domingo, 16 de fevereiro de 2014

Tolos e trouxas os que ainda discutem essa nojeira chamada futebol

Na despedida, Paulo André revela o que todos desconfiavam. Foi despachado do Corinthians para a China. O objetivo foi agradar a CBF. Dar um tiro certeiro no Bom Senso FC. Conseguiu. Vitória de Marin diante do jogador mais rebelde do Brasil… 

Cosme Rímoli (*) 


Aos poucos o castelo de areia caiu.
O líder do Bom Senso foi despachado do Corinthians. 
Paulo André pouco antes do embarque para a China falou. 
E deixou claro que foi o clube quem quis se livrar dele. 

Foi para o Shanghai Shenhua porque percebeu que os dirigentes não o queriam. 
"Eu tive propostas do futebol italiano. 
Do Verona e da Roma. 
Mas não quis ir, acreditava na minha missão no Corinthians. 

Só que desta vez percebi que o ambiente não era mais propício a mim. 
E que tinha de sair. Foi o que eu fiz." 
Ou alguém em seu juízo normal diz não a Roma e vai para a China? 

Ele esclareceu o que era impossível de entender. 
Capitão do time, campeão do mundo, 30 anos. 
Líder de Mano Menezes. 
Mesmo assim sair de graça, sem render um centavo ao Parque São Jorge.
Havia um motivo muito grande para que fosse liberado. 

O fato de ter enfrentado publicamente a CBF. 
Focado em José Maria Marin seu inimigo.
Isso era assustador para Mario Gobbi e outros dirigentes corintianos. 
Até porque depois do afastamento de Andrés Sanchez, Gobbi agiu. 

E se tornou novo aliado do presidente da CBF e de Marco Polo del Nero.
É muito provável que ele vote na situação na eleição da CBF em abril. 
O que há pouco tempo seria considerado impossível. 
Andres, mentor do presidente corintiano, é inimigo de morte de Marin. 

Pois se livrando de Paulo André, líder do Bom Senso, o agrado à CBF estaria feito.
"O meu empresário para ir jogar na China foi o Marin." 
Ironizou ontem à noite Paulo André falando à Jovem Pan. 
Ele soube ler muito bem a situação. 

Mas não deixaria de dar um último recado à cúpula da CBF. 
"O futebol é um patrimônio do povo brasileiro. 
Mas vem sendo utilizado por poucos para ganhar dinheiro. 
Para não fazer nada. 
Para manter essa bagunça e obter o sucesso que eles tanto gostam.
Quando o povo entender a força que tem... 
E os jogadores perceberem que são os principais atores do espetáculo... 
Isso muda. Pode demorar. 
Mas quando acontecer fará com que os poderosos se dobrem. 
A quem realmente faz o espetáculo." 

Ou seja, era um pedregulho enorme no sapato de Marin. 
O dirigente o queria mais longe possível. 
Em duas ocasiões que o presidente da CBF se encontrou ele, detestou.
Uma na própria entidade, em uma reunião fechada. 

Os líderes do Bom Senso foram ao Rio. 
E o ex-zagueiro corintiano foi o mais veemente diante do dirigente. 
O outro encontro acabou sendo público. 
No Fórum Nacional do Esporte, em agosto do ano passado. 
Paulo André outra vez foi duro. 

"O Brasil pode ter ganho a Copa das Confederações. 
Mas pelo talento dos seus jogadores, a maioria no Exterior. 
Por aqui vivemos uma crise existencial. (...)
Eu joguei a sexta divisão do Campeonato Paulista pelo Águas de Lindoia. 
Ganhava R$ 180 por mês. 
O futebol brasileiro precisa evoluir para uma gestão de século 21." 

Ninguém fala assim com Marin. 
Passou a evitar Paulo André e não escondia que não tinha interesse em novos debates.
É ele quem tem o poder do futebol brasileiro nas mãos.
E não precisa se explicar para ninguém. 

A rejeição da CBF ao atleta chegou no Parque São Jorge. 
Só se falava nisso ultimamente.
O mais irônico é que Mano o havia tornado capitão do time. 
Para desgosto de Mario Gobbi que não previra a situação. 

Até que por ironia veio a invasão dos vândalos ao CT corintiano. 
Não foram Douglas, Pato e Sheik os caçados pelos 'torcedores'. 
Eles queriam também 'trocar ideia' com Paulo André. 
Saber o motivo de tanta dedicação ao Bom Senso. 

E o 'esquecimento' de jogar bem pelo Corinthians. 
A família do zagueiro ficou desesperada naquele sábado.
Principalmente por imaginar o que poderia ter acontecido. 
Se os mais de cem vândalos encontrasse os jogadores.

"A gente aguenta muitas vezes a porrada. 
Mas a família sofre dez vezes mais, porque não tem como se proteger dessas coisas. 
E eu achei que era a hora de dar uma acalmada." 
Paulo André usou um eufemismo ontem. 

A 'acalmada' foi aceitar o incentivo do Corinthians para ir embora. 
Seu empresário Hugo Garcia sabia do que estava acontecendo. 
Ele estava negociando Vinícius Araújo para o Valência. 
Tentou encaixar o zagueiro no futebol espanhol. 

Não conseguiu, mas soube que os chineses buscavam um zagueiro importante. 
E Paulo André é campeão do mundo. 
Os orientais ofereceram contrato de dois anos. 
E mais salários que chegariam a três vezes o que recebe no Corinthians. 

Só que não desejavam gastar com o clube brasileiro. 
Foi um sonho para Mario Gobbi quando soube da proposta. 
Imediatamente ele avisou que Paulo André estaria liberado de graça. 
Seria um gesto de boa vontade com o Shanghai Shenhua. 
Depois do fracasso com Zizao, o clube ainda busca o dinheiro chinês. 

Mas desta vez com um projeto de verdade, mais profundo, menos amador. 
O Shanghai foi comprado pela maior construtora chinesa, bilionária. 
Gobbi acredita que essa liberação pode ser positiva ao clube no futuro. 
Mas tudo isso foi pano de fundo. 

O principal objetivo foi alcançado, mandar o líder do Bom Senso para bem longe. 
Do outro lado do mundo. 
Paulo André promete que usará as redes sociais para tentar continuar a ajudar.
Mas sabe que liderar o movimento da China será impossível. 

Mesmo assim ele garante. 
Voltará depois de dois anos para encerrar a carreira no futebol brasileiro. 
Mesmo que o grupo de Mario Gobbi saia do poder, o Corinthians será quase impossível. Conselheiros importantes de todas as alas o rejeitam. 

Dizem que ele misturou demais o Bom Senso com o time. 
O resultado foi a sua decadência em campo. 
Mano já preparava Felipe e Cléber para ficar com sua vaga.
Poderia se tornar um mero reserva no Parque São Jorge. 

"Quem pensa que desisti está muito errado.
Vou voltar e com mais vontade de ajudar o futebol brasileiro." 
Foi a última promessa antes da viagem. 
Falou motivado pela euforia não pela inteligência privilegiada. 

Retornando a caminho dos 33 anos será difícil encontrar um time grande. 
O Corinthians já está riscado de sua lista.
E por mais que tenha uma mente privilegiada, não dá para disfarçar. 
Suas palavras só tiveram tanta repercussão porque jogava no Corinthians.

No time campeão da Libertadores, do mundo. 
Atuando no clube mais popular do estado com mais holofotes no país. 
O peso de suas opiniões não será o mesmo.
Paulo André disfarça, mas sabe que foi despachado para a China. 

"O Bom Senso prevaleceu quando Paulo André optou pelo futebol chinês." 
Ironizou o vice jurídico da CBF, Carlos Eugênio Lopes, para a Folha. 
Comemorava a saída de cena do homem que tanto incomodou Marin. 
Aquele que teve a ousadia de tentar modernizar o futebol brasileiro. 

O real articulador do Bom Senso. 
E de quem não custa repetir sua última mensagem. 
"O futebol é um patrimônio do povo brasileiro. 
Mas vem sendo utilizado por poucos para ganhar dinheiro. 
Para não fazer nada. 
Para manter essa bagunça e obter o sucesso que eles tanto gostam." 

Até breve, Paulo André. 
Muito obrigado, mas você perdeu a batalha para Marin.
Com o auxílio imprescindível da diretoria corintiana...

(*) Jornalista esportivo e que atuou por 22 anos no Jornal da Tarde - SP 

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