Eliane Cantanhêde (*)
A Comissão de Ética Pública recomenda oficial e publicamente que o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, seja exonerado depois de uma série de irregularidades, de mentiras e de falta de compostura ("Eu te amo, Dilma!").
A presidente da República dá de ombros, desautoriza a comissão e mantém o ministro, apesar de tudo.
O que pode se concluir de tudo isso?
Que a comissão não vale nada nem para nada e que a presidente foi turrona, bateu pé e manteve a decisão já tomada de "não ceder às pressões", seja da imprensa, seja de quem for, para subir a estatística de quedas de ministros para o cabalístico 7.
A novela, porém, não está encerrada. Espera-se, agora, saber como o partido do ministro, o PDT, vai reagir, como os integrantes da comissão de ética vão reagir, como o Congresso vai reagir e que conclusões a opinião pública vai tirar.
Só para lembrar, Lupi entrou na berlinda porque o Ministério do Trabalho é suspeito de pagar propina para ONGs, de liberar verbas para ONGs encrencadas, mesmo depois de pareceres contrários do próprio governo, e de desviar dinheiro para os bolsos partidários.
Enquanto se apurava a história, o próprio Lupi cometeu vários erros de caráter ético: disse que não tinha viajado num jatinho de empresa comprometida e aí surgiu a foto; disse que não conhecia o empresário comprometido e aí o cara contou que estava até no avião. E, no fim, apareceu até filme de jatinho, empresário e ministro, na maior alegria.
Agora, a Folha revela que Luppi não era apenas funcionário fantasma, mas duplo funcionário fantasma, ganhando da Câmara em Brasília e da Câmara Municipal no Rio para não fazer nada.
Se nada disso é questão ética, o que mais seria?!
É fácil para a Comissão de Ética explicar por que pediu a exoneração de Lupi. Mas é improvável que a presidente Dilma Rousseff consiga explicar por que deu de ombros para o pedido e manteve o ministro.
(*) Jornalista é colunista da Folha de São Paulo e da Folha.com
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