Renato Mauricio Prado para O Globo (*)
Os clubes de futebol faturam autênticas fortunas, negociando jogadores, direitos de transmissão de TV, patrocínios em camisas, calções e placas de publicidade nos estádios. Comercializam também produtos dos mais variados, usando suas marcas e cores. E ganham ainda uma dinheirama, vendendo ingressos para os jogos, nas bilheterias e nos programas de sócio-torcedor. Para que se tenha uma ideia, os faturamentos dos principais agremiações esportivas do país, em 2012, oscilaram entre R$ 40 e 290 milhões/ano. Como não considerar isso um imenso e lucrativo negócio, capaz de enriquecer não somente jogadores e técnicos mas, como é público e notório, diversos dirigentes, empresários etc.?
Pois é. Mas, acredite se quiser, segundo reportagem publicada ontem no jornal Estado de S. Paulo, o Ministro do Esporte, Aldo Rebelo, não somente quer anistiar as gigantescas dívidas fiscais dos nossos clubes de futebol como torná-los, a partir de agora, isentos de impostos, por considerá-los "associações sem fim lucrativo".
Hein?!? É tão absurdo que só pode ser encarado como brincadeira de mau gosto. Pegadinha. Gozação com a cara do cidadão comum, que é obrigado a pagar — e como paga! — todo tipo possível e imaginário de tributo. Direto e indireto.
Será que Aldo Rebelo viu na capa do caderno de esportes da Folha de S. Paulo, de anteontem, as mansões, o iate e os carrões do ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, exilado em Miami?
Será que tem acompanhado as espantosas revelações feitas pela atual diretoria do Flamengo em relação aos diversos e absurdos casos de malversação de dinheiro cometidos pela gestão anterior?
Será que sabe que o Corinthians, um dos grandes devedores de impostos, pagou esse ano, sem pestanejar, R$ 40 milhões para contratar um atacante (Alexandre Pato), embora tenha conquistado, no final do ano passado, o título mundial com um ótimo time e um elenco fortíssimo?
E que, desde de 1984, as diretorias do Fluminense (outro que há anos gasta fortunas com seus craques) não pagavam rigorosamente nada, nem sequer um centavo de impostos? Pergunte ao atual presidente Peter Siemsen.
O mais grave é que os exemplos supracitados estão longe de ser exceção. São praticamente regra no bilionário mundo dos nossos esportes, onde dois Refis e duas versões da Timemania já foram feitos sem sucesso, pois os calotes continuaram e não foram pagos nem os tributos posteriores ao financiamento das dívidas antigas. Um escárnio!
É esse tipo de clubes e de dirigentes que o Ministro quer anistiar e isentar de impostos, sob patéticas alegações, como a de que ''o futebol integra o patrimônio cultural brasileiro, é considerado de elevado interesse social e reconhecido como elemento constituinte de nossa brasilidade"?
Tal besteirol foi pinçado do parecer encomendado pelo Ministério do Esporte para sustentar o absurdo pleito junto à Procuradoria Geral da Fazenda Nacional. O documento tem várias outras pérolas dignas de figurar no Febeapá (o Festival de Besteira que assola o país, escrito por Sérgio Porto, o genial e saudoso Stanislaw Ponte Preta).
Uma delas foi, inclusive, cunhada originalmente pelo ex-presidente Lula:
"Quando a gente veste a camisa da nossa seleção, está representando os milhões de brasileiros e brasileiras".
Ora, se os representa, o mínimo que se espera é que faça exatamente como todo o povo: pague os impostos, não é excelentíssimo Ministro?
Diante de tão escalfobética idéia, lembrei-me de meu amigo Antônio Nascimento, o “Toninho”, ex-editor de esportes do GLOBO e novo Secretário Nacional de Futebol e Direito do Torcedor. Eis aí o seu primeiro “moinho”, meu bravo Don Quixote! Monte o “Rocinante” e o encare. Eu avisei...
(*) Jornalista esportivo e escritor
Os clubes de futebol faturam autênticas fortunas, negociando jogadores, direitos de transmissão de TV, patrocínios em camisas, calções e placas de publicidade nos estádios. Comercializam também produtos dos mais variados, usando suas marcas e cores. E ganham ainda uma dinheirama, vendendo ingressos para os jogos, nas bilheterias e nos programas de sócio-torcedor. Para que se tenha uma ideia, os faturamentos dos principais agremiações esportivas do país, em 2012, oscilaram entre R$ 40 e 290 milhões/ano. Como não considerar isso um imenso e lucrativo negócio, capaz de enriquecer não somente jogadores e técnicos mas, como é público e notório, diversos dirigentes, empresários etc.?
Pois é. Mas, acredite se quiser, segundo reportagem publicada ontem no jornal Estado de S. Paulo, o Ministro do Esporte, Aldo Rebelo, não somente quer anistiar as gigantescas dívidas fiscais dos nossos clubes de futebol como torná-los, a partir de agora, isentos de impostos, por considerá-los "associações sem fim lucrativo".
Hein?!? É tão absurdo que só pode ser encarado como brincadeira de mau gosto. Pegadinha. Gozação com a cara do cidadão comum, que é obrigado a pagar — e como paga! — todo tipo possível e imaginário de tributo. Direto e indireto.
Será que Aldo Rebelo viu na capa do caderno de esportes da Folha de S. Paulo, de anteontem, as mansões, o iate e os carrões do ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, exilado em Miami?
Será que tem acompanhado as espantosas revelações feitas pela atual diretoria do Flamengo em relação aos diversos e absurdos casos de malversação de dinheiro cometidos pela gestão anterior?
Será que sabe que o Corinthians, um dos grandes devedores de impostos, pagou esse ano, sem pestanejar, R$ 40 milhões para contratar um atacante (Alexandre Pato), embora tenha conquistado, no final do ano passado, o título mundial com um ótimo time e um elenco fortíssimo?
E que, desde de 1984, as diretorias do Fluminense (outro que há anos gasta fortunas com seus craques) não pagavam rigorosamente nada, nem sequer um centavo de impostos? Pergunte ao atual presidente Peter Siemsen.
O mais grave é que os exemplos supracitados estão longe de ser exceção. São praticamente regra no bilionário mundo dos nossos esportes, onde dois Refis e duas versões da Timemania já foram feitos sem sucesso, pois os calotes continuaram e não foram pagos nem os tributos posteriores ao financiamento das dívidas antigas. Um escárnio!
É esse tipo de clubes e de dirigentes que o Ministro quer anistiar e isentar de impostos, sob patéticas alegações, como a de que ''o futebol integra o patrimônio cultural brasileiro, é considerado de elevado interesse social e reconhecido como elemento constituinte de nossa brasilidade"?
Tal besteirol foi pinçado do parecer encomendado pelo Ministério do Esporte para sustentar o absurdo pleito junto à Procuradoria Geral da Fazenda Nacional. O documento tem várias outras pérolas dignas de figurar no Febeapá (o Festival de Besteira que assola o país, escrito por Sérgio Porto, o genial e saudoso Stanislaw Ponte Preta).
Uma delas foi, inclusive, cunhada originalmente pelo ex-presidente Lula:
"Quando a gente veste a camisa da nossa seleção, está representando os milhões de brasileiros e brasileiras".
Ora, se os representa, o mínimo que se espera é que faça exatamente como todo o povo: pague os impostos, não é excelentíssimo Ministro?
Diante de tão escalfobética idéia, lembrei-me de meu amigo Antônio Nascimento, o “Toninho”, ex-editor de esportes do GLOBO e novo Secretário Nacional de Futebol e Direito do Torcedor. Eis aí o seu primeiro “moinho”, meu bravo Don Quixote! Monte o “Rocinante” e o encare. Eu avisei...
(*) Jornalista esportivo e escritor
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