2008  

O Globo 

Ninho de Pássaro
Considerada a maior Olimpíada da história, os Jogos de Pequim-2008 surpreenderam o mundo por sua grandiosidade e seu custo: US$ 34 bilhões, em valores de 2008 — hoje, cerca de R$ 61,8 bilhões. Quatro anos depois, embora seja possível notar melhorias substanciais no transporte público e na infraestrutura da capital chinesa, as instalações construídas para o megaevento estão subutilizadas ou abandonadas, drenando as finanças públicas. 

Descritos pelo presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Jacques Rogge, como arenas "lindas" e "sem precedentes", o Ninho de Pássaro (sede de futebol e atletismo) e o Cubo D’Água (esportes aquáticos) são exemplos claros dos famigerados elefantes brancos em que se tornaram os locais de competição, apesar de, pelo menos nos dois casos, serem arquitetonicamente deslumbrantes. Consideradas as "joias da coroa" são, hoje, mais conhecidas por atrair uma onda de turistas curiosos — cerca de 4,61 milhões de visitantes em 2011 — do que por sediar grandes eventos esportivos. 

Em 2009, o Ninho de Pássaro recebeu a Corrida dos Campeões, que reuniu o heptacampeão Michael Schumacher e o inglês Jenson Button, entre outros. No ano passado, o estádio foi palco da decisão da Supercopa da Itália, entre Milan e Internazionale. Também abrigou o primeiro rodeio da China e um parque temático "maravilhas do inverno", além de espetáculos. 

A administração do estádio estima que, no ritmo atual, serão necessárias três décadas para recuperar os 3 bilhões de iuanes (US$ 480 milhões) gastos na construção. O Ninho de Pássaro tem 80 mil lugares. ....Instalações abandonadas ////Já o vizinho Cubo D’Água teve prejuízo de cerca de 11 milhões de iuanes (R$ 3,17 milhões) no ano passado, mesmo com contínuo subsídio do Estado. A instalação, que não mais recebe eventos esportivos, foi transformada em um parque aquático, o maior da Ásia, com o objetivo de fazer dinheiro com a fama do local. 

— O custo para construir os locais dos Jogos Olímpicos foi substancial, mas os organizadores falharam ao não considerar de forma geral como usar os espaços após as Olimpíadas — disse o editor-chefe de esportes do NetEase Media Group, Yan Qiang. — Eu acho que Pequim tem um problema grave para resolver. 

Em outros locais menos badalados, a situação é ainda pior. A instalação onde foram disputadas as provas de canoagem, por exemplo, está completamente abandonada: o que restou de água no local estava sendo transposto por um grande tubo para irrigar um parque nas cercanias durante a primavera seca de Pequim. A sede do remo, localizada em um subúrbio de difícil acesso no nordeste de Pequim, agora é ocupada principalmente por pequenos barcos locais. Nenhum dos esportes é bem conhecido na China, o que explica parcialmente o abandono. 

Alguns locais olímpicos, como o do tênis de mesa e das lutas, foram construídos dentro de universidades. 
— Eles ganharam estas instalações enormes, mas não tinham nenhuma experiência em gestão de eventos, nem permissão de receber qualquer coisa do tipo antes dos Jogos Olímpicos — explicou Susan Brownell, professora de antropologia e especialista em esportes chineses na Universidade de Missouri/St. Louis. — Depois que os Jogos acabaram, eles tiveram que partir do zero. 

Receio de aglomeração 
Para tornar tudo mais complicado, na China controlada pelo Partido Comunista há a preocupação em agrupar grandes multidões. E o receio é ainda maior com a tensa disputa na troca de poder, que acontece a cada dez anos, prevista para o segundo semestre de 2012. 

— Para realizar um grande evento esportivo, você precisa colocar milhares de pessoas juntas, e isso é uma assembleia pública. Na atual atmosfera política, há muito medo de grandes assembleias públicas — esclareceu Brownell. 

A cidade continua envolta em uma fumaça asfixiante, mesmo após o fechamento de fábricas poluentes. Onde antes havia orgulho por ter sediado os Jogos Olímpicos, especialmente após o país liderar o quadro de medalhas em 2008, agora há críticas e duros questionamentos. 

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