Após sofrer impeachment, Lugo diz que democracia foi ferida
Folha de São Paulo
O presidente do Paraguai, Fernando Lugo, afirmou que deixará o cargo, mas que a "democracia foi ferida" após ser destituído pelo Senado, por 39 votos a quatro, na noite desta sexta-feira. O vice-presidente, Federico Franco, assumirá o cargo.
"Foram agredidos todos os princípios da defesa e todos perceberam a gravidade dos fatos. Estou disposto a responder pelos meus atos, que não se negue o direito à defesa".
Lugo afirmou que o país foi vítima de "interesses mesquinhos" e que não deixará a vida política. "Hoje eu me despeço como presidente da República, mas não me despeço como cidadão paraguaio".
"Fernando Lugo não responde a pressões políticas, ao narcotráfico e ao crime organizado. Eu sempre continuarei respondendo ao chamado dos mais pobres, a quem temos um dever de solidariedade".
O mandatário destituído agradeceu o apoio popular, das forças armadas e o esforço para "consolidar a democracia neste país", após os quatro anos de mandato. "Hoje saio pela maior porta da pátria, a porta do coração. Sonhemos com um Paraguai diferente e espero que possam seguir contando comigo".
No fim do discurso, fez um apelo à força dos cidadãos paraguaios. "Muita força, muita força, muita força".
Na votação final, 39 senadores votaram a favor da condenação do presidente, enquanto apenas quatro se declararam contra. Outros dois ficaram ausentes.
O Comando das Forças Armadas acataram a decisão do Senado e darão sua confiança ao vice-presidente, que deverá assumir nas próximas horas.
Mais cedo, Lugo havia afirmado que acataria o julgamento político no Congresso que poderia provocar a sua destituição, mas advertiu que impulsionaria uma resistência "a partir de outras instâncias organizacionais", em declarações à Rádio 10 argentina.
PROTESTOS
Após a decisão, policiais paraguaios usaram balas de borracha, jatos d'água e gás lacrimogêneo contra manifestantes favoráveis a Lugo.
Na praça vizinha ao prédio Legislativo, os manifestantes receberam a notícia da destituição com gritos de "Lugo presidente" e logo tumultos foram desencadeados. Policiais anti-montins e a cavalo foram mobilizados para conter os rebeldes mais exaltados.
Os manifestantes haviam montado barricadas em frente ao Congresso e arremessaram objetos, enfurecidos com a velocidade do julgamento político com a aprovação do impeachment contra Lugo.
ENTENDA
Ontem, o Parlamento paraguaio aprovou o início de um processo de impeachment do presidente Fernando Lugo, a quem partidos de oposição responsabilizam pelos confrontos.
Um confronto armado deixou seis policiais e 11 camponeses mortos na sexta-feira passada em Curuguaty, a 250 km da capital.
O episódio forçou a saída do ministro do Interior, Carlos Filizzola, e do comandante da polícia, Paulino Rojas, que deixaram seus cargos pressionados pelo Congresso.
A reforma agrária era uma das prioridades do governo de Lugo, mas o mandatário teve dificuldades para aproximar posições entre as organizações camponesas e os proprietários, na medida em que buscava colocar ordem no organismo encarregado pela distribuição de terras.
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