Augusto Nunes (*)
Se Lula não fosse um redundante incurável, pareceria coisa combinada.
“Os tucanos que governam São Paulo faz 15 anos não fizeram nada de importante para o povo”, mentiu em 24 de agosto de 2009 o presidente que desde o primeiro dia no Planalto discriminou financeira e politicamente o Estado que o acolheu. Os institutos de pesquisa informam que o povo discorda, repliquei neste espaço no mesmo dia: a grande maioria dos brasileiros de São Paulo está muito satisfeita com o que Mário Covas e Geraldo Alckmin fizeram ─ e aprova o que José Serra tem feito.
Nesta terça-feira, exatamente um ano depois, o palanqueiro em campanha reprisou a malandragem eleitoreira: “Os tucanos que governam São Paulo faz 16 anos não fizeram nada de importante para o povo”, plagiou-se o único presidente da história que (se não há por perto outro escândalo recomendando silêncio) discursa todos os dias. Como Lula repetiu a mentira, tenho de repetir a verdade.
Boa parte do povo paulista não se limita a achar que os governadores tucanos fizeram muita coisa: também deixa claro que se sentiria devedora dos eleitos mesmo que não tivessem feito nada além de tomarem posse. Mereceriam a gratidão dos paulistas por terem impedido que outros fizessem o que tramaram. Manter o perigo longe do Palácio dos Bandeirantes vale um programa de governo inteiro, sugere o histórico das eleições estaduais.
Em 1982, por exemplo, quando o PSDB nem existia, a vitória de Franco Montoro não só desencadeou a agonia da seita malufista como retardou o início da Era da Mediocridade, que teria começado duas décadas mais cedo se o candidato Luiz Inácio Lula da Silva ganhasse a eleição. Mário Covas livrou São Paulo de José Dirceu em 1994 e, quatro anos mais tarde, de Marta Suplicy (além de Paulo Maluf). Em 2002, Geraldo Alckmin evitou que José Genoíno se homiziasse no Palácio dos Bandeirantes. Em 2006, José Serra devolveu Aloízio Mercadante à rotina de retiradas prematuras, rendições sem luta e capitulações degradantes.
Desde 1994 tem sido assim: quando a eleição estadual se aproxima, o PT não lança candidatos; lança ameaças. Em 14 anos, foram neutralizadas seis candidaturas de alto risco. É uma obra e tanto. Caso fossem consumadas, a galeria dos governadores teria de incorporar dois retratos dos mesmos personagens. Marta Suplicy sorriria para a posteridade no dia da posse e, muitos anos mais nova, no fim do mandato. Os demais teriam um retrato de frente e outro de perfil.
Lula parece decidido a, simultaneamente, eleger uma ameaça e vingar-se de São Paulo.
Antes de ofender os paulistas com a recidiva de Mercadante, o presidente planejou castigá-los com Antonio Palocci e Ciro Gomes. O cortejo que inclui o chefe da organização criminosa sofisticada e o gerente do PT mensaleiro, que afundaram no maior escândalo do Brasil republicano, poderia ter incorporado um estuprador de sigilo bancário e um tribuno de cortiço, ambos desviados do fiasco pelo instinto de sobrevivência. Restou a Lula ordenar a Mercadante que naufragasse outra vez.
O senador em fim de mandato teria diminutas chances de vitória mesmo nos tempos em que São Paulo, uma perfeita tradução do mosaico brasileiro, escolhia governadores com muita ligeireza e pouco juízo ─ pecados ainda frequentes na escolha de representantes no Congresso. Antes de consolidar-se a opção preferencial pela honestidade, pela sensatez e pela competência administrativa, os paulistas elegeram meia dúzia de gatunos, duas ou três cavalgaduras, até a um napoleão-de-hospício. Mas nunca entregaram o comando do Estado a um governador poltrão.
(*) Ex-Diretor do Jornal do Brasil, do Jornal Gazeta Mercantil e Revista Forbes.
Atualmente na Revista Veja.
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