José Cruz
Em reunião no Comitê Olímpico Brasileiro, Marina Silva, candidata à presidência da República, prometeu apoio aos atletas que vão aos Jogos de Londres, em 2012.
Mudam os candidatos, repetem-se os discursos.
Não é de apoio que o esporte precisa, mas de projetos integrados, para não repetir o chavão de que nos falta uma política para o esporte de rendimento.
O domínio do noticiário da Copa do Mundo ofuscou temporariamente os bastidores do esporte e suas repercussões políticas.
Nesse ambiente prosperou, silenciosamente, um confronto institucional entre as principais entidades do setor, o Ministério do Esporte e o Comitê Olímpico Brasileiro.
A mais recente indisposição pública entre as duas entidades foi durante a Conferência Nacional do Esporte, em Brasília, quando o COB se ausentou dos debates e votações das propostas para formular uma política para o setor.
A conferência – “Por um time chamado Brasil” – aprovou metas para tentar colocar o país no top 10 dos do quadro olímpico, nos Jogos de 2016, no Rio de Janeiro.
Indagado se o COB conhecia as centenas de propostas – debatidas inicialmente em níveis municipal e regional – o secretário de Esporte de Alto Rendimento do Ministério do Esporte, Ricardo Leyser Gonçalves, afirmou que o documento foi remetido para o presidente Carlos Arthur Nuzman, mas não recebeu qualquer resposta. “Acho que ele não gostou”, resumiu.
Do Rio de Janeiro, a assessoria de Nuzman informou que “o COB participou das etapas preparativas para a Conferência, sempre com um representante nas reuniões. Porém, por problemas de agenda e compromissos internacionais, esses representantes (Marcus Vinícius, Bernard Rajzman e Christiane Paquelet) não puderam participar dos debates, embora o Bernard tenha representado o COB na abertura do evento.”
Invasão
Numa platéia de 1.020 delegados de todos os estados, que foram a Brasília com passagem e hospedagem pagas pelos cofres públicos, a Conferência Nacional aprovou, por exemplo, a “criação e implantação do Plano de alto Rendimento permanente a partir de planejamento integrado por modalidades, com gestão de profissionais especialistas nas ciências do esporte e gestão esportiva”.
Outra ação determina a implantação da “Rede de Treinamento nas cinco regiões brasileiras, até 2014”, tudo por iniciativa do governo federal.
Na prática, trata-se de uma ousada intromissão do Estado nas competências de confederações, federações e clubes. Pior: agride a lei maior do esporte (n. 9.615/98 – a Lei Pelé), que institui o Sistema Nacional do Esporte e confere tais competências à hierarquia esportiva liderada pelos comitês Olímpico e Paraolímpico.
Alerta
Desde o final dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007 – cujo balanço financeiro e material ainda não se conhece – o ministro do Esporte, Orlando Silva, defende maior participação do governo na gestão dos recursos financeiros destinados aos esportes de rendimento.
Principal financiador do olimpismo e paraolimpismo, via orçamento público, loterias federais e seis estatais (Banco do Brasil, Caixa, Petrobras, Infraero, Correios e Eletrobrás), o governo nunca participou da gestão desses recursos. E é essa situação que Orlando Silva quer mudar.
O COB faz os seus planos contando com o dinheiro público, enquanto o Ministério do Esporte projeta suas metas no mesmo setor.
Cada um falando sozinho e a candidata Marina – como os demais candidatos, quem sabe – viajando na maionese.
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