Jornal da Tarde de SP
O hormônio estrogênio tem efeito vasodilatador nas artérias do cérebro e pode melhorar a memória em mulheres que estão na menopausa. O efeito vasodilatador do estrogênio já havia sido demonstrado em artérias do útero e do ovário, mas não nas do cérebro.
Esses resultados, encontrados por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), podem abrir perspectivas para o tratamento de doenças neurovegetativas ligadas à memória, como o mal de Alzheimer.
O coordenador da pesquisa, Selmo Geber, lembra que as falhas de memória são queixas frequentes entre as mulheres que entram na fase do climatério. “O problema costuma melhorar após a reposição hormonal. Uma das teorias é a de que o estrogênio melhore a vascularização do cérebro e, consequentemente, as funções cognitivas”, afirma.
Participaram do estudo, publicado recentemente pela revista Menopause, 51 mulheres, com média de idade de 53 anos. As voluntárias foram divididas em dois grupos: um recebeu placebo e outro, comprimidos de estrogênio durante um mês.
Antes e depois do tratamento, um aparelho de ultrassom acoplado ao sistema Doppler – capaz de medir a velocidade do fluxo sanguíneo – foi usado para avaliar a artéria central da retina, atrás dos olhos. Nas mulheres que receberam placebo, não houve alteração.
Nas que tomaram estrogênio, a artéria estava dilatada, menos resistente e com maior fluxo de sangue. Esse efeito vasodilatador havia sido demonstrado em artérias do útero e do ovário, diz Geber. Segundo ele, a artéria central da retina foi escolhida por refletir tudo que ocorre no cérebro – além de ser uma das poucas não escondidas pelos ossos do crânio.
A neurocientista Débora Scerni, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), afirma que o estrogênio é importante para o sistema nervoso. “Algumas estruturas fundamentais para aprendizado e memória, como é o caso do hipocampo, apresentam grande concentração de receptores para estrógeno”, explica.
O hormônio, avalia Débora, aumenta a quantidade de estruturas conhecidas como espinhos dendríticos, que melhoram a comunicação entre os neurônios (células cerebrais) e, assim, melhoram a cognição. “Estudos mostram que a reposição hormonal pode prevenir ou retardar o desenvolvimento de Alzheimer.
Mas o estrógeno não pode ser usado indiscriminadamente, pois ele também pode aumentar o risco de acidente vascular cerebral (AVC) e de outras doenças, como o câncer.”
Para Sheila Martins, da Academia Brasileira de Neurologia, embora existam evidências de que o estrogênio possa retardar problemas de memória nas mulheres, elas ainda não são conclusivas. “A reposição hormonal diminui a angústia das pacientes e isso pode se refletir em uma melhora da memória por aspectos psicológicos.”
Sheila lembra ainda que existe a suspeita de que o hormônio, embora dilate as artérias, também aumente a viscosidade do sangue, fazendo com que ele tenha mais dificuldade para circular. “São necessários mais estudos para comprovar até que ponto seria seguro fazer a reposição”, acredita.
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