Nina Lemos para a Folha de São Paulo (*)
"Doidona, doidona!" No show de Amy Winehouse realizado no Brasil no início deste ano alguns convidados VIPs bradavam esse grito de guerra. Na porta do hotel, fotógrafos a chamavam de acabada. E assim foi mundo afora durante a sua curta carreira. Amy era cabra marcada para morrer. "Quanto será que ela dura?", perguntavam seus fãs mórbidos ao redor do planeta.
Amy, em seus poucos anos de fama, virou a garota drogada e problemática mais famosa do mundo. Fotos suas usando drogas valiam milhões. Vídeos dela xingando os paparazzi viravam sucesso imediato de audiência. Quanto pior, melhor.
Seu gosto pelas drogas e sua atitude única suscitou o que existe de mais perverso na tal indústria de celebridades. Seu pai dava entrevistas falando que temia sua morte. Fotos de ambulância na porta da sua casa eram exibidas com destaque. Parecia que o mundo só esperava a hora que Amy, a cabra marcada para morrer (pelos mórbidos e pela indústria) fizesse o que eles tanto esperavam. E morresse, de fato. De preferência, de uma maneira bem deprimente.
Sua voz única, sua beleza estranha e seu talento para escrever letras mais que sinceras podem ter contribuído, sim, para que ela fosse marcada. Afinal, ela era a garota que chorava de amor no chão da cozinha, que transava com um ex pensando no outro. E que cantava, dançando, que não, não, não, não ia para a reabilitação. Tanta força em uma garota aparentemente tão frágil faziam de Amy uma mulher e tanto.
Esqueçam Madonna. Esqueçam Michael Jackson. As coisas ali não eram programadas. E o que não é programado às vezes foge do controle. O que era maravilhoso para os jornalistas que a perseguiam. Sim, ela corria pela rua, ela dava escândalo. E cada vexame público rendia muito dinheiro para quem se alimenta de fofocas de famosos.
Triste ver que Amy fez o que todo mundo esperava. E que muita gente mundo afora deve estar intimamente satisfeito com a sua morte. "Drogada tem que morrer!", gritam os moralistas. "Onde o mundo vai parar com jovens como esses?". Como se cada um dos seus "julgadores" não tivessem na família, ou no círculo de amigos, algum viciado em drogas. Existe alguém que não conheça um alcoólatra? Mas não, Amy era o purgatório de toda loucura humana.
E seu destino, traçado aos 27 anos, só faz com que os falsos moralistas, que vão comentar a sua morte bebendo no bar, ganhem força. Afinal. "ela era louca, desestruturada, um mau exemplo". E os urubus que a perseguiram não vão parar de segui-la por muito tempo. Triste e perverso.
(*) Jornalista
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