Augusto Nunes (*)
Se alguém perguntar se sabe o que é Funafuti, Lula vai imediatamente exigir, com uma expressão maliciosa, um punhado de detalhes picantes.
Se alguém sugerir que vá para Tuvalu, estará exposto a um acesso de cólera do presidente perplexo com o insulto.
Ele acabou de autorizar a instalação em Funafuti, capital do país, da embaixada do Brasil em Tuvalu. Como não lê o que assina, nem conferiu na diagonal o texto do decreto 7.1297 de 2 de junho de 2010, que acrescentou mais uma extravagância à procissão de representações diplomáticas ampliada irresponsavelmente pelo Itamaraty de Celso Amorim. É compreensível que pense que Funafuti é alguma coisa proibida para menores e que Tuvalu é um palavrão em língua estranha.
A agenda de 2 de junho informa que Lula assinou a certidão de nascimento do filhote caçula do Itamaraty às 11 da manhã de uma quarta-feira mansa. Despachou com Gilberto Carvalho, foi entrevistado pela TV Esporte Interativo, depois pela TV Bandeirantes e, antes da audiência com o ministro da Educação, Fernando Haddad, subscreveu o papelório que Amorim lhe entregou.
Teve tempo de sobra para leituras. Faltaram ânimo e interesse.
Há mais de sete anos empenhado na obtenção de uma vaga no Conselho de Segurança da ONU, o presidente não cria embaixadas: espalha comitês de campanha. Deve haver ao menos um em qualquer país com direito a voto. Pode ser a Bélgica. E pode ser Tuvalu.
Encarregado de “chefiar cumulativamente” o exotismo. o embaixador na Nova Zelândia recebeu a missão de garantir o endosso de Tuvalu aos devaneios megalomaníacos das potência emergente. É tudo. Não há outros interesses a defender, muito menos negócios a fazer, nesse agrupamento de nove atóis coralinos perto da Polinésia, nas lonjuras do Pacífico, habitado por menos de 13 mil tuvaluanos, 4.500 dos quais alojados na capital, Funafuti. Todos são súditos da rainha da Inglaterra desde que foi instituída a monarquia constitucional associada à Commonwealth.
Elizabeth II é a chefe de Estado e nomeia o governador-geral. Mas quem manda mesmo é o primeiro-ministro, escolhido pelos 15 integrantes do Parlamento. Por falta de emissoras de rádio e televisão, quem deseja informar-se tem de comprar as edições quinzenais do único jornal do lugar. A tiragem segue estacionada em 500 exemplares.
A economia é baseada na exportação de copra, a polpa seca do coco, e pandano, planta comestivel também usada em artesanato. Complementadas pelo arrendamento da bandeira nacional a navios de origem tão suspeita quanto as atividades dos tripulantes, essas fontes de renda mantêm o PIB na faixa dos US$ 15 milhões.
Enquanto perde eleições sucessivas na sede da ONU em Nova York, o governo Lula estreita relações com aberrações longínquas, cobre de favores os vizinhos cucarachas, fecha acordos com ditaduras repulsivas, perdoa dívidas de larápios africanos ─ e planta embaixadas compulsivamente nos grotões do planeta, como atesta o caso de Funafuti. Para quê? Para nada.
A seis meses do fim do mandato, Lula continua torrando o dinheiro dos pagadores de impostos com a placidez do inquilino que prorrogou unilateralmente o contrato de aluguel.
Alguém precisa avisá-lo de que o prazo para a saída não mudou.
Se não quiser voltar para casa, os brasileiros que sustentam a gastança vão acabar mandando Lula para Tuvalu.
(*) Ex-Diretor do Jornal do Brasil, do Jornal Gazeta Mercantil e Revista Forbes. Atualmente na Revista Veja.
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