terça-feira, 21 de junho de 2011

Vacina

Índias do Pará receberão vacina para evitar HPV

Indios xikrins
 
Índias de duas etnias do sudeste do Pará serão as primeiras do país a receber vacina contra o HPV (papilomavírus humano).

O projeto, coordenado pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), vai imunizar índias xikrins (do rio Cateté) e paracanãs-avaetés (do rio Xingu).

Ao todo, quatro variedades do vírus serão englobadas com a vacinação: os tipos 6 e 11, causadores de verrugas e lesões genitais, e 16 e 18, ligados aos casos de câncer.
"A vacinação ajudará a controlar e combater um problema que atinge cada vez mais e mais cedo as mulheres e meninas indígenas", disse o endocrinologista João Paulo Botelho Vieira Filho, pesquisador da Unifesp

CONTAMINAÇÃO
Desde 1998, Vieira Filho já catalogou lesões causadas por HPV em 52 índios de ambos os sexos.
"Encontramos lesões inclusive em crianças. O contato físico com as mães e pais, que é extremado nessas comunidades, favorece a transmissão do vírus."

Somente entre os xikrins são 34 casos já confirmados de índios com patologias ligadas à infecção pelo vírus.
Desses, nove são mulheres com diagnóstico de câncer de colo do útero. Nas duas etnias, Vieira Filho já registrou duas mortes. O HPV, diz o pesquisador, entrou nas aldeias por meio do contato dos índios com frentes de exploração madeireira, caçadores e prostitutas.

"O uso da camisinha é raríssimo e há uma liberalidade sexual entre eles que favorece o contágio", explica.
Ao todo, 1.200 índias da região do rio Cateté receberão a vacina contra o HPV. Entre as paracanãs-avaetés, cerca de 400 serão vacinadas.

A vacinação será feita em três doses em índias a partir de nove anos de idade.
Como não está inclusa no Programa Nacional de Vacinação, a verba (R$ 900 pelo kit com três doses) virá de uma associação dos próprios xikrins e da Eletrobrás.

QUESTÃO CULTURAL
Segundo Vieira, ainda não foi feito um levantamento para determinar a incidência da contaminação pelo vírus. Até agora, os casos catalogados foram identificados em exames de rotina.
"Considerando que essas etnias habitam áreas de difícil acesso e têm pouco contato com o exterior, pode-se considerar que a incidência é alta", afirma.

Outro complicador para a avaliação do quadro é a questão cultural. "Muitas mulheres indígenas se recusam a fazer exames ginecológicos como o papanicolaou", diz.
Vieira prevê que o trabalho comece em meados de julho. Segundo ele, a experiência deve servir de modelo para um grande programa de vacinação nas aldeias.

"O HPV já chegou a várias etnias. Vacinar agora é muito mais barato do que tratar cirurgicamente os efeitos da contaminação", conclui.

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