Bob Fernandes (*)
Numa democracia, poderes e seus representantes devem se respeitar. O vice-presidente da câmara dos deputados, André Vargas (PT-PR), debochou do presidente do Supremo.
Com Joaquim Barbosa a seu lado, Vargas ergueu o punho. O fez por estar convencido, como muitos de seu partido, e não apenas, de que Barbosa faz mais Política do que Justiça.
O deputado sabe o que fez e por que fez. Têm o direito de fazê-lo como militante.
Mas ao fazê-lo numa sessão do Congresso empresta outro significado ao gesto.
Vargas é vice-presidente da Câmara, mas a Câmara não é ele, e nem é dele.
Joaquim Barbosa, fiel a seu estilo, rebateu no mesmo tom, no dia seguinte.
Num Supremo abarrotado de processos, e na primeira sessão do ano, Barbosa incluiu na pauta um processo contra o deputado Zeca Dirceu (PT-PR), filho de José Dirceu.
O deputado é acusado de crime eleitoral. Barbosa tem o direito de fazer o que fez.
Mas ele sabe o porquê do seu gesto apenas poucas horas depois do gesto de Vargas.
Barbosa preside o Supremo Tribunal. Mas o Supremo não é só ele.
O Supremo Tribunal não é dele.
Do mesmo Supremo, Gilmar Mendes nunca escondeu suas preferências e antipatias políticas. Gilmar Mendes não vê problema em prejulgar, e em público, mesmo sendo um ministro do Supremo Tribunal.
Gilmar Mendes, agora, levanta suspeita sobre as doações de militantes para o pagamento da multa de petistas presos. O Ministério Público e a polícia, provocados ou não, podem investigar as doações. Mas foi o ministro Gilmar quem o fez. E ele sabe, todos sabem por que o fez.
Com mais de 70 milhões cotidianamente nas redes sociais, gestos como estes levam a reações de igual intensidade. Para além, bem das opiniões, também torcidas organizadas atuam nas redes.
O que se viu, nos últimos dias e horas, de parte a parte das torcidas virtuais?
Elogios e aplausos para André Vargas. E ofensas e xingamentos ao deputado Vargas e ao Congresso.
Nos últimos dias, elogios e aplausos para Joaquim Barbosa.
E ofensas e ataques a Barbosa e ao Supremo.
Palmas e manchetes para Gilmar Mendes… E ofensas e denúncias pesadas contra Gilmar Mendes e contra o Supremo Tribunal.
Em resumo, aprofunda-se a avacalhação geral.
Quem ganha com essa disputa hipócrita -e profundamente emburrecedora- sobre quem rouba mais? Quem ganha com o rebaixamento da vida republicana ao nível mais rasteiro?
Será que a violência, que se generaliza, não tem a ver também com essa avacalhação de toda e qualquer autoridade, de toda e qualquer instituição?
O que avança e se espalha guarda semelhanças com o que Hannah Arendt detectou como a ascensão da mediocridade. Semente do que a pensadora alemã chamaria de "a banalização do mal".
(*) É jornalista e foi redator-chefe de CartaCapital.
Numa democracia, poderes e seus representantes devem se respeitar. O vice-presidente da câmara dos deputados, André Vargas (PT-PR), debochou do presidente do Supremo.
Com Joaquim Barbosa a seu lado, Vargas ergueu o punho. O fez por estar convencido, como muitos de seu partido, e não apenas, de que Barbosa faz mais Política do que Justiça.
O deputado sabe o que fez e por que fez. Têm o direito de fazê-lo como militante.
Mas ao fazê-lo numa sessão do Congresso empresta outro significado ao gesto.
Vargas é vice-presidente da Câmara, mas a Câmara não é ele, e nem é dele.
Joaquim Barbosa, fiel a seu estilo, rebateu no mesmo tom, no dia seguinte.
Num Supremo abarrotado de processos, e na primeira sessão do ano, Barbosa incluiu na pauta um processo contra o deputado Zeca Dirceu (PT-PR), filho de José Dirceu.
O deputado é acusado de crime eleitoral. Barbosa tem o direito de fazer o que fez.
Mas ele sabe o porquê do seu gesto apenas poucas horas depois do gesto de Vargas.
Barbosa preside o Supremo Tribunal. Mas o Supremo não é só ele.
O Supremo Tribunal não é dele.
Do mesmo Supremo, Gilmar Mendes nunca escondeu suas preferências e antipatias políticas. Gilmar Mendes não vê problema em prejulgar, e em público, mesmo sendo um ministro do Supremo Tribunal.
Gilmar Mendes, agora, levanta suspeita sobre as doações de militantes para o pagamento da multa de petistas presos. O Ministério Público e a polícia, provocados ou não, podem investigar as doações. Mas foi o ministro Gilmar quem o fez. E ele sabe, todos sabem por que o fez.
Com mais de 70 milhões cotidianamente nas redes sociais, gestos como estes levam a reações de igual intensidade. Para além, bem das opiniões, também torcidas organizadas atuam nas redes.
O que se viu, nos últimos dias e horas, de parte a parte das torcidas virtuais?
Elogios e aplausos para André Vargas. E ofensas e xingamentos ao deputado Vargas e ao Congresso.
Nos últimos dias, elogios e aplausos para Joaquim Barbosa.
E ofensas e ataques a Barbosa e ao Supremo.
Palmas e manchetes para Gilmar Mendes… E ofensas e denúncias pesadas contra Gilmar Mendes e contra o Supremo Tribunal.
Em resumo, aprofunda-se a avacalhação geral.
Quem ganha com essa disputa hipócrita -e profundamente emburrecedora- sobre quem rouba mais? Quem ganha com o rebaixamento da vida republicana ao nível mais rasteiro?
Será que a violência, que se generaliza, não tem a ver também com essa avacalhação de toda e qualquer autoridade, de toda e qualquer instituição?
O que avança e se espalha guarda semelhanças com o que Hannah Arendt detectou como a ascensão da mediocridade. Semente do que a pensadora alemã chamaria de "a banalização do mal".
(*) É jornalista e foi redator-chefe de CartaCapital.
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