José Cruz (*)
De repente, o torcedor brasileiro desce da arquibancada, pega o trombone e grita, de olho na Copa 2014.
Na falta de mobilizações de rua, como nos anos 80, quando Lula liderava marchas contra o regime militar e a censura, o palanque eletrônico é o ponto de encontro dos indignados. Ainda bem.
Gritar para empurrar o time, ofender o técnico, o juiz, debater no boteco, criticar o artigo do cronista, o gol impedido, enfim, são rotinas que enriquecem as emoções do esporte.
Mas, agora, o grito tem outro tom.
O torcedor sente a ameaça da sua soberania invadida. O orgulho brasileiro está na iminência de ficar temporariamente sob a tutela de poderosas instituições que vão se beneficiar de muito do nosso patrimônio. Quem sabe, do que nem é oferecido ao contribuinte comum.
Ora, quando o Brasil se candidatou à sede da Copa do Mundo, sabia bem sobre a cartilha da Fifa. Assim como a do Comitê Olímpico Internacional. São instituições poderosíssimas, apoiadas por potentes parceiras: Adidas, Nike, Coca Cola, Xerox, Visa e por aí vai. Isso enche o olho de governos, políticos e empresários. Mas a fatura é altíssima.
No Brasil, em particular, futebol e política têm tudo a ver. Deputados se transformam em cartola e vice versa. Fazem do clube um trampolim. Em alguns casos são as duas coisas. Lembram de Eurico Miranda, Zezé Perrela? Hoje é Roberto Dinamite, cartola e deputado. Romário, por enquanto, e só deputado. Quanta confusão! Ou: pobre eleitor...
Esta estrutura de dualidades, a partir da CBF, sempre teve defensores no Congresso Nacional. A família Sarney que o diga. No Legislativo, isso é garantia de que a pressa é amiga da correção... Corrige-se a lei para ganhar tempo e pular etapas importantes de um projeto de obras onde o dinheiro público é indispensável.
É neste panorama que ocorre a discussão sobre obras para a Copa 2014: licitações, empenhos, contratos, financiamentos, cronogramas, prazos, auditorias, etc ingressaram no vocabulário do torcedor mais indignado. É o novo idioma na conversa de arquibancada.
No governo, tudo é feito e discutido às pressas. Assim, a pretexto da falta de tempo e dos prazos esgotados passam as exceções. Atualiza-se por uma medida provisória a Lei das Licitações (nº 8.666) de forma apressada em sem discussão. É a forma, insisto, de compensar a falta de planejamento. Proposital? Afinal, não foi em 2007 que recebemos a notícia da Copa 2014? Quatro anos...
Mas esperar o quê de políticos? Justamente isso: quanto pior melhor.
Como disse um editorial que li ontem, mais ou menos assim: “A Medida Provisória que se discute (sobre licitações) é o habeas corpus para a bandalheira”.
O governo se assusta e diz que “não é bem assim”. Discursa como se fôssemos burros e não entendêssemos a linguagem dessa gente.
(*) Jornalista e que cobre há mais de 20 anos os bastidores da política e economia do esporte, acompanhando a execução orçamentária do governo, a produção de leis e o uso de verbas estatais na área esportiva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário