segunda-feira, 25 de julho de 2011

Epidemia

Eliane Cantanhêde (*)

A partir do próprio ministro Alfredo Nascimento, os diretores e altos funcionários do Ministério dos Transportes continuam caindo do galho como bananas podres.

Já são 13 os demitidos, se incluídos o diretor do Dnit (responsável pelas obras em rodovias), Luiz Antônio Pagot, que está "de férias", e o tal Frederico de Oliveira Dias, afilhado do deputado Valdemar Costa Neto, que nem nomeado era, mas tinha até gabinete e telefone no ministério.

Essa história vem de longe, desde sabe-se lá quantos governos, mas ultrapassou qualquer limite quando o governo Lula deu os Transportes de mão beijada para o PR, partido sucedâneo do PL e do Prona, aquele do "meu nome é Enéas!".

O PR não se fez de rogado e, com o tempo, decidiu dispensar os intermediários e ir diretamente ao ponto. Em vez de se contentar com propinas de empreiteiras nas licitações e nos aditamentos para aumentar os valores, a turma passou a usar filhos, mulheres, irmãos e amigos variados para tirar sua casquinha, se é que se pode chamar contratos milionários de "casquinha".

O filho do ministro ficou rico da noite para o dia em negócios com uma empresa que tem contratos com o ministério chefiado pelo papai. A mulher de um dos diretores do Dnit lucrou milhões de reais em Roraima com obras que eram resultado de convênios com o... próprio órgão. O irmão de um superintendente estadual do Dnit fechou contratos de mais de R$ 26 milhões com o... próprio órgão.

Essas barbaridades tão à luz do dia, à frente de todos, durante anos, só ocorrem como resultado da facilidade e da impunidade. Vai ficando tudo tão fácil que os responsáveis vão relaxando, escancarando, até que acabam metendo os pés pelas mãos e, aí, o céu é o limite. Os valores dos contratos, negócios e convênios nunca são modestos. Ao contrário, são fabulosos.

Enquanto isso, as ferrovias inexistem e as estradas brasileiras continuam um fiasco...
Pior do que isso, porque ainda mais nojento, é o desvio das verbas destinadas ao socorro e assistência aos desabrigados pelas chuvas da região serrana do Rio, onde morreram centenas de pessoas no início do ano. Se isso não é crime hediondo, não sei mais o que poderia ser.

E, agora, o jornal "O Globo" cita um estudo da AGU (Advocacia Geral da União) mostrando que 70% das verbas desviadas são de Saúde e Educação e que 45% dos envolvidos são prefeitos ou ex-prefeitos. É estarrecedor. Ou desanimador.

A corrupção virou uma epidemia. A presidente Dilma Rousseff está fazendo a parte dela ao sacudir a bananeira dos Transportes. Espera-se que isso seja só o começo.

E os brasileiros que estudam, trabalham, pagam impostos e já pintaram a cara contra Collor, não estão nem aí? Há um silêncio ensurdecedor.

(*) Jornalista é colunista da Folha de São Paulo desde 1997

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