Padre Edilberto Sena (*)
Quase não dá para se acreditar que moradores da várzea, neste verão tenham que andar 12 km para buscar água de beber e cozinhar. Como explicar que seis meses atrás eles e elas estavam em cima das águas e agora não a tenham, nem para beber? O que está acontecendo, o mar Dulce virou deserto? Indagado sobre uma solução de poço artesiano, um morador da várzea explicou que não é possível, porque na cheia cobre tudo e se perde o poço.
Esta não é primeira grande seca na várzea e a natureza está alertando que, do jeito em que está a humanidade violentando o ritmo natural, as conseqüências são duras. A mãe natureza tem seu limite de tolerância. Destruir matas, poluir e manipular igarapés e rios são ações destruidoras e a falta de água potável na várzea é apenas um sintoma. Como diz o ditado ? aqui se faz e aqui se paga.
Ainda ontem chegou mais uma notícia sobre o grande desmatamento ocorrido em apenas dois meses, de julho a agosto passado na Amazônia ? 220 kms² e o Estado do Pará foram responsáveis por 52% desse desastre. De janeiro a agosto deste ano o total de desmatamento na Amazônia foi de 1.540 kms². Além disso, grandes hidroelétricas estão sendo construídas em Rondônia, no Mato Grosso e no Pará. Cada barragem provoca grande distúrbio na dinâmica da natureza. Então, não se pode ficar atribuindo a fenômeno natural as grandes ecas e grandes cheias que estão ocorrendo cada vez com mais freqüência.
A natureza não suporta tantos crimes repetidos. Há solução para recompor o ritmo específico da natureza amazônica? Até que há, desde que empresários governos e justiça passem a atender à natureza Amazônia sem violentá-la. Não se pode continuar a encarar a região apenas como fonte de enriquecimento pessoal empresarial e dos cofres da nação. A Amazônia não é apenas um eldorado rico em biodiversidade, minerais e florestas. Aqui vivem 25 milhões de seres humanos, que têm direito a uma vida digna, a ter água potável abundante próximo de casa.
Infelizmente, enquanto grandes empresas e governos depredam a natureza, quem paga o alto preço são os varzeiros, ribeirinhos, indígenas, etc. Em outras palavras, os que menos perturbam a natureza. Será que se podem esperar mudanças positivas para os povos da Amazônia com qualquer que seja eleito no segundo turno das eleições?
(*) Sacerdote e Diretor da Rádio Rural de Santarém (PA)
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