Dora Kramer (*) para O Estado de S.Paulo
O governador Marconi Perillo começou comandando o show na CPMI mais famosa do Brasil.
Contou para isso com a colaboração da linha de interrogatório escolhida pelo relator, feita no intuito de cumprir o rito de defesa e levar o governador a se pronunciar sobre tópicos polêmicos já conhecidos e a respeito dos quais Perillo chegou bem preparado para responder.
Em uma hora e meia de questionamento, o deputado Odair Cunha deixou passar oportunidades de preencher lacunas sobre as relações dele com Cachoeira.
Tampouco deu ouvidos às reiteradas referências do governador ao envolvimento de pessoas, partidos e governos com pagamento de propinas, com a construtora Delta, com o senador Demóstenes Torres e com o acusado de comandar a organização criminosa alvo da comissão de inquérito.
Fruto de um pacto não escrito nem explícito de não agressão entre PT e PSDB, com participação coadjuvante do PMDB?
As citações elogiosas de Perillo ao governo, aos ministros, à presidente Dilma Rousseff e a maneira como se esquivou de abordar o aviso dado a Lula sobre a existência do mensalão poderiam reforçar essa percepção.
Mas acertos são de difícil sustentação, como demonstrado pela reação do PSDB quando o relator referiu-se ao governador como "investigado" e perguntou se ele abria mão de seus sigilos fiscal, bancário e telefônico.
Além disso, as investigações dependem mais do cruzamento de informações substantivas - obtidas, por exemplo, da quebra de sigilos - que do conteúdo dos depoimentos.
Nestes, às vezes importa observar mais o que o depoente busca ocultar e menos o que se preparou para contar.
Na participação do governador Marconi Perillo chamou atenção o modo como procurou mostrar-se absolutamente alheio às atividades ilegais de Carlos Cachoeira.
Soou artificial ao dizer que desconhecia as andanças de Cachoeira pelas margens da lei e que não acompanhou a participação dele como um dos personagens principais da CPI dos Bingos - da qual resultou um pedido de indiciamento criminal - por falta de tempo para "ver televisão". Pueril, não suscitasse desconfiança tamanha alienação.
(*) Jornalista e colunista do jornal O Estado de São Paulo
O governador Marconi Perillo começou comandando o show na CPMI mais famosa do Brasil.
Senhor do tempo na apresentação inicial feita em tempo quatro vezes maior que os 20 minutos regulamentares, deu explicações em princípio convincentes sobre a venda da casa onde foi preso Carlos Cachoeira, aproveitou para propagandear seus feitos em Goiás e ainda reivindicar a autoria de dois dos mais celebrados programas sociais do governo petista: o ProUni e o Bolsa-Família.
Contou para isso com a colaboração da linha de interrogatório escolhida pelo relator, feita no intuito de cumprir o rito de defesa e levar o governador a se pronunciar sobre tópicos polêmicos já conhecidos e a respeito dos quais Perillo chegou bem preparado para responder.
Em uma hora e meia de questionamento, o deputado Odair Cunha deixou passar oportunidades de preencher lacunas sobre as relações dele com Cachoeira.
Tampouco deu ouvidos às reiteradas referências do governador ao envolvimento de pessoas, partidos e governos com pagamento de propinas, com a construtora Delta, com o senador Demóstenes Torres e com o acusado de comandar a organização criminosa alvo da comissão de inquérito.
Fruto de um pacto não escrito nem explícito de não agressão entre PT e PSDB, com participação coadjuvante do PMDB?
As citações elogiosas de Perillo ao governo, aos ministros, à presidente Dilma Rousseff e a maneira como se esquivou de abordar o aviso dado a Lula sobre a existência do mensalão poderiam reforçar essa percepção.
Mas acertos são de difícil sustentação, como demonstrado pela reação do PSDB quando o relator referiu-se ao governador como "investigado" e perguntou se ele abria mão de seus sigilos fiscal, bancário e telefônico.
Além disso, as investigações dependem mais do cruzamento de informações substantivas - obtidas, por exemplo, da quebra de sigilos - que do conteúdo dos depoimentos.
Nestes, às vezes importa observar mais o que o depoente busca ocultar e menos o que se preparou para contar.
Na participação do governador Marconi Perillo chamou atenção o modo como procurou mostrar-se absolutamente alheio às atividades ilegais de Carlos Cachoeira.
Soou artificial ao dizer que desconhecia as andanças de Cachoeira pelas margens da lei e que não acompanhou a participação dele como um dos personagens principais da CPI dos Bingos - da qual resultou um pedido de indiciamento criminal - por falta de tempo para "ver televisão". Pueril, não suscitasse desconfiança tamanha alienação.
(*) Jornalista e colunista do jornal O Estado de São Paulo
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