Ruy Fabiano (*)
Na eleição passada, como se sabe, o então presidente da República foi recordista nesse tipo de infração, debochando da Justiça Eleitoral em comícios, valendo-se da força de seu cargo e de sua popularidade para desafiar os juízes.
E isso remete a seu imbróglio recente com o ministro Gilmar Mendes, do STF, em que o fator credibilidade é essencial para o esclarecimento do que houve. É impensável que um ex-presidente chantageie um ministro do STF, seja qual for o motivo.
E foi com base nesse raciocínio que Lula se disse “indignado” com a revista Veja, que noticiou o encontro (reparem que ele desmentiu a revista, não o ministro, que confirmou tudo).
Mas é igualmente impensável que um presidente – e mesmo um ex-presidente, que é também uma instituição – afronte a Justiça Eleitoral. E Lula a afrontou, com a maior cara de pau.
Exibiu o seu candidato e, numa entrevista de amigo para amigo – e não de jornalista para homem público -, exaltou suas qualidades, falou de sua administração no MEC e o considerou o homem certo para governar São Paulo. Nada menos.
A Lula, que já se considerou uma “metamorfose ambulante”, pode-se pedir tudo, menos coerência. Já disse que é de esquerda e que “nunca foi de esquerda”, chegando mesmo a sustentar, numa reunião com banqueiros, que uma pessoa que, depois de madura, continua sendo de esquerda é porque tem um parafuso a menos.
Quando teve início a campanha eleitoral de 2010, elogiou o estágio político a que o Brasil chegara, pelo fato de todos os candidatos serem de esquerda.
Em relação ao Mensalão, seu pesadelo presente, já exibiu as mais diversas e antagônicas posições. No primeiro momento, disse que nada sabia. Depois, que fora traído. E ainda que o PT agira mal, que devia desculpas ao país. E prometeu que tudo seria apurado, “doa a quem doer”.
Já no fim de seu governo, deu-se a reviravolta. Passou a afirmar que o Mensalão não existira, que fora uma tentativa de golpe contra seu governo e que, ao deixar a Presidência, iria prová-lo, desprezando o fato de que, como presidente, é que teria os meios necessários de fazê-lo.
Como articular um raciocínio desses? No episódio Gilmar Mendes, o ex-presidente optou por um desmentido de pessoa jurídica. Foi seu Instituto que se manifestou, não ele. Nélson Jobim, talvez pelo contágio do convívio com o ex-presidente, deu pelo menos quatro versões do encontro:
1) foi casual, o Gilmar ia passando;
2) foi agendado, a pedido do Lula;
3) não houve a tal conversa;
4) não ouvi o que conversaram.
O único a sustentar uma só versão, goste-se ou não, foi Mendes. Contra ele, sustentaram-se dois argumentos. O primeiro: como ministro do STF, não poderia ter encontrado Lula.
Nesse caso, a mesma acusação deveria ter sido estendida aos ministros Ayres Britto, Ricardo Lewandowski e à ministra Carmem Lúcia, que também estiveram com o ex-presidente, embora não tenham tornado pública a conversa que tiveram.
Não há nada que impeça um ministro do STF de se encontrar com um ex-presidente, que não é parte – não ao menos formalmente – em nenhum processo em sua Corte. Tanto que os demais estiveram com Lula sem problemas.
A outra acusação é de que Mendes levou um mês para tornar pública a história. Ele explica que nem pretendia fazê-lo, considerando-se o perfil heterodoxo de Lula, mas, ao constatar que o próprio ex-presidente continuava a dar vazão aos rumores depreciativos em torno de sua pessoa – de que viajara às custas de Carlos Cachoeira -, decidiu romper o silêncio.
Mesmo assim, o fez ao ser abordado por Veja, que já tinha a história completa, cabendo-lhe apenas confirmá-la.
Quem frequenta os bastidores de Brasília já sabia há algum tempo de toda essa história. O impacto deu-se por sua publicação, não por seu conteúdo. Se até uma CPI (a do Cachoeira) Lula inventou para dissolver o Mensalão, o que lhe custaria oferecer blindagem nela a alguém – mesmo um ministro do STF -, em troca de blindagem no Judiciário?
É possível que o episódio lhe ensine algo a respeito das instituições e do Estado democrático de Direito, embora o episódio do Programa do Ratinho testemunhe em contrário.
(*) Jornalista
Ao comparecer anteontem ao Programa do Ratinho, no SBT, levando a tiracolo o seu candidato à Prefeitura de São Paulo, o ex-ministro Fernando Haddad, Lula pode não ter avaliado o dano colateral desse gesto a si próprio, à sua credibilidade.
Não se trata apenas de infração explícita à lei eleitoral, de que é reincidente específico, mas de demonstração pública de que não tem zelo pelas instituições.
Na eleição passada, como se sabe, o então presidente da República foi recordista nesse tipo de infração, debochando da Justiça Eleitoral em comícios, valendo-se da força de seu cargo e de sua popularidade para desafiar os juízes.
E isso remete a seu imbróglio recente com o ministro Gilmar Mendes, do STF, em que o fator credibilidade é essencial para o esclarecimento do que houve. É impensável que um ex-presidente chantageie um ministro do STF, seja qual for o motivo.
E foi com base nesse raciocínio que Lula se disse “indignado” com a revista Veja, que noticiou o encontro (reparem que ele desmentiu a revista, não o ministro, que confirmou tudo).
Mas é igualmente impensável que um presidente – e mesmo um ex-presidente, que é também uma instituição – afronte a Justiça Eleitoral. E Lula a afrontou, com a maior cara de pau.
Exibiu o seu candidato e, numa entrevista de amigo para amigo – e não de jornalista para homem público -, exaltou suas qualidades, falou de sua administração no MEC e o considerou o homem certo para governar São Paulo. Nada menos.
A Lula, que já se considerou uma “metamorfose ambulante”, pode-se pedir tudo, menos coerência. Já disse que é de esquerda e que “nunca foi de esquerda”, chegando mesmo a sustentar, numa reunião com banqueiros, que uma pessoa que, depois de madura, continua sendo de esquerda é porque tem um parafuso a menos.
Quando teve início a campanha eleitoral de 2010, elogiou o estágio político a que o Brasil chegara, pelo fato de todos os candidatos serem de esquerda.
Em relação ao Mensalão, seu pesadelo presente, já exibiu as mais diversas e antagônicas posições. No primeiro momento, disse que nada sabia. Depois, que fora traído. E ainda que o PT agira mal, que devia desculpas ao país. E prometeu que tudo seria apurado, “doa a quem doer”.
Já no fim de seu governo, deu-se a reviravolta. Passou a afirmar que o Mensalão não existira, que fora uma tentativa de golpe contra seu governo e que, ao deixar a Presidência, iria prová-lo, desprezando o fato de que, como presidente, é que teria os meios necessários de fazê-lo.
Como articular um raciocínio desses? No episódio Gilmar Mendes, o ex-presidente optou por um desmentido de pessoa jurídica. Foi seu Instituto que se manifestou, não ele. Nélson Jobim, talvez pelo contágio do convívio com o ex-presidente, deu pelo menos quatro versões do encontro:
1) foi casual, o Gilmar ia passando;
2) foi agendado, a pedido do Lula;
3) não houve a tal conversa;
4) não ouvi o que conversaram.
O único a sustentar uma só versão, goste-se ou não, foi Mendes. Contra ele, sustentaram-se dois argumentos. O primeiro: como ministro do STF, não poderia ter encontrado Lula.
Nesse caso, a mesma acusação deveria ter sido estendida aos ministros Ayres Britto, Ricardo Lewandowski e à ministra Carmem Lúcia, que também estiveram com o ex-presidente, embora não tenham tornado pública a conversa que tiveram.
Não há nada que impeça um ministro do STF de se encontrar com um ex-presidente, que não é parte – não ao menos formalmente – em nenhum processo em sua Corte. Tanto que os demais estiveram com Lula sem problemas.
A outra acusação é de que Mendes levou um mês para tornar pública a história. Ele explica que nem pretendia fazê-lo, considerando-se o perfil heterodoxo de Lula, mas, ao constatar que o próprio ex-presidente continuava a dar vazão aos rumores depreciativos em torno de sua pessoa – de que viajara às custas de Carlos Cachoeira -, decidiu romper o silêncio.
Mesmo assim, o fez ao ser abordado por Veja, que já tinha a história completa, cabendo-lhe apenas confirmá-la.
Quem frequenta os bastidores de Brasília já sabia há algum tempo de toda essa história. O impacto deu-se por sua publicação, não por seu conteúdo. Se até uma CPI (a do Cachoeira) Lula inventou para dissolver o Mensalão, o que lhe custaria oferecer blindagem nela a alguém – mesmo um ministro do STF -, em troca de blindagem no Judiciário?
É possível que o episódio lhe ensine algo a respeito das instituições e do Estado democrático de Direito, embora o episódio do Programa do Ratinho testemunhe em contrário.
(*) Jornalista
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