quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Clovis de Mello

Renato Gomes Nery (*)


Após um longo período de idas e vindas ao hospital, este homem surpreendente, nos faz a última surpresa, com a sua morte na tarde de ontem.


Ficamos imaginando sobre os desígnios do Criador e nos lembrando de uns versos de infância: “Da morte ninguém escapa, nem o bispo e nem o papa. Escapo eu que sou pequenino...” Só que os pequeninos crescem e a natureza segue seu ciclo implacável: nascer, crescer, amadurecer e morrer.


Os mistérios da morte são insondáveis, mas a vida pode ser plena quando o homem é Clóvis de Mello. Conhecemos-nos pessoalmente quando em lado opostos assumimos a Presidência do Conselho de OAB/MT e ele era membro do Conselho indicado e eleito pelo Instituto dos Advogados do Estado do Mato Grosso. Sempre pronto e eficiente nas tarefas que lhe eram acometidas. Transformou em nosso conselheiro pessoal nas questões mais complexas.


Tinha na época uma longa experiência profissional, pois já era Juiz Federal aposentado e nós meros aprendizes de advogado e da vida. Queríamos mudar o mundo como se isto fosse possível.


Um dos seus grandes feitos, na OAB/MT, foi o ter elaborado o primeiro anteprojeto de criação de inúmeras Juntas de Conciliação, em diversas localidades do Estado, com vistas à criação do Tribunal Regional do Trabalho, em Mato Grosso, que era previsto na Constituição/1988.


O nosso relacionamento estreitou-se quando fomos Conselheiros do OAB, em Brasília, representando o Estado do Mato Grosso. Em longas conversas no aeroporto de Brasília, tomando uma brahma ou uma vitamina antártica, como ele se jactava em dizer.


Presidente da Academia Mato-grossense de Letras por duas vezes, onde imprimiu nova dinâmica. Tribuno irretocável, professor emérito de inúmeras gerações, jurista de escol e advogado de renome. Tinha sempre uma orientação precisa para todos da área jurídica que o procuravam, com os mais variados casos. Além disso, era um pai exemplar e um arrimo moral de toda a sua família. E a sua alma de pomba, se plasmou nas suas primeiras internações, quando Dona Vilma, sua esposa, estranhou umas visitas de pessoas humildes que ela não sabia que ele ajudou ou ajudava.


Morre desta forma um homem honrado e de caráter irretocável, numa época em que o Poder Judiciário – onde ele fez escola - sofre um desgaste nunca visto, por que os desvios de conduta que este Poder tenta convalidar põem em risco as nossas instituições e leva a reboque os pilares da nossa incipiente democracia.


Que o seu exemplo seja perene e não nos deixe fraquejar, servindo de esteio para que continuemos a cultuar e preservar os valores morais e cristãos da nossa formação. E que, apesar da esbórnia moral em que vivemos, temos a responsabilidade de passar aos nossos descendentes um mundo melhor e mais digno. E temos certeza que este homem, como Irene, já entrou no Céu sem pedir licença.


(*) Advogado em Cuiabá.

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