Roberto Romano para O Estado de S.Paulo
O Brasil é o país da corrupção e do segredo, lados da vida nacional que impedem qualquer confiança nas instituições. Os operadores do Estado, sobretudo com o "privilégio de foro", desobedecem às regras basilares da fé pública. O roubo dos recursos coletivos é respondido, entre nós, com perseguição à imprensa, compra de movimentos sociais, sigilo no financiamento de obras. Sem consciência histórica, os nossos políticos e partidos retomam séculos de tirania. A prudência mínima aconselha ligar a censura (o caso do jornal O Estado de S. Paulo é prova) e o segredo que encobre as piores ilicitudes cometidas à sombra do poder. Como disse alguém, "o dia pertence à opinião pública. Nele, os segredos são espancados e os governantes não podem usar o beleguim que realiza o serviço sujo "sob ordem superior". A noite aninha o segredo, covarde razão de Estado".
Os séculos 19 e 20 reuniram censura e hábitos políticos corrompidos, a começar pelo Império de Napoleão I, que espalhou o terror e a guerra com base nas imunidades do Poder Executivo. O fascismo, o nazismo e o stalinismo exibiram o exato contrário da transparência e do respeito à cidadania. Hannah Arendt afirma que a vida totalitária significa a reunião de "sociedades secretas estabelecidas publicamente". Hitler assumiu, para a sua quadrilha, os princípios das sociedades secretas. Ele promulgou algumas regras simples em 1939:
Ninguém, sem necessidade de ser informado, deve receber informação;
ninguém deve saber mais do que o necessário;
e ninguém deve saber algo anteriormente ao necessário.
Segundo Norberto Bobbio, não lido no Congresso Nacional e nos demais palácios de Brasília, "o governo democrático (...) desenvolve a sua própria atividade sob os olhos de todos porque todos os cidadãos devem formar uma opinião livre sobre as decisões tomadas em seu nome. De outro modo, qual razão os levaria periodicamente às urnas e em quais bases poderiam expressar o seu voto de consentimento ou recusa? (...) O poder oculto não transforma a democracia, perverte-a. Não a golpeia com maior ou menor gravidade em um de seus órgãos essenciais, mas a assassina" (O Poder Mascarado).
Quem abre os jornais brasileiros "antigos" percebe o caminho dos que hoje defendem mistérios nas contas públicas e não têm coragem de abrir arquivos ditatoriais. A luta pela transparência, que muitos fingiam conduzir, não passou mesmo de "bravata". O segredo embaralha interesses de grupos privados e assuntos de governo, como no caso Antônio Palocci e no recente episódio no Ministério dos Transportes. Ele ameaça as formas democráticas: nele, os administradores governamentais exasperam aspectos ilegítimos das políticas no setor público. Entramos no paradoxo: o público é definido fora do público e se torna opaco. O segredo, de fato, manifesta-se em todos os coletivos humanos, das igrejas às seitas, dos Estados aos partidos, dos advogados aos juízes, das corporações aos clubes esportivos, da imprensa aos gabinetes da censura, dos laboratórios e bibliotecas universitários às fábricas, dos bancos às obras de caridade. Mas vale repetir a suspeita de Adam Smith: "Como é possível determinar, segundo regras, o ponto exato a partir do qual um delicado sentido de justiça ruma para o escrúpulo fraco e frívolo da consciência? Quando o segredo e a reserva começam a caminhar para a dissimulação?" (Teoria dos Sentimentos Morais, 1759.)
A prudência define a passagem da prática correta do sigilo para uma outra, em que o poder abusivo e tirânico se manifesta. O pensamento ético sempre se opõe ao sigilo, salvo em situações de guerra. Segundo Bentham, a publicidade é "a lei mais apropriada para garantir a confiança pública". O segredo, pensa ele, "é instrumento de conspiração; ele não deve, portanto, ser o sistema de um governo normal. (...) Toda democracia considera desejável a publicidade, seguindo a premissa fundamental de que todas as pessoas deveriam conhecer os eventos e circunstâncias que lhes interessam, visto que esta é a condição sem a qual elas não podem contribuir nas decisões sobre elas mesmas".
Os democratas ou republicanos autênticos devem se acautelar contra o segredo, pois ele se instala na raiz do poder ditatorial e dos golpes de Estado. Não admira que os nossos políticos, herdeiros de costumes definidos nos porões de duas ditaduras, considerem "normais" (com bênçãos de alguns magistrados) tanto o disfarce no manejo das contas públicas quanto a censura à imprensa. Oligarcas manhosos de partidos fisiológicos estão bem no retrato do controle oficial secreto e corrupto. Eles se acostumaram a dobrar a espinha diante dos poderosos porque tal hábito lhes permite corroer as franquias dos "cidadãos comuns". Presos aos favores, vendem a preço vil a dignidade pública na bacia das almas dos Ministérios. Mas cobram caro, das pessoas livres, a crítica aos seus desmandos. A sua técnica de aliciamento usa os laços do "é dando que se recebe", que lhes propicia o controle das informações. Só pode chegar ao público o que eles autorizam. Os coronéis estão mais vivos do que nunca, na pretensa República brasileira.
Já os que, antes de chegar aos postos de autoridade, sempre criticaram os donos do poder, embora queiram exibir uma face polida e bela, escondem (nas paredes escuras dos corredores palacianos) uma repulsiva adesão à bandalheira. A sua figura efetiva? A carantonha de Dorian Gray ou a estátua de Glauco, imagem divina que, por causa das muitas trapaças do tempo, se transformou em bestial. Nada mais desprezível do que o paladino da ética que, por "realismo", age como secretário de práticas contrárias à transparência no manejo dos recursos públicos.
(*) Filósofo, Professor de Ética e Filosofia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), ´´e autor, entre outros livros , de " O Caldeirão de Medeia" .
Estava eu aqui pensando sobre para onde a coisa vai... é mais ou menos o seguinte: o vento sopra a favor, mas, também pode ventar contra. Sem trazer ou lembrar aqui todos os fatores favoráveis que sopraram a favor do metalúrgico provando que tudo que vimos nos últimos anos foi apenas conseqüências das circunstâncias internacionais que levaram o cidadão ao patamar de Deus e salvador da pátria na opinião de milhões e milhões de mal informados e aproveitadores deste brasil varonil.... mas, como dizem os economistas e matemáticos vamos trazer as coisas a valores presentes e ao futuro do pretérito...
ResponderExcluirConsiderando as informações econômicas vindas deste mundão que não perdoa nem regimes políticos, nem sistemas, e muito menos aqueles que pensam serem os donos da verdades, poderíamos dizer que o vento começa soprar contra... os ingredientes hoje são totalmente favoráveis a enfrentamentos não muito agradáveis num futuro muito próximo...
1)A Europa e seu eurozinho estão a pedir penico para tentar se salvar dos seus desequilíbrio fiscais e é bem possível que as coisas chegaram a um nível tão complicado e avolumaram-se sobre tantos países – Grécia, Portugal, Espanha, Itália, etc.etc. – que especialistas já estão apostando que vai dar merda nos próximos 3 meses....
2)Os EUA tem uma briga política entre Democratas e Republicanos que se não chegarem a um acordo para elevar seus limites do endividamento entrarão numa recessão que o mundo inteiro vai sofrer conseqüências imprevisíveis, e, com certeza teríamos saudades dos dias atuais...as apostas são de que os americanos podem ser burros, mas, não são loucos, portanto irão aprovar e mesmo assim a recuperação por lá será muito mais demorada do que muita gente pensa....
3)Daí chegamos ao nosso pais tupiniquim onde o governo acha que pode tudo....só que os ingredientes atuais são propícios para também acontecer algo podre ...
a)real super valorizado,
b)os salários com aumento real e emprego bombando,e popularizando os deuses do palácio do alvorada,
c) e a importação de bens de consumo barato prejudicando a industria brasileira que não vai agüentar muito tempo, mantendo-se os componentes de juros altos e dólar desvalorizado...esta equaçãozinha esta colocando o banco central em sinuca de bico, que já não sabe se aumenta os juros ou baixa os juros...
4)Se consideramos que tudo que aconteceu de bom economicamente nos últimos anos foi fruto das “relatividades”, ou seja, o governo não fez nada para ter os resultados conseguido e acontecido, como, neste momento não fará nada para estancar o fluxo natural das coisas...
5)Então PARA ONDE A COISA VAI...no mundo globalizado o vento que soprou a favor, poderá soprar contra e é sob os ventos contra que fica o questionamento se este governo institucionalizado sob a bandeira da roubalheira e do quanto mais imposto melhor terá competência para segurara a barra....