Eliane Cantanhêde (*)
O pior já passou, depois que Antonio Palocci foi ganhar a vida, e Dilma recompôs o núcleo de poder. Agora, é tourear os aliados e dar boas notícias à população, especialmente à faixa da baixa renda, que tem outras preocupações, e à classe média, que mal acompanhou o escândalo Palocci e, se acompanhou, não deu muita bola.
A Agência Nacional de Saúde enquadrou os planos de saúde e determinou prazos para as consultas médicas. Consultar um pediatra, por exemplo, não pode demorar semanas.
A União decidiu ceder terrenos para as obras da Copa e para casas populares, das quais o país, cá pra nós, anda bastante necessitado.
E Dilma anuncia na próxima semana três boas notícias no rumo da universalização nas comunicações.
Serão, basicamente, três programas: telefone fixo a R$ 9,50 ou R$ 13,30 por 90 horas mensais para os cadastrados no Bolsa Família, os aposentados rurais e os deficientes; banda larga a R$ 35; e metas para telefonia e internet rurais, com o objetivo de cobrir 80% dos excluídos até 2015.
São formas não apenas de governar, mas também de isolar as questões políticas e éticas da vida real da população.
O problema de Dilma continua sendo equilibrar as relações entre Executivo e Legislativo, com o PT se estapeando pelos corredores do Congresso, Lula em ação para controlar a turma, e o PMDB curiosa ou perigosamente unido. "A União faz a força", lembra?
O Código Florestal ainda vai ser votado no Senado, o projeto limitando o poder da presidente com as medidas provisórias está andando, há a questão do sigilo eterno dos documentos públicos e, ainda por cima, a instalação da Comissão da Verdade para investigar crimes da ditadura militar.
Um exemplo atualíssimo das dificuldades é um outro tema: o do sigilo or not sigilo das contratações de obras da Copa e da Olimpíada.
Para você ter ideia, a presidente disse que não havia sigilo nenhum e que o projeto fora "mal interpretado". O presidente do Senado, José Sarney (PMDB), disse que tinha entendido muito bem que esse troço vai dar confusão e que não dá para explicar "como ter sigilo para uma obra e para outra, não".
Não bastasse, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB), disse que o projeto sofreria "ajustes" no Senado. E, depois de tudo isso, a nova articuladora política, Idely Salvatti (PT), considerou o caso encerrado, anunciando que o projeto não enfrentava "resistências" no Senado e que o presidente Sarney "voltou atrás".
Sinceramente, durma-se com um barulho desses!
(*) Jornalista é colunista da Folha desde 1997.
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