domingo, 23 de maio de 2010

Burros fomos nós

NÓS, OS
Frei Beto

"Aluno, em 1964, do curso de jornalismo, ficava a Escola, no Rio, próxima ao aterro do Flamengo, então um canteiro de obras. Ali pastavam animais de carga.
Um grupo de colegas, no qual me incluía, não suportava o tom laudatório do professor Hélio Vianna, ao se referir ao marechal Castelo Branco, seu cunhado, e primeiro a ocupar a Presidência em nome da ditadura. Decidimos pregar-lhe uma peça.
Sequestramos um burro no aterro e o enfiamos na sala de aula.
No corredor do andar de cima, ficamos a observar a reação do professor de história. Hélio Vianna entrou na sala e, para a nossa decepção, ali permaneceu em companhia do muar, durante 50 minutos.
Dado o sinal, retirou-se impassível, sem demonstrar contrariedade ou queixar-se à direção.
Deu mais trabalho fazer o burro descer do que subir os degraus da faculdade.
Na semana seguinte o episódio parecia mergulhado no olvido. Hélio Vianna entrou em classe e - novo desaponto - não nos passou nenhuma reprimenda. Deu aula como se nada tivesse ocorrido.
Nos últimos minutos, advertiu-nos:
"Aviso aos senhores e senhoras que, na semana próxima, haverá prova. Peguem os pontos com o único colega que, na aula passada, se encontrava em classe". E não mais disse.
Como estudar para a prova sem a menor noção da matéria indicada?
No dia fatídico, o professor nos pediu uma dissertação, por escrito, de como o Tesouro da Holanda havia sido afetado pela invasão holandesa no Nordeste brasileiro.
Zero geral.
Burros fomos nós."

Nenhum comentário:

Postar um comentário