sábado, 14 de novembro de 2009

Eleições 2010


Síndrome da bala de prata
Kennedy Alencar (*)

O ministro dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, disse que o PT ficou sem agenda na eleição presidencial de 1994. Em entrevista ao programa "É Notícia", da RedeTV!, Vannuchi reconheceu que o Plano Real atendia com perfeição à principal necessidade da sociedade brasileira: acabar com a alta inflação que afetava principalmente os mais pobres e que impedia a articulação de políticas públicas minimamente eficientes.
O então candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, que chegara a ter mais de 40% nas intenções de voto, ficou sem discurso. Ao viajar pelo país, Lula ouvia uma simples pergunta: "E o Real?". Para piorar as coisas, o PT decidiu ficar contra o plano, dizendo que teria efeito temporário só para ganhar as eleições. O Real deu a vitória ao tucano Fernando Henrique Cardoso, mas o efeito permitiu ao Brasil dar o passo mais importante em sua história recente para melhorar a vida de seu povo. A partir dali, a economia se organizou.

A um ano da sucessão presidencial de 2010, a oposição a Lula está em situação semelhante à do PT de 1994. O governo petista conseguiu implementar uma série de políticas que atendem ao principal interesse da população. Temos um mercado interno vigoroso, que vem crescendo a cada ano e que virou o principal motor da economia. 
Há uma ampla rede social que protege os mais pobres como nunca antes na história deste país. A alta valorização do real em relação ao dólar preocupa setores importantes da indústria, mas a economia como um todo se encontra longe do desarranjo dos tempos inflacionários.
Enfim, está difícil para a oposição encontrar um discurso para convencer o eleitor a votar no candidato dela a presidente e não na candidata que Lula pretende apresentar em 2010, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. 
As pesquisas atuais devem ser vistas com reserva. 
Refletem muito a taxa de conhecimento dos candidatos, e a maioria dos entrevistados responde que ainda não decidiu o voto para valer.

Nesse contexto, a oposição sofre de uma espécie de síndrome da bala de prata. PSDB e DEM parecem aguardar que um raio derrube a popularidade de Lula e, por extensão, a chance de vitória de Dilma em 2010. Foi assim no mensalão, quando a oposição avaliou que o sangramento político do presidente asseguraria a vitória em 2006.
No segundo mandato do petista, no qual surgiram menos tropeços do que no primeiro governo, a oposição apostou no caso Lina Vieira, na crise do Senado e na crise econômica internacional. Agora, houve um apagão elétrico em 18 Estados que deixou pilhados o PSDB e o DEM. A ansiedade da oposição em tirar dividendo político do episódio descortinou certo grau de desespero.
Esse desejo da aparição de uma bala de prata para derrotar o PT foi sintetizado numa frase do líder do DEM na Câmara, o deputado federal Ronaldo Caiado (GO). 
Ele afirmou: "Dizem que Lula elege até poste. Será que elege poste apagado?".

Ok. Cumprindo seu papel, a oposição busca associar Dilma ao apagão. 
Afinal, ela foi ministra das Minas e Energia durante dois anos e meio e declarou faz apenas alguns dias que um apagão estava fora de cogitação. 
Como principal gestora do governo, ela tem de dar respostas sobre o episódio. 
A estratégia amadora de escondê-la na quarta-feira, dia seguinte ao apagão, pegou mal. 
Na quinta (12/11), ela falou. A ministra tem razão ao diferenciar o blecaute de terça do racionamento de 2001. No entanto, erra ao dar o caso por encerrado. 
A fragilidade da rede de emergência e a extensão do blecaute mostram que pode haver alguma problema maior numa área sob sua influência direta.
Também é um erro a oposição depositar esperanças demais numa bandeira única, numa bala de prata. Pode resultar num apagão de ideias.
Lula não chegou ao poder porque aconteceu o apagão de 2001. Aquele apagão, com irritante racionamento de energia por tempo prolongado, bem diferente do blecaute desta semana, foi uma das razões que fizeram FHC terminar o governo sem força para fazer o sucessor em 2002.

Mas havia outros problemas: repique inflacionário, baixo crescimento econômico durante anos e uma política social para lá de tímida quando comparada com a de hoje. 
Havia também a esperança de um futuro melhor que a campanha de Lula corretamente despertou nos eleitores.
Obviamente, será preciso investigar mais as causas do apagão desta semana. 
É evidente que existe uma fragilidade no sistema elétrico. 
Se o episódio voltar a se repetir com a mesma intensidade e alguma frequência, o governo, Lula e Dilma perderão força política. 
E a oposição terá um flanco a explorar. Dizer isso é chover no molhado.
No entanto, para ganhar uma eleição presidencial de um governo popular, será preciso que a oposição construa uma agenda bem mais ampla e crível para o eleitorado. 
Apostar numa eventual bala de prata não demonstra inteligência suficiente para encontrar tal agenda.

(*) Colunista da Folha Online e repórter especial da Folha de São Paulo em Brasília

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