Vinicius Torres Freire (*)
A bolsa brasileira foi a que mais apanhou ontem no mundo. As ações da Petrobras entraram no picador de papel. Não haveria muito jeito de as ações da petroleira escaparem, pois têm muito peso na Bolsa daqui. Enfim, quase tudo aqui estava caindo pelas tabelas.
A Petrobras apanha, de resto, por causa do paniquito com o preço de matérias-primas, que supostamente iria para o brejo, dada a supostamente perigosa desaceleração da economia chinesa. Por fim, a Petrobras deve estar apanhando também porque está no bico do urubu, dada a política equivocada de preços do governo, entre outras.
Como se sabe, o governo tabelou o preço da gasolina, combustível que a Petrobras é obrigada a importar caro e a vender barato no Brasil. Em reais, o preço dos combustíveis está cada vez mais caro, dada a desvalorização do real.
Logo, a Petrobras perde mais dinheiro.
O caso do Brasil, ainda mais o da Petrobras, foi só um dos barcos fazendo água na tormenta do mercado financeiro internacional, que por ora, ao menos, está destrambelhado.
O tumulto está de bom tamanho desde a semana de 22 de janeiro.
O problema era a Turquia. Depois, Turquia e Argentina. Depois, uma meia dúzia de "emergentes". Agora, os donos do dinheiro grosso nos Estados Unidos e demais centros do mundo rico estão atirando nos próprios pés.
O que teria havido ontem, de específico, se é que dá para discutir essa maluquice desse modo? Foram divulgados mais dados fracos da produção industrial da China e dos EUA.
A lerdeza chinesa, além do medo da quebra de fundos chineses, faz uns dez dias havia balançado os "emergentes" (que terão problemas em financiar suas contas caso a China cresça bem menos, dado que o capital já estava em parte voltando para os EUA). Agora, veio esse dado fraco americano.
Mas a economia americana não estava se recuperando? Estava, aparentemente está, embora ainda não estivesse claro o ritmo. De qualquer modo, indicadores de atividade econômica de apenas um mês e de um setor não dizem lá grande coisa.
No entanto, isso bastou para mexer nos preços dos ativos financeiros.
Tempere-se esse caldo com rolos em muitas parte do mundo relevante ("emergentes grandes", China etc.) com uma colherada de propensão à histeria dos "mercados" e pronto. O caldo entorna.
A princípio, poderia até não ser nada sério, poderia ser que a coisa se acalmasse já hoje, terça-feira. Mas pode ser que não. O fato de haver essas chacoalhadas loucas no mercado pode causar acidentes graves.
Sim, há problemas reais. A China desacelera, sim, mas ninguém sabe quanto; o capital emigra dos "emergentes", sim, muitos dos quais estavam meio de calças curtas, consumindo demais. Mas nenhum desses fatores era desconhecido na semana passada.
No entanto, há medo. Donos do dinheiro grosso tiram dinheiro das Bolsas americanas e de ativos "emergentes", inflados por anos de capital barato. Migram para os títulos do Tesouro americano faz uns 15 dias.
Desde quinta, o juro dos títulos brasileiros de dez anos está acima de 7% REAIS (isto é, além da inflação). Faz um ano, estava em 3,5%. Viaja para as alturas na companhia do dólar."
Bom dia, presidenta Dilma. Os arruaceiros batem à porta. Está na hora de acordar.
(*) Jornalista e está na Folha desde 1991. Foi secretário de Redação, editor de 'Dinheiro', 'Opinião', 'Ciência', 'Educação' e correspondente em Paris. Em sua coluna, aborda temas políticos e econômic
A bolsa brasileira foi a que mais apanhou ontem no mundo. As ações da Petrobras entraram no picador de papel. Não haveria muito jeito de as ações da petroleira escaparem, pois têm muito peso na Bolsa daqui. Enfim, quase tudo aqui estava caindo pelas tabelas.
A Petrobras apanha, de resto, por causa do paniquito com o preço de matérias-primas, que supostamente iria para o brejo, dada a supostamente perigosa desaceleração da economia chinesa. Por fim, a Petrobras deve estar apanhando também porque está no bico do urubu, dada a política equivocada de preços do governo, entre outras.
Como se sabe, o governo tabelou o preço da gasolina, combustível que a Petrobras é obrigada a importar caro e a vender barato no Brasil. Em reais, o preço dos combustíveis está cada vez mais caro, dada a desvalorização do real.
Logo, a Petrobras perde mais dinheiro.
O caso do Brasil, ainda mais o da Petrobras, foi só um dos barcos fazendo água na tormenta do mercado financeiro internacional, que por ora, ao menos, está destrambelhado.
O tumulto está de bom tamanho desde a semana de 22 de janeiro.
O problema era a Turquia. Depois, Turquia e Argentina. Depois, uma meia dúzia de "emergentes". Agora, os donos do dinheiro grosso nos Estados Unidos e demais centros do mundo rico estão atirando nos próprios pés.
O que teria havido ontem, de específico, se é que dá para discutir essa maluquice desse modo? Foram divulgados mais dados fracos da produção industrial da China e dos EUA.
A lerdeza chinesa, além do medo da quebra de fundos chineses, faz uns dez dias havia balançado os "emergentes" (que terão problemas em financiar suas contas caso a China cresça bem menos, dado que o capital já estava em parte voltando para os EUA). Agora, veio esse dado fraco americano.
Mas a economia americana não estava se recuperando? Estava, aparentemente está, embora ainda não estivesse claro o ritmo. De qualquer modo, indicadores de atividade econômica de apenas um mês e de um setor não dizem lá grande coisa.
No entanto, isso bastou para mexer nos preços dos ativos financeiros.
Tempere-se esse caldo com rolos em muitas parte do mundo relevante ("emergentes grandes", China etc.) com uma colherada de propensão à histeria dos "mercados" e pronto. O caldo entorna.
A princípio, poderia até não ser nada sério, poderia ser que a coisa se acalmasse já hoje, terça-feira. Mas pode ser que não. O fato de haver essas chacoalhadas loucas no mercado pode causar acidentes graves.
Sim, há problemas reais. A China desacelera, sim, mas ninguém sabe quanto; o capital emigra dos "emergentes", sim, muitos dos quais estavam meio de calças curtas, consumindo demais. Mas nenhum desses fatores era desconhecido na semana passada.
No entanto, há medo. Donos do dinheiro grosso tiram dinheiro das Bolsas americanas e de ativos "emergentes", inflados por anos de capital barato. Migram para os títulos do Tesouro americano faz uns 15 dias.
Desde quinta, o juro dos títulos brasileiros de dez anos está acima de 7% REAIS (isto é, além da inflação). Faz um ano, estava em 3,5%. Viaja para as alturas na companhia do dólar."
Bom dia, presidenta Dilma. Os arruaceiros batem à porta. Está na hora de acordar.
(*) Jornalista e está na Folha desde 1991. Foi secretário de Redação, editor de 'Dinheiro', 'Opinião', 'Ciência', 'Educação' e correspondente em Paris. Em sua coluna, aborda temas políticos e econômic
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