quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Avacalhação e desrespeito alimentam clima de violência no Brasil

Bob Fernandes (*)

Numa democracia, poderes e seus representantes devem se respeitar. O vice-presidente da câmara dos deputados, André Vargas (PT-PR), debochou do presidente do Supremo. 

Com Joaquim Barbosa a seu lado, Vargas ergueu o punho. O fez por estar convencido, como muitos de seu partido, e não apenas, de que Barbosa faz mais Política do que Justiça. 

O deputado sabe o que fez e por que fez. Têm o direito de fazê-lo como militante. 
Mas ao fazê-lo numa sessão do Congresso empresta outro significado ao gesto. 

Vargas é vice-presidente da Câmara, mas a Câmara não é ele, e nem é dele. 
Joaquim Barbosa, fiel a seu estilo, rebateu no mesmo tom, no dia seguinte. 

Num Supremo abarrotado de processos, e na primeira sessão do ano, Barbosa incluiu na pauta um processo contra o deputado Zeca Dirceu (PT-PR), filho de José Dirceu. 
O deputado é acusado de crime eleitoral. Barbosa tem o direito de fazer o que fez. 
Mas ele sabe o porquê do seu gesto apenas poucas horas depois do gesto de Vargas.  

Barbosa preside o Supremo Tribunal. Mas o Supremo não é só ele.
O Supremo Tribunal não é dele. 

Do mesmo Supremo, Gilmar Mendes nunca escondeu suas preferências e antipatias políticas. Gilmar Mendes não vê problema em prejulgar, e em público, mesmo sendo um ministro do Supremo Tribunal. 

Gilmar Mendes, agora, levanta suspeita sobre as doações de militantes para o pagamento da multa de petistas presos. O Ministério Público e a polícia, provocados ou não, podem investigar as doações. Mas foi o ministro Gilmar quem o fez. E ele sabe, todos sabem por que o fez. 

Com mais de 70 milhões cotidianamente nas redes sociais, gestos como estes levam a reações de igual intensidade. Para além, bem das opiniões, também torcidas organizadas atuam nas redes. 

O que se viu, nos últimos dias e horas, de parte a parte das torcidas virtuais? 
Elogios e aplausos para André Vargas. E ofensas e xingamentos ao deputado Vargas e ao Congresso. 

Nos últimos dias, elogios e aplausos para Joaquim Barbosa. 
E ofensas e ataques a Barbosa e ao Supremo. 

Palmas e manchetes para Gilmar Mendes… E ofensas e denúncias pesadas contra Gilmar Mendes e contra o Supremo Tribunal. 
Em resumo, aprofunda-se a avacalhação geral. 

Quem ganha com essa disputa hipócrita -e profundamente emburrecedora- sobre quem rouba mais? Quem ganha com o rebaixamento da vida republicana ao nível mais rasteiro? 

Será que a violência, que se generaliza, não tem a ver também com essa avacalhação de toda e qualquer autoridade, de toda e qualquer instituição? 

O que avança e se espalha guarda semelhanças com o que Hannah Arendt detectou como a ascensão da mediocridade. Semente do que a pensadora alemã chamaria de "a banalização do mal". 

(*) É jornalista e foi redator-chefe de CartaCapital.

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