Marco Antonio Araújo (*)
Realities shows, em larga medida, substituem as novelas (ou, mais provável, as complementam). Não é mais o caso de gostar, assistir, detestar ou não. Tornaram-se um fenômeno de massa, com tudo que isso representa: interferem no imaginário popular, lançam tendências e propagam valores. Aí a conversa muda de figura e passa a ser relevante debater as causas e consequências que sustentam esse amplo nicho da indústria do entretenimento.
Sem muito sociologismo, no entanto, é possível afirmar que o BBB14 é o programa mais apelativo e desesperado da história da TV Globo. A audiência em baixa corrobora a tese e não me deixa mentir. Se for sinal de esgotamento, ótimo para todos. Tudo que é bom, um dia acaba. Coisa ruim, então, merece um empurrãozinho. Lá vai.
O apelo sexual dos realities sempre foi algo (para os padrões brasileiros) mascarado, sugerido ou exposto com parcimônia. Pois mandaram às favas qualquer pudor. O cafofo, o edredom, os banhos acanhados, as relações apenas afetivas, isso tudo foi simplesmente eliminado num paredão secreto. Agora, é botar pra quebrar. Sim, porque nada que se passa no programa acontece sem que ordens expressas partam de Boninho & Cia. É assim que funciona: nada de improviso, naturalidade ou “vou ser eu mesmo”. Cada um sabe muito bem qual é o seu papel.
Como os diálogos nunca foram o ponto forte da atração, sussurro e gemidos de corpos nus se tocando é o que de melhor você vai ouvir. Sem nenhuma sutileza, é uma profusão de strip-teases, mergulhos exibicionistas em piscinas, um desfilar de genitálias expostas por figuras que vão do ejaculador precoce Diego às atrevidas meninas que se pegam até em ménage à trois.
Casal de lésbicas se tornou a moda verão da Globo: tanto na novela das nove quando no BBB, vemos espécimes caricaturais se pegando. Antes que o movimento gay estoure rojões por essa suposta aceitação, eu, aqui com meus botões héteros, desconfio que o efeito seja danoso para a categoria. Da forma como está sendo patrocinado, esse tiro vai sair pela culatra: o público vai associar homossexualidade com gente promíscua. Batata.
Moralista não é perceber essas manifestações como nocivas à saúde mental da população. Moralista é quem, deliberadamente, associa sexo à disputa por prêmios, dinheiro, exposição fugaz, grosserias, futilidade, machismo, perversão e plataforma para os quinze segundos de fama. Bem, garanto, não faz. O estrago já está feito. E não há controle remoto capaz de mudar esse caminho. Já era.
(*) Jornalista desde 1987. Foi diretor de redação do jornal Gazeta Esportiva. Foi professor e coordenador de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero
Realities shows, em larga medida, substituem as novelas (ou, mais provável, as complementam). Não é mais o caso de gostar, assistir, detestar ou não. Tornaram-se um fenômeno de massa, com tudo que isso representa: interferem no imaginário popular, lançam tendências e propagam valores. Aí a conversa muda de figura e passa a ser relevante debater as causas e consequências que sustentam esse amplo nicho da indústria do entretenimento.
Sem muito sociologismo, no entanto, é possível afirmar que o BBB14 é o programa mais apelativo e desesperado da história da TV Globo. A audiência em baixa corrobora a tese e não me deixa mentir. Se for sinal de esgotamento, ótimo para todos. Tudo que é bom, um dia acaba. Coisa ruim, então, merece um empurrãozinho. Lá vai.
O apelo sexual dos realities sempre foi algo (para os padrões brasileiros) mascarado, sugerido ou exposto com parcimônia. Pois mandaram às favas qualquer pudor. O cafofo, o edredom, os banhos acanhados, as relações apenas afetivas, isso tudo foi simplesmente eliminado num paredão secreto. Agora, é botar pra quebrar. Sim, porque nada que se passa no programa acontece sem que ordens expressas partam de Boninho & Cia. É assim que funciona: nada de improviso, naturalidade ou “vou ser eu mesmo”. Cada um sabe muito bem qual é o seu papel.
Como os diálogos nunca foram o ponto forte da atração, sussurro e gemidos de corpos nus se tocando é o que de melhor você vai ouvir. Sem nenhuma sutileza, é uma profusão de strip-teases, mergulhos exibicionistas em piscinas, um desfilar de genitálias expostas por figuras que vão do ejaculador precoce Diego às atrevidas meninas que se pegam até em ménage à trois.
Casal de lésbicas se tornou a moda verão da Globo: tanto na novela das nove quando no BBB, vemos espécimes caricaturais se pegando. Antes que o movimento gay estoure rojões por essa suposta aceitação, eu, aqui com meus botões héteros, desconfio que o efeito seja danoso para a categoria. Da forma como está sendo patrocinado, esse tiro vai sair pela culatra: o público vai associar homossexualidade com gente promíscua. Batata.
Moralista não é perceber essas manifestações como nocivas à saúde mental da população. Moralista é quem, deliberadamente, associa sexo à disputa por prêmios, dinheiro, exposição fugaz, grosserias, futilidade, machismo, perversão e plataforma para os quinze segundos de fama. Bem, garanto, não faz. O estrago já está feito. E não há controle remoto capaz de mudar esse caminho. Já era.
(*) Jornalista desde 1987. Foi diretor de redação do jornal Gazeta Esportiva. Foi professor e coordenador de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero
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