Murillo de Aragão (*)
A questão de Belo Monte traz de volta a mesma e velha situação. Algumas celebridades em busca de boas causas disparam a dizer besteiras alimentadas por fontes tendenciosas. É o irresistível bom-mocismo que assola nossa sociedade.
O que é o bom-mocismo? É o desejo de ser sempre politicamente correto, falar o que deve ser falado e defender boas causas, ainda que estas não sejam verdadeiramente boas. Tudo porque o julgamento sobre temas sérios é superficial, rasteiro, de baixa reflexividade e, muitas vezes, direcionado para agradar.
Certa feita, estudante de direito, fui assistir a uma palestra de um cara legal da OAB do Rio. Quase que emocionado, ouvi o dito cujo dizer que o direito era uma questão de pele. A gente podia sentir na pele o bom direito. O cara estava criando um novo tipo de direito: o direito tátil!
Dizia ele que poderíamos sentir na pele se o tema era justo ou injusto. Pois bem, a usina de Belo Monte é um desses casos: basta ler uma manchete sobre ela para ficar contra. É muito fácil. Sentimos na pele!
Afinal, o tema traz índios, matas, rios e fauna. Utilizando-se de outro mecanismo típico do raciocínio rasteiro, “não é possível” que a obra seja boa coisa!
É muito fácil, confortável, politicamente correto ser contra. Difícil é fazer o dever de casa e estudar a fundo a questão. Saber qual seu impacto, de fato, e, ainda, saber quantas pessoas vão ser realmente atingidas. É difícil, sobretudo, livrar-se dos falsos bons-moços e da patrulha de fanáticos e tentar endereçar racionalmente a questão.
É evidente que, para as algumas celebridades, cuja especialidade é fazer caras e bocas e fingir que dizem coisas inteligentes, estudar e adentrar o tema com seriedade não vem ao caso. O “legau” é ser contra as grandes empresas, os grandes projetos, o grande capital. Independentemente do que o projeto de fato represente para o futuro do país.
A revista Veja de algumas semanas atrás foi brilhante ao desmascarar os “bons-moços e moças” da campanha contra a Usina de Belo Monte. Na reportagem, universitários se dedicaram a destruir com fatos e dados científicos os argumentos fracos, pueris e tendenciosos de algumas celebridades.
Tal qual na época do debate em torno da transposição do rio São Francisco, quando critiquei os argumentos bobocas de artistas que são contra a obra, vejo a situação de Belo Monte do mesmo ângulo. É claro que a obra de Belo Monte é um tema sensível e ambientalmente polêmico. Justamente por isso, deveria receber um tratamento estratégico quanto às explicações de sua necessidade para a sociedade.
O governo e os demais interessados na obra têm sido incompetentes ao se comunicarem e não têm conseguido explicar a nossos formadores de opinião o real impacto de sua execução. Não é de hoje que erram nesse campo. Batalhas na esfera pública são perdidas no campo da comunicação.
Belo Monte sofre de muitos males. Além da luta contra a nossa monumental incompetência burocrática e contra a tendência para sobrevalorizar custos, o futuro da obra está sendo prejudicado pelo desequilíbrio no debate sobre a sua real necessidade e importância para o país. Não deveria ser assim.
(*) Advogado, Jornalista e Cientista Político
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