sexta-feira, 15 de julho de 2011

Mergulho providencial

Eliane Cantanhêde (*)

Início de 2003 (bem antes do escândalo do mensalão), um jatinho com o deputado Valdemar Costa Neto, então do PL, hoje do PR, derrapou ao pousar em Congonhas e parou na rua. Ele só teve ferimentos leves, saiu andando.

O que mais chamou a atenção foi um detalhe: como Costa Neto, que não é banqueiro, empresário, herdeiro ou ganhador da loteria, podia voar por aí de jato executivo?

É que vão se desenhando as imagens públicas. Por isso, não houve surpresa quando ele foi pego em cheio pelo mensalão em 2005. A surpresa, na época, foi outra: do PT não se esperava isso. De Costa Neto espera-se qualquer coisa.

Mas o importante não é focar no personagem, e sim no enredo. Ele negociou a aliança do PT de Lula com o PL de José Alencar para concorrer à Presidência em 2002, ganhou uma bolada do esquema Marcos Valério para o seu partido (e para ele próprio?!), caiu no mensalão, renunciou para não ficar inelegível, disputou e ganhou a eleição seguinte e voltou para a Câmara.

Cumpre seu sexto mandato, às voltas com o processo do mensalão no Supremo. Responde por formação de quadrilha, corrupção passiva e lavagem de dinheiro, sujeito a uma pena de 9 a 35 anos de prisão.

E como pode ser deputado? É a partir do Congresso que ele comanda, na prática, o PR, nomeia o agora defenestrado Alfredo Nascimento no rico e permeável Ministério dos Transportes e, segundo a revista "Veja", participa de reuniões de assessores da pasta com empresários, apesar de não ter cargo no governo.

A cúpula do ministério caiu, o novo ministro assumiu, o PR ameaçou, Dilma desarticulou a bomba, Pagot foi um traque. E onde estava Valdemar, que é quem realmente manda? Escondido e mudo. Tanto o Planalto quanto o PR mandaram que submergisse, para não piorar as coisas -e as denúncias.

Mas logo Costa Neto emerge de novo. Tal como oito anos atrás, ele teve ferimentos leves, sai andando.

(*) Jornalista é colunista da Folha de São Paulo desde 1997

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