Hei deficiente, quem mandou você nascer em Santarém?
Antenor Pereira Giovannini (*)
Seu nome pode ser João, Antonio, José, Luiz, não importa.
O que importa que é acompanho mais um entre tantos brasileiros renegados, excluídos apenas e tão somente porque ele é um cadeirante.
Como tantos outros deficientes vivendo em diversas outras cidades espalhadas por esse imenso País, ele teve a infelicidade de ser cadeirante em Santarém.
Se tal descriminação já existe nas demais cidades que possuem certa estrutura, imagine em Santarém que não possui o básico de qualquer cidade que é um Código de Postura devidamente inserido num Plano Diretor.
Esses documentos inexistem em nossa cidade. Nossos dirigentes administram sem a necessidade de tais documentos.
E justamente pela falta deles que esse deficiente não tem como exigir que seus direitos sejam respeitados.
Alias como qualquer cidadão.
Ele como toda a população não possui calçadas para transitar. Seja um pedestre normal velho, novo, ou deficientes físicos, ou deficientes visuais ou mesmo cadeirantes, sendo que estes em qualquer curretelo desse País possui rampas de acesso para atravessar de uma calçada para outra.
Alias obrigação contida na Constituição Federal.
Mas, em nossa cidade isso nada vale.
Se as pessoas normais não se queixam de terem que andar pelas ruas já que inexistem calçadas em condições de trafegabilidade normal, aonde que deficientes vão querer reclamar. Haja paciência, Sr Antenor.
O senhor e essa ladainha de novo de falta de calçadas, que deficiente não tem vez, bla,bla e esse seu discurso cansa, literalmente enche o saco de ler sempre a mesma coisa.
E assim segue a vidinha de conformidades.
E de carro acompanho o trânsito lento numa das ruas do centro da cidade e ouço buzinaço na minha frente, e ao conseguir alçar mais alguns metros, encontro o amigo cadeirante que era a causa do buzinaço, certamente emitido por alguém gerado na zona e em conseqüência alguém sem paciência e sem respeito ao próximo já que naquela cadeira não se encontra seu pai ou seu filho.
E como calçadas transitáveis há poucas e sem rampa, obriga nosso amigo pacientemente seguir junto ao meio fio até atingir seu objetivo que era o Banco (que, aliás, possui rampa de acesso).
Mas, como subir na calçada?
Obviamente, sua cabeça procura entre os passantes uma alma caridosa que erga a sua cadeira e o coloque junto à porta do Banco.
Feito isso, ele gentilmente agradece ao seu condutor que continua viagem e ele se posta na rampa de acesso ao Banco para se preocupar após seu compromisso, com seu retorno que terá que ser realizado da mesma maneira, ou seja, pedindo ajuda, sendo colocado no leito carroçável das ruas e poder entre carros, motos e outros cidadãos gerados na zona, seguir seu caminho e retornar para casa.
Tudo isso porque os dirigentes de nossa cidade, atuais ou antigos, nunca deram bola a esse contingente de pessoas que inclusive vota, e nunca lhes concederam tais direitos e eles heroicamente, buscam no dia a dia ir ao encontro dos seus ideais, seus sonhos, sua vida, independente de serem atendidos por quem por obrigação deveria conceder a eles algo que a grande maioria não sabe ou não quer conhecer: dignidade.
Se já não bastasse seu sofrimento e sua luta por sobrevivência num mundo falso, hipócrita que não lhes concede oportunidade e ainda os olha com ar piegas e discriminatório, ainda são obrigados a lutarem na rua para atingirem seus destinos.
Tais dirigentes, principalmente secretários, secretárias, vereadores, vereadoras, deveriam todos os dias agradecer aos céus deles terem nascidos sem qualquer problema de ordem física e mais ainda poderem olhar seus filhos e saberem que os mesmos terão suas vidas normais e sem percalços ao contrário dos nossos João, Antonio, Jose, Luiz.
Sem esquecer-se das nossas Maria, Antonias, Josefa, Luiza, que da mesma forma que os homens, bravamente fazem seu caminho, não é amiga Madalena, guerreira.
Depois se observa aquela vergonha de obra de fazerem um acesso ao mezanino do mercado com uma escada ridiculamente estreita e de degraus curtos, alijando os deficientes de modo geral e também às pessoas de idade e com dificuldades de locomoção via escadas, numa demonstração mais eloqüente que aqui, deficiente não tem vez, aliás quem mandou você nascer aqui.
(*) Aposentado e morador em Santarém
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