EVANDRO FLEXA JR.(*)
O pior salário da região Norte do Brasil é pago no Pará. Embora o Estado seja o maior empregador da região, o trabalhador paraense recebe em média algo em torno de 2,8 salários mínimos - quase a metade dos ganhos médios do pessoal ocupado no Amapá, que é remunerado com 4,2 salários. Estes dados são referentes ao ano de 2008 e foram apresentados ontem, através do relatório de Estatísticas do Cadastro Central de Empresas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo especialistas em economia, nos últimos 18 meses este quadro não sofreu grandes variações, pelo menos no Estado.
Os números mostram que 91,5,% dos empregados no Pará eram considerados assalariados e apresentavam uma receita que não chegava a R$ 1,5 mil. Ao todo, no Estado, 902.544 pessoas exerciam alguma atividade formal - sendo que 825.846 delas eram assalariadas. A média salarial do Pará era compatível com os ganhos da região Nordeste – a pior do Brasil, e que girava em torno de 2,6 salários mínimos. Até as médias nacional e regional foram melhores que a do Estado, totalizando, respectivamente, 3,4 e 3,1 salários mínimos. Dos sete estados nortistas, quatro detinham ganhos mensais superiores a três salários: Acre (3,3), Amazonas (3,5), Roraima (3,5) e Amapá (4,2).
O Pará, que é o maior empregador da região, deteve 40% do total de pessoas ocupadas no norte do Brasil em 2008. Juntos, Pará e Amazonas correspondiam a 64% da população empregada na região, totalizando 1.439.179 vagas ocupadas. O estado de Roraima tinha a menor porção de ocupações do Norte, com apenas 77.696 empregos preenchidos. Em volume de remuneração, o Pará pagou em 2008 cerca de R$ 12 bilhões em salários, ou seja, 24% a mais do que o segundo colocado no ranking de remunerações do Norte, que foi o Amazonas (R$ 9,3 bi) e 85% superior ao último colocado, Acre (R$ 1,7 bi).
Mesmo sendo o maior empregador, o Pará participou com apenas 37% do volume de salários pagos na região. O maior percentual de assalariados do Norte do Brasil esteve no Amazonas, com 93% dentre toda a sua população empregada. Já Roraima deteve o menor número de assalariados da região, com apenas 88% de seus trabalhadores. Juntos, os trabalhadores do Norte corresponderam a 5% de todos os empregados do País.
JUSTIFICATIVA
Conforme avalia o professor de Economia da Universidade Federal do Pará (UFPA) e especialista em empregos, Sérgio Bacury, o Pará, embora seja um grande exportador, detém uma dinâmica predominantemente ligada ao setor terciário. "Grande parte do PIB do Estado é composto pelo comércio e serviço. Estes dois setores pagam as remunerações mais baixas do mercado. O setor industrial, que paga melhor, é mais forte no Amazonas. O perfil produtivo do Pará é que contribui para este resultado", avalia. Para Bacury, a mudança depende de vários fatores, dentre ao quais, ele destaca a verticalização da produção estadual. "O Pará exporta boi em pé, quando já deveria sair daqui a carne processada", exemplifica.
Para o economista Caitano Celedônio, empresário do setor educacional, os baixos salários são resultantes da falta de qualificação da mão de obra paraense. "O aluno de um curso profissionalizante que consegue um emprego durante o período de aprendizagem, toma como primeira medida largar a escola. Com isso ele acaba não concluindo o curso, por que prioriza o emprego, achando que a educação é menos importante que a vaga. E dessa forma ele se torna um acomodado", explica. Para Celedônio, é preciso orientar melhor os jovens no aspecto educacional, no sentido de garantir um futuro desejável. "Muitos se satisfazem apenas com o segundo grau, e não se preocupam em ganhar mais. Vivemos a era do conhecimento, onde a riqueza do século é o intelectual e não o material", filosofa.
(*) Jornalista do O Liberal de Belém
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