Helvecio Santos (*)
Decidi! A hora é essa, vou lançar-me candidato a prefeito!
Ainda não sei quando começarei a campanha, mas de antemão adianto pontos que levarei em consideração.
Como não sei como está o caixa da prefeitura, não prometerei obras nem mundos e fundos.
Se prometesse, como de resto qualquer um, sem saber a situação do caixa, seria irresponsabilidade ou mentira mesmo.
Também não farei aquela campanha do político que brada aos quatro ventos:
“Sou a favor da educação”, “Sou a favor do transporte público“, “Sou a favor da saúde” e por aí vai.
Afinal, só um maluco seria contra a educação, o transporte público, a saúde etc.
Para evitar constrangimento alheio, aviso que quem estiver pensando trocar voto por dentadura, havaiana, meia dúzia de tijolo, areia, cabide de emprego e outras “cositas más”, desista! É perda de tempo tentar.
Responsabilidade e comprometimento com as causas municipais será a tônica desde a campanha.
Ah! Isso o meu eleitor terá, mas não me peçam honestidade!
Penso que honestidade é princípio básico de qualquer situação e congênito do ser humano. Sou até chato! Quem não é honesto para mim não é gente, não importa cargo, função, descendência ou posição social.
Bom, e o que farei se eleito?
De cara venderei o carrão com ar condicionado e comprarei um jeep tração nas quatro rodas. Para enfrentar a buraqueira e o lamaçal de nossas vias e estradas, principalmente as do interior, somente com um “traçado”.
Como sou pão duro mesmo, nesses quatro anos almoçarei, de surpresa, em todas as escolas municipais, estejam onde estiverem. Vou chegar, cumprimentar o corpo docente e pimba! Direto para o refeitório. Não farei visita avisada! Não quero banda de música e nem lixo jogado pra baixo do tapete. As escolas deverão estar limpas e preparadas, todos os dias do ano, para receber com dignidade os alunos e por extensão a mim.
Terei no máximo doze secretarias e não nomearei secretário por “naco” partidário.
Não fatiarei a administração municipal como bolo de festa.
Quem vota e elege é o povo e político, assim como qualquer cidadão, só tem o seu voto. Já vai longe o tempo em que os “coronéis” tinham curral eleitoral.
Os secretários e eu ocuparemos um grande salão, sem divisórias.
Trabalharemos em mesas separadas com uma grande mesa ao centro, para reuniões e um pool de secretárias do lado de fora do salão.
Não haverá audiência privada.
Não terei porta voz ou seja lá o que for. As ações falarão pelo governo.
Pela mesma lógica não gastarei dinheiro em publicidade.
O povo fará esse trabalho e, se a voz do povo é a voz de Deus, é só ouvir o som da rua para saber se o rumo está correto.
Todos os meses publicarei um relatório do que foi feito, o que foi gasto, o que pretendemos fazer e donde virão os recursos.
Isto não é publicidade e sim, prestação de contas.
O patrão é o povo e a ele deverá ser dado satisfação.
Do primeiro ao último dia do mandato baterei ponto na prefeitura usando bicicleta e aí, já adianto, priorizarei construção de ciclovias.
Como um cidadão comum que por esses acasos da vida está, temporariamente, à frente da gestão municipal, não aceitarei sentar no “Nossa”, na “Noca” ou em qualquer outro lugar e ao final receber um tapinha nas costas e o sorriso de “está tudo certo”.
Se a Martinha ou a Noca ou qualquer outro fizer isso, é um tiro no pé.
No dia seguinte o pessoal da fiscalização baterá ponto no estabelecimento.
Se antes não me faziam essa fidalguia, por que o fazem agora? Isso pra mim é propina e não aceito. Aliás, além de propina, beira a covardia, com meu polpudo salário de prefeito, aceitar essa benesse.
Cercar-me-ei do que penso ser o melhor que temos!
Convidarei Antenor Giovannini para secretário de Agricultura, Abastecimento e Comércio; Luiz Bianor Lima ou Luiz Carlos Botelho para secretário de Educação, Esporte e Lazer; Bruno Manuel Moura de Sousa para secretário de Saúde; Rubem Chagas para secretário de Obras; Raimundo Gonçalves para secretário do Interior; Emanuel Júlio Leite para secretário de Turismo; José Gumercindo Rebelo para secretário de Infra Estrutura; Evaldo Viana para secretário de Finanças; José Ronaldo Dias Campos para procurador do município; ainda não tenho meu secretário de Administração e meu secretário de Defesa do Meio Ambiente, mas ainda tenho bastante tempo para pensar.
O primeiro ano de governo será destinado a ações que independem do orçamento mas, que reputo, fundamentais para nos colocar na trilha que penso nos levarão a um futuro melhor.
São ações pontuais e que darão uma nova cara à cidade.
Assim, desobstruirei as calçadas para o trânsito de pedestres e disciplinarei os letreiros que tanto poluem o nosso visual; livrarei as ruas e praças da infestação de camelôs; formularei uma política para fazermos da cidade um grande horto florestal, plantando árvores nos espaços públicos e privados; regulamentarei a frota coletiva quanto a idade útil dos veículos; disciplinarei o nível da calçada dos imóveis e a murada dos terrenos desocupados; proibirei a docagem de barcos na frente da cidade, deslocando-os para o final da Prainha e como opção a Ponta Negra para períodos de espera.
Neste período farei também terraplanagem na praia em frente à cidade após o que serão colocadas, em toda extensão, traves para a prática de futebol, postes para redes de vôlei, demarcação para prática de frescobol, tudo com permanentes ações de limpeza e conservação.
Essas ações também serão feitas nas vilas de maior densidade populacional, notadamente em Alter do Chão, onde proibirei qualquer comércio na Ilha do Amor, retirando as barracas dos “boraris (?)” que lá negociam alimentos (de onde vem esse privilégio?), pois estas contribuem decisivamente para a poluição da praia e do rio.
Percebam que até este momento, que espero durará o primeiro ano do mandato, não gastei nenhum dinheiro em investimento. Gastarei somente verba estritamente necessária à manutenção.
Concomitantemente farei um enxugamento na folha de pagamento e, tenham certeza, como o Gazeta uma vez denunciou, socialite e nem ninguém fará dali cabide de emprego.
Não darei patrocínio gratuito a times de futebol, mesmo a meu amado LEÃO.
O dinheiro chegará mas de forma indireta e útil. Montarei postos de coleta onde serão trocadas garrafas pets por vales que valerão ingressos dos jogos. O esporte estará sendo incentivado e, de quebra, estaremos, com a reciclagem, livrando a cidade desse lixo.
Farei também um mapeamento urbano com definição de áreas de ocupação e um código de postura que deverão ser aprovados neste início de governo.
Passado este ano, já familiarizado com o orçamento municipal, anunciarei as obras que farei, tanto as de investimento quanto as de manutenção.
Prioridade, as escolas estarão sempre aparelhadas didática e materialmente e muito bem cuidadas. Os professores serão os melhores salários de meu governo. Penso que o professor é o jardineiro desse jardim chamado gente e é ele que definirá, juntamente com a família, o futuro que teremos através da formação de nossos jovens.
Creio também que a cidade é, prioritariamente, do pedestre. Assim, alargarei as calçadas e passeios públicos que serão arborizados, ajardinados e mobiliados.
Incansavelmente buscarei parcerias com outras esferas de poder e prestadoras de serviço para a construção de estação de tratamento de esgoto, esgotamento sanitário e instalação de fiação subterrânea.
Todas as obras – calçamento de ruas, construção de novas escolas, centros de convivência para a terceira idade, praças etc etc - terão a participação dos interessados, dizendo quando, onde e como serão feitas.
Uma grande campanha para conscientização de que a cidade é nossa e que ela será a cidade que cada um de nós quiser, enfocando a limpeza e o cuidado com o mobiliário urbano, será permanentemente desenvolvida.
Ah! Ia esquecendo, meu único luxo e disso não abro mão: a festa de início do governo terá a participação de artistas locais e o “Roupa Nova”, num show aberto para o patrocinador maior que é o povo da minha terra.
Como já disse, só após o primeiro ano anunciarei as obras que farei mas, com certeza, todo o orçamento será gasto em benefício do povo.
Sem querer ofender, até porque isso não acontece por essas bandas, afirmo que não sairei com um tostão que não seja dinheiro do salário de prefeito que, comparado à média do salário dos munícipes, é muito bom.
Penso que na vida você faz um pacto com Deus ou com o diabo.
Apropriar-se do que não é seu é fazer pacto com o diabo e um dia, como sócio, o capeta vem cobrar a sua parte. Para mim dinheiro não traz felicidade e não acredito, como dizem uns idiotas, que o dinheiro não traz, mas compra felicidade. Se assim fosse, o cidadão mais feliz do Brasil seria o Eike Batista, pois tem dinheiro para comprar o que quiser.
Opa! O que quiser? Nem tudo e uma dessas coisas é a felicidade.
Não sei se deixarão eu terminar o mandato mas, se terminar, no último dia, após a cerimônia democrática de transmissão do cargo, chave do cofre passado a outro ou a outra, pegarei minha bicicleta e rumarei para o Panela Cheia.
Almoçarei uma pescada de forno engenho e arte do meu sobrinho, “chef” Gegê e, de sobremesa, gelatina delicadamente preparada pela sobrinha Carminha.
No final do dia farei, como sempre faço, caminhada no cais apreciando o por do sol.
A vida é bela e, missão cumprida, até o resto dos meus dias curtirei a graça que Deus me deu.
Qual graça? Bom, nunca pedi a Ele que me fizesse rico, mas sempre pedi a Ele que me fizesse feliz!
Felizmente, posso contar com seu voto?
(*) Advogado/Economista , morador no Rio de Janeiro e torcedor número 1 do São Francisco de Santarém
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