José Luiz Portella Pereira (*)
As cidades são feitas para as pessoas. Para nós. Foram feitas para aproximar as pessoas e aumentar as oportunidades de cada um garantir a sua sobrevivência. Facilitam ofertar nossa capacidade de trabalho e encontrarmos os bens e serviços que necessitamos.
Hoje, nas grandes cidades, vivemos pior do que antes.
A causa é termos invertido a lógica da coisa. O crescimento das cidades, de forma desordenada e contemplando interesses econômicos específicos, conduz o processo. Nós nos adaptamos resignadamente.
O rabo abana o cachorro.
Jan Gehl, arquiteto consagrado, diz que mudou totalmente os conceitos apreendidos na faculdade a partir do momento que enxergou a arquitetura e o urbanismo pela dimensão humana. Pelo movimento das pessoas. O conceito dele é que a forma, os prédios, os equipamentos urbanos, não podem prevalecer sobre a vida humana.
Com exatidão, ele percebeu que dois eventos mudaram a vida das cidades e inverteram o jogo.
A invasão do carro e o modernismo na arquitetura.
Quando o carro se tornou acessível a muita gente foi uma festa. As cidades se renderam à, sua Excelência, o carro. Que propiciava sem dúvida uma nova forma de liberdade de locomoção. Liberdade e "status social". Ele tomou conta das ruas. E a reinar.
Novas ruas, novas avenidas foram construídas para ele. O trânsito ainda não era insuportável e não havia a desculpa de se andar de carro porque não há transporte público decente e suficiente. Mais ruas, mais carros. Vide Los Angeles.
Já o modernismo na arquitetura privilegiou a forma. O ser humano era o complemento. A forma acima do cotidiano está explícita em Brasília. A arquitetura dos prédios e o traçado urbano baseado no modelo de um avião, se impuseram. O ser humano que se adequasse a eles. Avenidas amplas, hoje congestionadas pelos carros, relegaram a caminhada a um exercício de solidão. Os prédios dos ministérios e do Palácio do Planalto são apertados e péssimos para o trabalho, o da Alvorada um local ruim de morar. A forma é bela.
Inutilmente bela.
Discutimos mais a repercussão dos fatos que nos incomodam do que as causas. Vamos continuar sofrendo, sem a solução.
Imaginamos que o desconforto do trânsito possa ser eliminado com uma canetada ou uma medida milagrosa. De uma hora para outra.
É preciso eliminar as causas para construir uma cidade mais agradável. Abrir mão de costumes e privilégios.
Metrópoles como São Paulo e Rio só tem um jeito: voltarem para a dimensão humana. Projetar a cidade para o pedestre, para o ciclista, para o transporte público.
Hoje, os estudos mostram diagnóstico indiscutível: quanto mais trânsito, menos as pessoas se conhecem, menos desejam se conhecer, a integração social desaba.
A solução é integrar a vida das pessoas ao desenho e forma da cidade.
Acreditar no projeto, ter persistência e paciência para a transição. Não se conserta a cidade num lance. Levamos décadas construindo esse caos.
O importante é que o cachorro volte a controlar a cauda.
Nem o carro nem os prédios são prioritários.
(*) Engenheiro civil especializado em gerenciamento de projetos, orçamento público, transportes e tráfego. Foi secretário-executivo dos Ministérios do Esporte e dos Transportes, secretário estadual dos Transportes Metropolitanos e de Serviços e Obras da Prefeitura de São Paulo
As cidades são feitas para as pessoas. Para nós. Foram feitas para aproximar as pessoas e aumentar as oportunidades de cada um garantir a sua sobrevivência. Facilitam ofertar nossa capacidade de trabalho e encontrarmos os bens e serviços que necessitamos.
Hoje, nas grandes cidades, vivemos pior do que antes.
A causa é termos invertido a lógica da coisa. O crescimento das cidades, de forma desordenada e contemplando interesses econômicos específicos, conduz o processo. Nós nos adaptamos resignadamente.
O rabo abana o cachorro.
Jan Gehl, arquiteto consagrado, diz que mudou totalmente os conceitos apreendidos na faculdade a partir do momento que enxergou a arquitetura e o urbanismo pela dimensão humana. Pelo movimento das pessoas. O conceito dele é que a forma, os prédios, os equipamentos urbanos, não podem prevalecer sobre a vida humana.
Com exatidão, ele percebeu que dois eventos mudaram a vida das cidades e inverteram o jogo.
A invasão do carro e o modernismo na arquitetura.
Quando o carro se tornou acessível a muita gente foi uma festa. As cidades se renderam à, sua Excelência, o carro. Que propiciava sem dúvida uma nova forma de liberdade de locomoção. Liberdade e "status social". Ele tomou conta das ruas. E a reinar.
Novas ruas, novas avenidas foram construídas para ele. O trânsito ainda não era insuportável e não havia a desculpa de se andar de carro porque não há transporte público decente e suficiente. Mais ruas, mais carros. Vide Los Angeles.
Já o modernismo na arquitetura privilegiou a forma. O ser humano era o complemento. A forma acima do cotidiano está explícita em Brasília. A arquitetura dos prédios e o traçado urbano baseado no modelo de um avião, se impuseram. O ser humano que se adequasse a eles. Avenidas amplas, hoje congestionadas pelos carros, relegaram a caminhada a um exercício de solidão. Os prédios dos ministérios e do Palácio do Planalto são apertados e péssimos para o trabalho, o da Alvorada um local ruim de morar. A forma é bela.
Inutilmente bela.
Discutimos mais a repercussão dos fatos que nos incomodam do que as causas. Vamos continuar sofrendo, sem a solução.
Imaginamos que o desconforto do trânsito possa ser eliminado com uma canetada ou uma medida milagrosa. De uma hora para outra.
É preciso eliminar as causas para construir uma cidade mais agradável. Abrir mão de costumes e privilégios.
Metrópoles como São Paulo e Rio só tem um jeito: voltarem para a dimensão humana. Projetar a cidade para o pedestre, para o ciclista, para o transporte público.
Hoje, os estudos mostram diagnóstico indiscutível: quanto mais trânsito, menos as pessoas se conhecem, menos desejam se conhecer, a integração social desaba.
A solução é integrar a vida das pessoas ao desenho e forma da cidade.
Acreditar no projeto, ter persistência e paciência para a transição. Não se conserta a cidade num lance. Levamos décadas construindo esse caos.
O importante é que o cachorro volte a controlar a cauda.
Nem o carro nem os prédios são prioritários.
(*) Engenheiro civil especializado em gerenciamento de projetos, orçamento público, transportes e tráfego. Foi secretário-executivo dos Ministérios do Esporte e dos Transportes, secretário estadual dos Transportes Metropolitanos e de Serviços e Obras da Prefeitura de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário