Arthur Virgílio (*)
A taxa básica de juros continuará subindo. Pelo menos mais duas intervenções de 0.25%, cada uma, fechando o ano em 12.75%. E mesmo assim a inflação estará bem próxima de extravagantes 7%.
Juros altos, que atraem dólares em profusão, de certa forma “seguram” a inflação. Mas em compensação agridem o setor exportador e ameaçam desindustrializar o País.
E o governo Dilma, de mãos atadas, vive o dilema: enfrentar a valorização do real e ficar sem os dólares que ajudam a tapar o buraco das contas externas?
Ou deixar que a relação permaneça em torno de US$1.00 = entre R$1.60 e R$1.50, com tudo que isso representa de devastador para as exportações?
Parece que a opção será esta última, por temor de inflação ainda mais explosiva que a atual, fruto do descontrole fiscal que fez Lula popular e elegeu a atual mandatária.
Não acredito em cenário melhor do que esse que tentei descrever. Poderá ser pior, se a crise européia recrudescer. Se a Grécia for mesmo à bancarrota. Se Portugal e Irlanda não lograrem cumprir os termos do ajuste fiscal. Se as dificuldades espanholas se agravarem. Se a Itália não se livrar do contágio que já a ameaça.
Aí seria o caso de mais inflação, a despeito de quaisquer manobras. Só para lembrarmos: a inflação, em 2008, foi de 5.9%; em 2009, 4.31%; em 2010, 5.91%, sempre diante da meta flácida de 4.5% com tolerância de dois pontos, para baixo ou para cima (6.5%).
Em 2011, estouraremos o teto da meta e, em 2012, na melhor das hipóteses, ficaremos acima de 6% (bem longe do centro), com crescimento medíocre no biênio.
Em poucas palavras, Dilma poderá passar seus quatro anos convivendo com inflação alta, desajuste fiscal e crescimento baixo. Tempo comprometido pelo delírio lulista, que culminou na gastança eleitoreira de 2010.
Se a presidente tiver juízo, será um quadriênio de aperto. Se não tiver, a maquiagem será desmascarada ainda no período dela. Lula teve tempo político para empurrar com a barriga. Ela não terá.
(*) Diplomata, foi líder do PSDB no Senado
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