Ricardo Noblat (*)
Concorda com a frase ‘Na política nunca podemos dizer nunca’?
Bem, eu concordo. E parto dela para compartilhar com vocês o que penso.
Por exemplo: Sarney apoiou a ditadura militar de 1964 até à véspera de ela cair 21 anos depois. Então, rapidinho, passou para o lado dos que a combatiam. Entendeu?
É confuso. Outro exemplo? Em 1989, Lula e Collor brigaram pela presidência da República. Collor ganhou chamando Lula de comunista. Lula perdeu chamando Collor de desonesto. Hoje, um apoia o outro.
Último exemplo?
Foi Lula quem fez Joaquim Barbosa ministro do Supremo Tribunal Federal. Os dois sempre estiveram do mesmo lado.
No último sábado, sem citar o nome dele, Lula bateu duro em Joaquim. Acusou-o de ter condenado inocentes. Sugeriu que Joaquim será candidato a alguma coisa.
Por que Lula procedeu assim? Porque o ministro Marco Aurélio Mello, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, contou à VEJA o que ouviu de Joaquim no final do ano passado. Em resumo, Joaquim disse que cansara. A experiência de ser ministro já estava de bom tamanho para ele. Desde então, segundo Marco Aurélio, “ventila-se” no Supremo Tribunal Federal (STF) que Joaquim será candidato à vaga de Dilma.
(Contenha a euforia, Noblat!)
Em 2005, estourou o escândalo do mensalão que quase derrubou o governo.
Mensalão foi o nome dado ao esquema de compra de votos com dinheiro público para que Lula governasse.
Nunca teve nome o esquema de compra de votos no Congresso que permitiu a reeleição de Fernando Henrique.
Política é negócio. Um negócio milionário. Dê-me o que quero e lhe darei o que você quer. Nada sai de graça.
Estou dando voltas porque escrevo cansado. Vamos adiante, todavia.
Ameaçado pelo escândalo, Lula ocupou uma cadeia nacional de rádio e de televisão para pedir desculpas aos brasileiros, negar que existira mensalão e se dizer traído. Suas mãos tremiam.
Mensalão? Jamais ouvira falar, disse. Corrigindo: ouvira uma vez, sim senhor.
Foi quando recebeu em audiência o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), seu aliado. Mandou investigar o que Jefferson lhe contou. A investigação no Congresso durou uma semana. Nada foi descoberto.
Lula ouviu falar do mensalão pela segunda vez quando visitou Goiás.
O governador Marconi Perillo alertou-o para a compra do passe de deputados. E Lula?
Na boa... Nem aí.
Temeu-se depois que ele fosse capaz de se matar. Foi salvo pelo ministro José Dirceu.
(Se gosto de Dirceu? Gosto sim, política à parte)
Quanto aos traidores...
Bem, Lula não apontou nomes de traidores. Afinal, como reclamar do julgamento daqueles que o traíram? Incoerência total. Falta de compromisso com a verdade.
Nada que seja estranho à política cujas bases são a mentira, a fraude e a enganação.
Lula não parecia um político melhor nem pior do que qualquer outro.
Era diferente apenas. Deixou de ser.
Poderia ter dito com toda a clareza possível que seus traidores não foram esses que estão atrás das grades. E mais o que está preso na Itália. E nem os que estão dentro do STF. Seria a forma mais eficiente de defendê-los. Mas tal coisa seria o mesmo que admitir que o mensalão existiu. E que ele, Lula, de fato fora traído.
O silêncio é a mais preciosa lei da máfia. E ele tem preço. Tanto no caso do traidor como no de quem se sente traído.
Ensinam os manuais sobre traições: morra sem confessar. Se for o caso, valerá o preço de ir para o inferno mentindo.
Que saudade de O Poderoso Chefão.
(*) Jornalista é responsável pelo Blog do Noblat do jornal O Globo
Concorda com a frase ‘Na política nunca podemos dizer nunca’?
Bem, eu concordo. E parto dela para compartilhar com vocês o que penso.
Por exemplo: Sarney apoiou a ditadura militar de 1964 até à véspera de ela cair 21 anos depois. Então, rapidinho, passou para o lado dos que a combatiam. Entendeu?
É confuso. Outro exemplo? Em 1989, Lula e Collor brigaram pela presidência da República. Collor ganhou chamando Lula de comunista. Lula perdeu chamando Collor de desonesto. Hoje, um apoia o outro.
Último exemplo?
Foi Lula quem fez Joaquim Barbosa ministro do Supremo Tribunal Federal. Os dois sempre estiveram do mesmo lado.
No último sábado, sem citar o nome dele, Lula bateu duro em Joaquim. Acusou-o de ter condenado inocentes. Sugeriu que Joaquim será candidato a alguma coisa.
Por que Lula procedeu assim? Porque o ministro Marco Aurélio Mello, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, contou à VEJA o que ouviu de Joaquim no final do ano passado. Em resumo, Joaquim disse que cansara. A experiência de ser ministro já estava de bom tamanho para ele. Desde então, segundo Marco Aurélio, “ventila-se” no Supremo Tribunal Federal (STF) que Joaquim será candidato à vaga de Dilma.
(Contenha a euforia, Noblat!)
Em 2005, estourou o escândalo do mensalão que quase derrubou o governo.
Mensalão foi o nome dado ao esquema de compra de votos com dinheiro público para que Lula governasse.
Nunca teve nome o esquema de compra de votos no Congresso que permitiu a reeleição de Fernando Henrique.
Política é negócio. Um negócio milionário. Dê-me o que quero e lhe darei o que você quer. Nada sai de graça.
Estou dando voltas porque escrevo cansado. Vamos adiante, todavia.
Ameaçado pelo escândalo, Lula ocupou uma cadeia nacional de rádio e de televisão para pedir desculpas aos brasileiros, negar que existira mensalão e se dizer traído. Suas mãos tremiam.
Mensalão? Jamais ouvira falar, disse. Corrigindo: ouvira uma vez, sim senhor.
Foi quando recebeu em audiência o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), seu aliado. Mandou investigar o que Jefferson lhe contou. A investigação no Congresso durou uma semana. Nada foi descoberto.
Lula ouviu falar do mensalão pela segunda vez quando visitou Goiás.
O governador Marconi Perillo alertou-o para a compra do passe de deputados. E Lula?
Na boa... Nem aí.
Temeu-se depois que ele fosse capaz de se matar. Foi salvo pelo ministro José Dirceu.
(Se gosto de Dirceu? Gosto sim, política à parte)
Quanto aos traidores...
Bem, Lula não apontou nomes de traidores. Afinal, como reclamar do julgamento daqueles que o traíram? Incoerência total. Falta de compromisso com a verdade.
Nada que seja estranho à política cujas bases são a mentira, a fraude e a enganação.
Lula não parecia um político melhor nem pior do que qualquer outro.
Era diferente apenas. Deixou de ser.
Poderia ter dito com toda a clareza possível que seus traidores não foram esses que estão atrás das grades. E mais o que está preso na Itália. E nem os que estão dentro do STF. Seria a forma mais eficiente de defendê-los. Mas tal coisa seria o mesmo que admitir que o mensalão existiu. E que ele, Lula, de fato fora traído.
O silêncio é a mais preciosa lei da máfia. E ele tem preço. Tanto no caso do traidor como no de quem se sente traído.
Ensinam os manuais sobre traições: morra sem confessar. Se for o caso, valerá o preço de ir para o inferno mentindo.
Que saudade de O Poderoso Chefão.
(*) Jornalista é responsável pelo Blog do Noblat do jornal O Globo
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