Revista Isto É Independente
Na segunda-feira 16, uma risonha presidenta Dilma Rousseff inaugurou, ao lado do ditador cubano Raúl Castro, a primeira fase do Porto de Mariel, em Havana. A presença de Dilma se deve a uma razão principal: a conta foi paga por ela – na verdade, por todos os brasileiros. O Mariel custou US$ 957 milhões de dólares, dos quais US$ 802 milhões vieram de financiamento concedido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O montante equivale a R$ 2 bilhões.
Com esse dinheiro, seria possível bancar toda a reforma dos aeroportos Galeão e Santos Dumont (a modernização dos dois juntos custará R$ 781 milhões), custear a duplicação da Serra do Cafezal, um dos trechos mais perigosos da estratégica rodovia BR-116 (a obra consumirá R$ 700 milhões) e cobrir os R$ 500 milhões que serão desembolsados para modernizar todos os portos de Santa Catarina em 2014.
Em um país com sérios gargalos de infraestrutura como o Brasil – gargalos esses que se tornaram mais evidentes diante das necessidades impostas pela Copa de 2014 –, o que explica desembolsar tanto dinheiro para sustentar um projeto no meio do Caribe?
“É uma decisão puramente ideológica”, diz Otto Nogami, professor de economia do Insper. “São recursos públicos que deveriam estar sendo utilizados em benefício do próprio contribuinte.”
A decisão do governo de investir em Cuba está carregada de simbolismos.
Se a ideia era ampliar os investimentos no Exterior, por que Cuba e não outro país de potencial econômico maior? Em termos de negócios, a ilha de Fidel é irrelevante para o Brasil, ocupando apenas a 51ª posição entre os parceiros comerciais brasileiros.
Sem disponibilidade de recursos, os cubanos compram principalmente cereais, óleos e sojas. Nada de carros, aviões ou equipamentos industriais.
Além disso, por que colocar R$ 2 bilhões em um projeto incerto e que depende de uma combinação extraordinária de fatores para trazer retornos financeiros consistentes?
“O Brasil quer se tornar parceiro de primeira ordem de Cuba”, disse a presidenta Dilma durante a inauguração do porto.
Hoje em dia, o principal aliado econômico do governo Raúl Castro é a Venezuela, mas a crise no país de Hugo Chávez, morto no ano passado, tem tornado os negócios entre os dois países cada vez mais escassos. A ideia de Dilma, portanto, seria preencher o espaço deixado pela Venezuela. A iniciativa brasileira chama ainda mais a atenção diante da tímida política internacional da gestão Dilma, que parece pouco afeita a desbravar mercados mundo afora.
O Porto de Mariel tem uma história peculiar. Durante a Guerra Fria, o local abrigou submarinos e foi a porta de entrada de armamentos enviados pelos soviéticos.
Na década de 80, ficou conhecido porque era de lá que partiam, rumo a Miami, os cubanos fugitivos da revolução de Fidel para se aventurar no oceano, na maioria das vezes, em barcos improvisados.
Hoje, muita gente acredita que o Mariel representa a transformação que estaria prestes a ocorrer em Cuba. Ferida pelo embargo econômico imposto pelos americanos, a ilha tem um dos parques industriais mais atrasados do planeta.
O porto seria, sob essa ótica, símbolo máximo de um país prestes a se abrir ao capitalismo. Mas será que isso vai realmente acontecer?
Para especialistas, tudo indica que sim.“A geração da Revolução está morrendo e Castro não é mais a pessoa jovem que desafia os Estados Unidos”, diz Oliver Stuenkel, professor e coordenador do MBA em Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas.
A favor do Mariel conta a sua vantagem geográfica.
Além de servir toda a América Central, ele está perto dos Estados Unidos.
Quando o embargo econômico acabar – e ninguém é capaz de fazer qualquer projeção a respeito desta data –, provavelmente se tornará um dos portos mais movimentados das Américas.
Os defensores do investimento do BNDES alegam também que uma boa parcela do empréstimo acabou revertida para o próprio Brasil, já que o porto foi construído pela Odebrecht. A empresa diz que 80% de todos os equipamentos utilizados na construção são brasileiros – o Mariel, portanto, trouxe receitas e gerou empregos em solo nacional.
Mas isso é realmente suficiente para justificar um investimento dessa ordem que poderia ter sido feito, por exemplo, em obras de infraestrutura para a Copa de Mundo?
Na segunda-feira 16, uma risonha presidenta Dilma Rousseff inaugurou, ao lado do ditador cubano Raúl Castro, a primeira fase do Porto de Mariel, em Havana. A presença de Dilma se deve a uma razão principal: a conta foi paga por ela – na verdade, por todos os brasileiros. O Mariel custou US$ 957 milhões de dólares, dos quais US$ 802 milhões vieram de financiamento concedido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O montante equivale a R$ 2 bilhões.
Com esse dinheiro, seria possível bancar toda a reforma dos aeroportos Galeão e Santos Dumont (a modernização dos dois juntos custará R$ 781 milhões), custear a duplicação da Serra do Cafezal, um dos trechos mais perigosos da estratégica rodovia BR-116 (a obra consumirá R$ 700 milhões) e cobrir os R$ 500 milhões que serão desembolsados para modernizar todos os portos de Santa Catarina em 2014.
Em um país com sérios gargalos de infraestrutura como o Brasil – gargalos esses que se tornaram mais evidentes diante das necessidades impostas pela Copa de 2014 –, o que explica desembolsar tanto dinheiro para sustentar um projeto no meio do Caribe?
“É uma decisão puramente ideológica”, diz Otto Nogami, professor de economia do Insper. “São recursos públicos que deveriam estar sendo utilizados em benefício do próprio contribuinte.”
A decisão do governo de investir em Cuba está carregada de simbolismos.
Se a ideia era ampliar os investimentos no Exterior, por que Cuba e não outro país de potencial econômico maior? Em termos de negócios, a ilha de Fidel é irrelevante para o Brasil, ocupando apenas a 51ª posição entre os parceiros comerciais brasileiros.
Sem disponibilidade de recursos, os cubanos compram principalmente cereais, óleos e sojas. Nada de carros, aviões ou equipamentos industriais.
Além disso, por que colocar R$ 2 bilhões em um projeto incerto e que depende de uma combinação extraordinária de fatores para trazer retornos financeiros consistentes?
“O Brasil quer se tornar parceiro de primeira ordem de Cuba”, disse a presidenta Dilma durante a inauguração do porto.
Hoje em dia, o principal aliado econômico do governo Raúl Castro é a Venezuela, mas a crise no país de Hugo Chávez, morto no ano passado, tem tornado os negócios entre os dois países cada vez mais escassos. A ideia de Dilma, portanto, seria preencher o espaço deixado pela Venezuela. A iniciativa brasileira chama ainda mais a atenção diante da tímida política internacional da gestão Dilma, que parece pouco afeita a desbravar mercados mundo afora.
O Porto de Mariel tem uma história peculiar. Durante a Guerra Fria, o local abrigou submarinos e foi a porta de entrada de armamentos enviados pelos soviéticos.
Na década de 80, ficou conhecido porque era de lá que partiam, rumo a Miami, os cubanos fugitivos da revolução de Fidel para se aventurar no oceano, na maioria das vezes, em barcos improvisados.
Hoje, muita gente acredita que o Mariel representa a transformação que estaria prestes a ocorrer em Cuba. Ferida pelo embargo econômico imposto pelos americanos, a ilha tem um dos parques industriais mais atrasados do planeta.
O porto seria, sob essa ótica, símbolo máximo de um país prestes a se abrir ao capitalismo. Mas será que isso vai realmente acontecer?
Para especialistas, tudo indica que sim.“A geração da Revolução está morrendo e Castro não é mais a pessoa jovem que desafia os Estados Unidos”, diz Oliver Stuenkel, professor e coordenador do MBA em Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas.
A favor do Mariel conta a sua vantagem geográfica.
Além de servir toda a América Central, ele está perto dos Estados Unidos.
Quando o embargo econômico acabar – e ninguém é capaz de fazer qualquer projeção a respeito desta data –, provavelmente se tornará um dos portos mais movimentados das Américas.
Os defensores do investimento do BNDES alegam também que uma boa parcela do empréstimo acabou revertida para o próprio Brasil, já que o porto foi construído pela Odebrecht. A empresa diz que 80% de todos os equipamentos utilizados na construção são brasileiros – o Mariel, portanto, trouxe receitas e gerou empregos em solo nacional.
Mas isso é realmente suficiente para justificar um investimento dessa ordem que poderia ter sido feito, por exemplo, em obras de infraestrutura para a Copa de Mundo?
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