J. Ninos (*)
Na tristeza
Do vazio baldeNo arrabalde
Ou no centro da cidade
A sede é grande
Como grande
É a sede onde se decide
Quem bebe
E quem não bebe
Das águas escondidas
A cidade se afoga
Em suas águas
Em suas mágoas
Em sua sede
Em sua rede de distribuição
Sem as peças de reposição
De uma máquina
Há muito enguiçada
(Continuamos Sem Água
Nessa Pérola Abandonada!]
Cidade esganiçada
Cede ao vil capricho
Do teu sicário
E vira bicho dromedário:
Lata d’água na cabeça!
Lá vai o operário
Lá vai a servente
Lá vai toda essa gente
Saciar a sua sede
Na bica do vizinho
Que tem poço…
- Tenho sede, moço!
Sede não só de água
Mas de justiça
De inverter a história
E acabar a mesma estória
De morrer de sede
Na cidade das águas…
É preciso que essa gente
Seja mais que turbilhão
Mais que multidão
Capaz de romper a represa
Fazer a surpresa
Virar corredeira!
Virar inundação!
Sede água, gente!
Vós que tendes
Água que corre nas veias
Água ribeirinha
Água ribeirão
Sede água, gente!
Abre as comportas de vosso coração
Cheio de revolta e de opressão
Faz-te a pressão da água
Rompe os dutos da incompetência!
Racha os canos da indecência!
Sede água, gente!
Sede igarapé!
Sede riacho!
Sede fé!
Pois se não puderes ser, serás o quê?
Um filete de água?
Ou o leito seco da tua pia
Que nem água na boca dá?
Sede água, gente!
Sede rio!
Que segue pro mar
E mata a sede
De quem tem sede
De amar…
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(*) Jornalista e Poeta Santareno
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