Eliane Cantanhêde (*)
Quatro mortes de líderes rurais numa única semana --a passada-- não são uma ocorrência trivial e não temos o direito de deixá-las passar em branco. É preciso gritar por justiça, cutucar os governos, exigir a atenção dos políticos, apoiar os órgãos que olham e acompanham o que ocorre no campo.
Um deles, talvez o principal, é a CPT, a Comissão Pastoral da Terra da CNBB, que apresenta dados aterradores. Eis alguns: três dos quatro mortos já constavam das listas de ameaçados havia anos e anos; foram 1.580 assassinatos no campo desde 1985; há 207 pessoas que são alvos de bandidos e 30 delas já escaparam de atentados. Até o próximo...
E o que o Estado brasileiro faz? Praticamente nada. É como se houvesse uma resignação coletiva, esperando apenas que os mandantes estalem os dedos e os executores apertem os gatilhos para incrementar as estatísticas macabras.
São quatro os principais problemas: disputa pela terra, confrontos pela preservação do meio ambiente, trabalho escravo e trabalho infantil. Mas o pior deles, porque é a liga de tudo isso, é justamente a impunidade.
Segundo a CPT, só houve 91 julgamentos, com a condenação de 21 mandantes e 73 executores. Agora, caia de queixo. Só um dos mandantes condenados continua preso até hoje: Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, condenado como um dos mandantes do assassinato da irmã Doroty Stang.
Não é demais supor que isso ocorre porque a opinião pública interna e internacional viu, cobrou, pressionou. Senão, ele estaria como os demais condenados: livre, leve e solto.
É nesse contexto que o Congresso --ou seja, o país-- discute a divisão do Estado do Pará em três: Pará, Tapajós e Marajó. O Senado já convocou um plebiscito, para ser realizado em até seis meses.
Sei não, mas o Pará já é um dos campeões na matança de líderes rurais. Além disso, quanto mais Estados, mais verbas, mais executivos, mais legislativos, mais bancadas de deputados e senadores. Parece que, em vez de resolver um problema, estaremos multiplicando o problema por três. Com a palavra, os paraenses.
(*) Jornalista, é colunista da Folha de São Paulo desde 1997
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