sábado, 16 de junho de 2012

O suspense grego

Opinião do Estadão

Com um potencial explosivo muito maior que o peso de sua pequena e frágil economia, a Grécia mantém o mundo em suspense às vésperas da eleição legislativa marcada para amanhã. Uma vitória da esquerda radical aumentará drasticamente o risco de abandono da zona do euro, de calote da dívida pública e de mergulho numa crise muito mais profunda que a atual, com uma combinação devastadora de recessão e inflação. O impacto atingirá o sistema financeiro muito além das fronteiras nacionais. Países já sujeitos à forte pressão especulativa, como Espanha e Itália, poderão sofrer danos consideráveis. O efeito do nervosismo já é sensível na terceira maior economia da zona do euro, a italiana. No leilão de 4,5 bilhões de bônus realizado na quinta-feira, o Tesouro teve de oferecer uma remuneração de 5,3% para papéis com prazo de três anos. No mês passado, a taxa havia sido de 3,9%.

A onda de insegurança atinge tanto as famílias gregas, preocupadas com o risco de uma explosão inflacionária, quanto os executivos dos maiores grupos financeiros internacionais. Na Grécia, os cidadãos comuns têm corrido aos bancos para sacar dinheiro, numa tentativa de criar um colchão de segurança para o caso de um desastre. Saques diários de até 800 milhões foram registrados durante a semana. Parte desse dinheiro tem sido usada para a formação de estoques domésticos de alimentos de longa duração, como enlatados e massas. Um retorno à velha moeda nacional, a dracma, poderá resultar num violento surto inflacionário, mesmo num país com cerca de 22% de desempregados.

No extremo oposto da escala, os dirigentes dos grandes bancos entram em cena em mais um esforço para evitar o pior. Numa carta dirigida aos chefes de governo do Grupo dos 20 (G-20), executivos do Instituto de Finanças Internacionais (IIF) defenderam um afrouxamento da política de ajuste orçamentário imposta à Grécia e admitiram a possibilidade de um "modesto apoio financeiro adicional". Divulgada três dias antes da eleição, essa carta vale como um recado diplomático para os cidadãos e para os políticos gregos: os credores privados da Grécia estão dispostos a apoiar uma política mais branda e a entrar com mais dinheiro para permitir um ajuste mais longo. Há no texto uma referência explícita à "severa contração" já ocorrida na economia grega.

A carta foi divulgada pouco antes, também, da reunião de cúpula do G-20, prevista para começar na segunda-feira, em Los Cabos, no México. Os dirigentes do IIF pedem aos governantes ação mais resoluta contra a crise europeia, sugerem investimento direto do Mecanismo Europeu de Estabilização nos bancos espanhóis, para recapitalização, e defendem a adoção de políticas mais favoráveis ao crescimento em toda a região, sem abandono, é claro, dos esforços de arrumação orçamentária e de reformas estruturais. Os credores privados passam a apoiar explicitamente a combinação de ajuste e crescimento defendida pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e por vários chefes de governo europeus, como o presidente francês, François Hollande, e o primeiro-ministro italiano, Mario Monti.

Os líderes do G-20 deverão reunir-se com a atenção voltada para os resultados da eleição grega de amanhã e para os rumos indicados pelos prováveis participantes da coalizão de governo. Todos os dirigentes partidários têm-se declarado favoráveis à permanência do país na zona do euro, mas as bandeiras da extrema esquerda têm sido consideradas, até agora, dificilmente conciliáveis com esse objetivo.

A rejeição dos compromissos de austeridade e reformas assumidos em troca da ajuda externa - o segundo pacote envolve créditos de 130 bilhões - só pode resultar, segundo avaliação quase unânime, num rompimento com a união monetária. A carta dos dirigentes do IIF é um convite à conciliação. Para os bancos, a permanência da Grécia na zona do euro representa bem mais que um seguro contra um calote completo, depois do abatimento já negociado de mais de 50% da dívida.

Representa, principalmente, a contenção do risco de contágio, temido também por vários governos, a começar pelos de Portugal, Espanha e Itália.

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