segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A contribuição da agricultura

Opinião do Estadão

Mais uma safra recorde de grãos e oleaginosas está sendo obtida no Brasil, neste ano, segundo as novas estimativas. A produção de algodão, arroz, feijão, milho, soja, trigo e outros produtos anuais de menor volume é agora calculada em 147,1 milhões de toneladas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Um número pouco menor e também recorde - 146,4 milhões - é indicado pelo IBGE. As lavouras da temporada 2009-2010 estão quase todas colhidas e em breve os produtores começarão a cuidar do plantio das culturas de verão.

O bom desempenho da agricultura neste ano, especialmente das produções de milho e soja, estimulou as compras de máquinas e equipamentos para o campo e também os empresários da indústria mecânica têm motivos para festejar.
No mercado interno, foram vendidas no atacado, entre janeiro e julho, 41,4 mil unidades de tratores, colheitadeiras e outras máquinas agrícolas automotrizes. Essas vendas foram 48,6% maiores que as de igual período de 2008 e 2009 e indicam a disposição dos produtores de continuar reforçando tecnicamente o setor agrícola - uma reação normal quando a produção vai bem.

Mais uma vez os ganhos de produtividade, garantidos pelo tempo favorável e pelo uso de tecnologia, permitiram aumentar o volume colhido sem ampliar a área cultivada. Segundo a nova estimativa da Conab, a área usada na safra 2009-2010 - 47,3 milhões de hectares - foi 0,7% menor que a do ano agrícola anterior.
Nas últimas duas décadas, o aumento da eficiência possibilitou grandes aumentos de produção com pouca expansão das terras ocupadas pelas lavouras de grãos e oleaginosas.
Esses dados contrastam fortemente com a imagem frequentemente difundida de uma ocupação desenfreada de terras para o cultivo de produtos exportáveis. Mas esses ganhos de produtividade com certeza incomodam concorrentes, especialmente nos EUA e na Europa.

A produção foi suficiente para garantir o abastecimento interno e para a sustentação de grandes vendas ao exterior.
De janeiro a junho o agronegócio exportou produtos no valor de US$ 35 bilhões e o superávit comercial do setor chegou a US$ 28,9 bilhões. Foi 7% maior que o do primeiro semestre do ano anterior, em contraste com o minguante saldo total do comércio exterior brasileiro. Mais que nos anos anteriores, o saldo geral das transações comerciais foi sustentado pelas exportações de alimentos e matérias-primas originárias do campo.
Mas o panorama revelado pelos últimos levantamentos da safra e das condições de suprimento não é uniforme. Embora a produção tenha sido suficiente para garantir um abastecimento sem problemas, várias colheitas, incluídas as de arroz, feijão e algodão, foram menores que as da safra anterior. O trigo da safra 2010-2011 já foi plantado e será colhido, na maior parte, até a primeira quinzena de novembro. A produção está estimada em 5,3 milhões de toneladas, maior que a anterior, de 5 milhões.

Pelas estimativas da Conab, os estoques finais de algodão em pluma, arroz em casca, feijão de cores e trigo serão menores na safra 2009-2010 do que na anterior. Os estoques de milho, soja e derivados de soja deverão aumentar. Não há razão para prever problemas de abastecimento, mas a margem de segurança diminuirá sensivelmente no caso de alguns produtos.
Os formuladores da política - não só o ministro da Agricultura, mas também os da Fazenda e do Planejamento - deveriam refletir logo sobre esses dados. O plano de safra para a nova temporada já foi anunciado, mas uma avaliação cuidadosa das condições de suprimento e da evolução provável dos estoques poderá mostrar a conveniência de algum ajuste nas políticas de preços mínimos e de financiamento.

Os produtores logo deverão decidir como será o plantio das culturas de verão. Sua escolha dependerá em boa parte dos estímulos apresentados pelo governo. Uma boa safra será especialmente importante para facilitar a vida do novo governo em seu primeiro ano.






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