O relator da medida provisória que institui a ladroagem sem camburão na gastança com a Copa do Mundo e a Olimpíada, aprovada pela Câmara por 272 votos contra 76, é mais que um verso que rima com a noite dos charlatães. José Nobre Guimarães, deputado federal do PT do Ceará, é também irmão de José Genoíno. O parentesco talvez fosse o item mais vistoso do prontuário se não tivesse existido o caso dos dólares na cueca.
Em julho de 2005, no clímax do escândalo do mensalão, a Polícia Federal prendeu no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, o cearense José Adalberto Vieira da Silva, que tentava embarcar para Fortaleza com R$ 200 mil em uma valise e US$ 100 mil na cueca. Vieira da Silva contou que era assessor parlamentar do então deputado estadual José Nobre Guimarães e garantiu que juntara a fortuna com a venda de verduras no Ceagesp, maior centro de distribuição de alimentos da América Latina.
Interrogado na cadeia, desmentiu a farsa do verdureiro rico e manteve os vínculos com o destinatário da bolada. O chefe escapou da prisão, livrou-se do assessor trapalhão, elegeu-se deputado federal e renovou o mandato em outubro. Não poderia haver alguém mais qualificado para o posto de relator da malandragem que pretende legalizar a roubalheira sem risco de cadeia. O irmão do ex-presidente do PT sabe que, no Brasil, sempre se pode piorar o que já está péssimo.
Horas antes da votação, o deputado do caso da cueca retocou o texto para sofisticar a blindagem dos ladrões amigos. A versão aprovada permite ao governo manter em segredo os orçamentos das obras relativas à Copa e aos Jogos Olímpicos. Se quiser, poderá repassar as cifras ao Tribunal de Contas da União. Mas o TCU está proibido de divulgá-las. Os quadrilheiros devem ter achado insuficiente o salvo-conduto para a bandalheira bilionária. E exigiram o direito de esconder dos brasileiros o tamanho do roubo.
Se o país continuar paralisado pela mansidão bovina, o Senado avalizará o crime cometido pela Câmara com o cinismo de praxe: aquilo é um viveiro de josenobreguimarães. O Brasil do PT e do PMDB já não teme exibir a face horrível.
(*) Jornalista e Ex-Diretor do Jornal do Brasil, do Jornal Gazeta Mercantil e Revista Forbes. Atualmente na Revista Veja.
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