Florestas absorvem até um terço das emissões mundiais
Agostinho Vieira (*)
O papel das florestas mundiais como mitigadoras do aquecimento global acaba de ganhar um grande reforço com o que está sendo considerado o “mais abrangente relatório sobre a capacidade de absorção de dióxido de carbono (CO2) das árvores já publicado”. Divulgado na edição de quinta-feira da revista Science por um grupo internacional de cientistas, a pesquisa “A Large and Persistent Carbon Sink in the World’s Forests” aponta que as florestas são responsáveis por absorver até um terço das emissões de gases do efeito estufa causadas pelo homem.
- Nosso trabalho coloca as florestas em um nível ainda mais alto de importância para regular a presença de CO2 na atmosfera. Se continuarmos devastando áreas de vegetação, estaremos perdendo uma grande ajuda para minimizar o aquecimento global - explicou Josep Canadell, presidente do Projeto Global de Carbono da Organização de Pesquisa Científica e Industrial da Commonwealth.
Cientistas sempre tiveram dificuldade em medir exatamente quanto CO2 as florestas absorvem e quanto liberam em caso de desmatamento. Para conseguir achar essas respostas, um grupo de pesquisadores de diversas instituições internacionais e universidades combinou dados de inventários florestais, modelos climáticos e imagens de satélites para traçar o real papel das florestas durante o período entre 1990 e 2007.
Com esse método, calcularam que as árvores sequestram quase quatro bilhões de toneladas de carbono por ano. Infelizmente, 2,9 bilhões de toneladas acabam voltando à atmosfera por causa do desmatamento, o equivalente a 25% do total das emissões mundiais. Isso agrava ainda mais as previsões que afirmavam até hoje que a destruição das florestas seria responsável por algo entre 12% a 20% das emissões.
- Os resultados são inesperados e incríveis. Se conseguíssemos parar totalmente a devastação das florestas, seria possível remover da atmosfera quase 50% das emissões resultantes da queima de combustíveis fósseis - afirmou Canadell à AFP.
Uma das grandes surpresas da pesquisa foi a percepção de que florestas jovens, ou seja, áreas restauradas ou plantadas, na região dos trópicos, são ainda melhores para absorver CO2, sendo responsáveis por reter mais de 6 bilhões de toneladas durante os 17 anos observados. Isso equivale às emissões anuais dos Estados Unidos.
- Este é um dado muito importante para esquemas de reflorestamento e preservação, como a redução de emissões por desmatamento e degradação florestal (REDD) - salienta Canadell.
Porém, o estudo deixa claro que basear a estratégia de combate ao aquecimento global apenas no sequestro biológico seria um risco, uma vez que secas e incêndios podem causar a liberação de bilhões de toneladas de CO2 em pouquíssimo tempo.
- De qualquer forma, é fundamental que entendamos como funcionam e o que representam as florestas para o clima do planeta. Assim, teremos como planejar melhor ações de mitigação ao aquecimento global - concluiu Werner Kurz, do Serviço Florestal do Canadá.
Dúvidas
Como nada é simples, vem da revista Nature um outro estudo que questiona a real importância do sequestro de CO2 realizado pelas florestas. Com o título de “Increased soil emissions of potent greenhouse gases under increased atmospheric CO2”, a pesquisa afirma que quanto mais dióxido de carbono é absorvido pelas árvores, maiores são as emissões de outros gases, como metano e óxido nitroso, do solo para a atmosfera.
Assim, o papel das florestas para mitigar o aquecimento global ainda seria importante, mas deveria ser reduzido a cerca de 20% do que é acreditado atualmente.
- Plantas capturam CO2 da atmosfera, mas no processo estimulam a proliferação e a atividade de microrganismos que emitem gases ainda mais perigosos para acelerar a temperatura média do planeta - explica Craig Osenberg, da Universidade da Flórida.
Segundo os autores, preservar e reflorestar continua sendo importante, até porque são atividades que levam a outros benefícios para os ecossistemas. Porém, se a intenção é combater às mudanças climáticas, o ideal seria reduzir as fontes de emissão.
- É muito mais eficiente e urgente que seja evitada ao máximo a queima de combustíveis fósseis. Não podemos ficar sentados esperando que a natureza limpe a nossa sujeira - resumiu Bruce Hungate, da Universidade do Arizona. (Fonte/ Instituto Carbono Brasil e Agências Internacionais)
(*) Jornalista com pós-graduação em Gestão Ambiental pela Coppe/UFRJ. Responsável pelo Blog Ecoverde
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