Opinião do Estadão
A cada dia surgem novos sinais de que a implantação - aos trancos e barrancos - de mais de 300 quilômetros de faixas exclusivas de ônibus, no curto espaço de um ano, está muito longe de ser a maravilha que o governo de Fernando Haddad vive alardeando. Os transtornos causados pela faixa do Viaduto Pacaembu, mostrados em reportagem do Estado, são exemplo das consequências de decisões dessa importância tomadas sem estudos prévios. Se existem, permanecem guardados a sete chaves.
Desde que foi inaugurada no final do ano, estava evidente para qualquer observador minimamente atento que era praticamente impossível que aquela faixa trouxesse os benefícios dela esperados. Se fossem mantidas as faixas de rolamento ali existentes, destinando apenas aos ônibus a da esquerda, já por eles usada habitualmente, os resultados seriam no mínimo duvidosos. Com a explicação de que era preciso deixar um espaço para os pedestres, protegido por barreira, as faixas foram reduzidas a três. Como já existia um espaço para os pedestres - e tanto era suficiente que não se conhecem registros de acidentes ali acima da média -, tudo indica que a redução se deve à forma atabalhoada e improvisada com que a Prefeitura vem implantando as faixas.
O resultado da eliminação de uma faixa só poderia ser o afunilamento do tráfego, que dispõe de quatro faixas na Avenida Pacaembu e desemboca no Viaduto. O congestionamento nessa via e suas adjacências é inevitável e vai ficar muito pior com o aumento do tráfego no fim das férias escolares. Como os técnicos da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) não viram isso? Ou então eles viram, sim, mas foram atropelados pela pressa e o improviso do secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, e do prefeito Haddad.
Para resolver o problema, a CET diz que "estão sendo desenvolvidos estudos para identificação e efetivação dos ajustes necessários para aumentar a eficiência e a eficácia do sistema de transporte público coletivo e diminuir o impacto gerado pela faixa exclusiva". Deixando de lado a linguagem arrevesada da CET, o que se deseja saber é por que, diabos, esses estudos não foram feitos antes, já que era evidente que o afunilamento aconteceria.
Essa falta de planejamento fica também evidente na mais recente faixa implantada, nas Ruas Cerro Corá e Heitor Penteado. Ela é exclusiva para os ônibus de segunda a sexta-feira das 6 às 9 horas, no sentido centro, e das 17 às 20 horas, no sentido bairro. Nesses horários o comércio se ressente fortemente da limitação, porque, como essas faixas são à direita, os carros não podem nem parar para deixar os clientes.
Além disso, nessas duas ruas os carros dispõem agora de apenas uma faixa naqueles horários, o que está congestionando o trânsito. Chamar a implantação das faixas de Operação Dá Licença para o Ônibus é uma forma demagógica e irresponsável de iludir a população, criando a falsa impressão de que para fugir dos congestionamentos basta trocar os carros pelos ônibus. Seria muito bom que isso fosse verdade, porque a prioridade deve ser mesmo para o transporte coletivo. Mas, já superlotados, os ônibus não têm condições de absorver nem mesmo uma pequena parcela dos usuários de carros, veículos que são responsáveis por um terço dos deslocamentos feitos diariamente na capital.
Se as faixas são mesmo tudo o que dizem, por que Haddad e Tatto não exibem estudos sérios e confiáveis provando isso? Divulgar declarações isoladas de um ou outro usuário contente não significa nada.
A menos que a Prefeitura tenha aderido à tese do SP-Urbanuss, o sindicato das empresas de ônibus, segundo a qual "o ganho maior está relacionado à sensação dos usuários, no que se refere à melhoria da qualidade do serviço e à percepção da importância que as autoridades passaram a dar ao transporte coletivo". Essa tese da "sensação" seria cômica, se não fosse antes uma agressão à inteligência dos paulistanos.
Assinale-se também que causa estranheza o entusiasmo do SP-Urbanuss com as faixas, pois seus interesses não costumam coincidir com os da população.
A cada dia surgem novos sinais de que a implantação - aos trancos e barrancos - de mais de 300 quilômetros de faixas exclusivas de ônibus, no curto espaço de um ano, está muito longe de ser a maravilha que o governo de Fernando Haddad vive alardeando. Os transtornos causados pela faixa do Viaduto Pacaembu, mostrados em reportagem do Estado, são exemplo das consequências de decisões dessa importância tomadas sem estudos prévios. Se existem, permanecem guardados a sete chaves.
Desde que foi inaugurada no final do ano, estava evidente para qualquer observador minimamente atento que era praticamente impossível que aquela faixa trouxesse os benefícios dela esperados. Se fossem mantidas as faixas de rolamento ali existentes, destinando apenas aos ônibus a da esquerda, já por eles usada habitualmente, os resultados seriam no mínimo duvidosos. Com a explicação de que era preciso deixar um espaço para os pedestres, protegido por barreira, as faixas foram reduzidas a três. Como já existia um espaço para os pedestres - e tanto era suficiente que não se conhecem registros de acidentes ali acima da média -, tudo indica que a redução se deve à forma atabalhoada e improvisada com que a Prefeitura vem implantando as faixas.
O resultado da eliminação de uma faixa só poderia ser o afunilamento do tráfego, que dispõe de quatro faixas na Avenida Pacaembu e desemboca no Viaduto. O congestionamento nessa via e suas adjacências é inevitável e vai ficar muito pior com o aumento do tráfego no fim das férias escolares. Como os técnicos da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) não viram isso? Ou então eles viram, sim, mas foram atropelados pela pressa e o improviso do secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, e do prefeito Haddad.
Para resolver o problema, a CET diz que "estão sendo desenvolvidos estudos para identificação e efetivação dos ajustes necessários para aumentar a eficiência e a eficácia do sistema de transporte público coletivo e diminuir o impacto gerado pela faixa exclusiva". Deixando de lado a linguagem arrevesada da CET, o que se deseja saber é por que, diabos, esses estudos não foram feitos antes, já que era evidente que o afunilamento aconteceria.
Essa falta de planejamento fica também evidente na mais recente faixa implantada, nas Ruas Cerro Corá e Heitor Penteado. Ela é exclusiva para os ônibus de segunda a sexta-feira das 6 às 9 horas, no sentido centro, e das 17 às 20 horas, no sentido bairro. Nesses horários o comércio se ressente fortemente da limitação, porque, como essas faixas são à direita, os carros não podem nem parar para deixar os clientes.
Além disso, nessas duas ruas os carros dispõem agora de apenas uma faixa naqueles horários, o que está congestionando o trânsito. Chamar a implantação das faixas de Operação Dá Licença para o Ônibus é uma forma demagógica e irresponsável de iludir a população, criando a falsa impressão de que para fugir dos congestionamentos basta trocar os carros pelos ônibus. Seria muito bom que isso fosse verdade, porque a prioridade deve ser mesmo para o transporte coletivo. Mas, já superlotados, os ônibus não têm condições de absorver nem mesmo uma pequena parcela dos usuários de carros, veículos que são responsáveis por um terço dos deslocamentos feitos diariamente na capital.
Se as faixas são mesmo tudo o que dizem, por que Haddad e Tatto não exibem estudos sérios e confiáveis provando isso? Divulgar declarações isoladas de um ou outro usuário contente não significa nada.
A menos que a Prefeitura tenha aderido à tese do SP-Urbanuss, o sindicato das empresas de ônibus, segundo a qual "o ganho maior está relacionado à sensação dos usuários, no que se refere à melhoria da qualidade do serviço e à percepção da importância que as autoridades passaram a dar ao transporte coletivo". Essa tese da "sensação" seria cômica, se não fosse antes uma agressão à inteligência dos paulistanos.
Assinale-se também que causa estranheza o entusiasmo do SP-Urbanuss com as faixas, pois seus interesses não costumam coincidir com os da população.
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