Por vantagem, brasileiro se arrisca na internet
Estudo mostra que maioria dos internautas não se incomoda em divulgar informações pessoais na web se isso resultar em benefícios como descontos em compras e acesso a serviços. Mas sabem que assim ficam sujeitos a fraudes
A maioria dos internautas brasileiros está disposta a informar dados pessoais na internet - e correr riscos por isso - desde que receba algum benefício em troca, seja poder efetuar uma compra eletrônica, parcelar um pagamento, participar de promoções e sorteios ou acessar serviços governamentais.
O usuário, entretanto, sabe dos perigos a que está sujeito. É o que mostra uma pesquisa realizada com 600 internautas brasileiros pela Nokia Siemens Networks. O levantamento revela que ser vítima de fraudes bancárias, receber uma cobrança por compras nunca feitas e ver seus dados serem usados para outros fins são os maiores medos de quem fornece informações pessoais na rede. Mesmo assim, eles analisam o perigo e concluem que vale a pena.
O estudo da Nokia Siemens dividiu os internautas brasileiros em três perfis: os ‘temerosos’, os ‘não envolvidos’ e os ‘seletivos’ (veja ao lado). O último grupo corresponde a 53% do total. “A principal distinção que pode ser feita entre os perfis é que os seletivos são mais habilidosos que os outros ao avaliar os potenciais benefícios e calcular os riscos”, destaca Diego Rodriguez, chefe de gerenciamento de soluções da Nokia Siemens Network.
O problema é que hoje em dia é difícil estabelecer a equação risco x benefício na internet. Primeiro, porque as vantagens conquistadas ao fornecer dados pessoais são cada vez mais interessantes. Afinal, na era da informação, conhecer bem seu público é algo primordial para as empresas - e elas sabem retribuir quando o consumidor lhe dá esse privilégio.
Não é mais necessário comprar produtos, juntar rótulos, responder perguntas. O simples preenchimento de um cadastro no site de uma empresa pode credenciar o internauta a concorrer a casa, carro, telefone, aparelho eletrônico. Não raro, ele tem direito a descontos nas compras.
Também serve para que o consumidor receba uma comunicação direta da empresa, alertando sobre lançamentos ou liquidações. Em outros casos, o cadastro é rota obrigatória para acesso a serviços governamentais e também para o parcelamento no comércio eletrônico.
Os benefícios atraem, os riscos assustam. “O Brasil faz parte da elite mundial em formação de mecanismos para violação de privacidade na internet”, ressalta Eduardo D’Antona, diretor da Panda Security, informando que o País fica atrás apenas de Rússia e Coreia do Norte nesse ramo. “Da oferta de antivírus falsos gratuitos à falsificação de sites renomados, os criminosos fazem de tudo para conseguir roubar os dados do internauta”, afirma o diretor.
Até quem conhece bem as armadilhas do sistema pode ser pego. Adriano Aquino, diretor de tecnologia de uma grande empresa e profissional do ramo há mais de 20 anos, teve seu cartão de crédito clonado depois de usá-lo para comprar ingressos de um show num site de vendas online bastante conhecido.
“Eu sou um usuário ferrenho de e-commerce, sempre tomo cuidado”, conta. “Mas mesmo conhecendo a empresa de venda de ingressos e verificando que ela não tinha um sistema confiável, forneci os dados porque era o jeito de comprar a entrada para o show.”
Duas horas depois da transação ser efetuada, uma outra loja ligou para Aquino informando que estavam usando seu cartão de crédito para comprar dois celulares. “Minha sorte é que meu telefone constava no cadastro usado pelo ladrão e a loja teve como me ligar para checar a compra”, conta.
Aquino desconfia que seus dados tenham vazado por ação de funcionários da empresa terceirizada que trabalha para o site de vendas de ingresso. “Na fatura do meu cartão, apareceu o nome de uma empresa do Guarujá, que eu sequer conheço, mas que é contratada pelo site responsável pela venda”, diz Aquino. “Imagino que não devem haver normas rígidas de segurança e qualquer funcionário que estivesse com meus dados na tela do computador pudesse usar meu cartão.”
Aquino, no final das contas, deu sorte: a compra foi cancelada antes de ser concluída. Caso a transação fosse efetuada, sua dor de cabeça seria muito maior. “Na internet é muito difícil descobrir quem é o responsável pela fraude porque o cliente pode ter fornecido a informação para várias empresas e fica difícil determinar qual foi a que falhou”, admite Alice Andrade Frerichs, especialista em direito digital e sócia do escritório Patrícia Peck Pinheiros Advogados. “Por isso, toda vez que um cartão é clonado ou uma transação bancária é efetuada, o melhor a fazer é tentar anular a ação.”
(Carolina Dall’olio, carolina.dallolio@grupoestado.com.br - Jornalista do Estadão)
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