Celso Ming
Os planos de saúde têm horror a associados com mais de 60 anos. Às vezes com um certo jeito, e outras com truculência, fazem de tudo para alijá-los do seu sistema.
A expectativa de vida da população está aumentando e os administradores de medicina de grupo parecem despreparados para enfrentar a transformação da pirâmide etária. Comprometeram-se a fornecer um pacote vitalício de serviços de saúde em troca de uma mensalidade previamente acertada, mas não estão entregando o contratado.
Há de tudo na história do setor. Há as empresas que cresceram como massa fermentada, sem planejamento estratégico e sem preocupação com alocar adequadamente seu patrimônio e depois quebraram. Há aquelas que fixaram as mensalidades em níveis relativamente baixos, apenas para arrebanhar associados e, depois, repassá-los para frente. E há outras que cresceram sobre bases atuariais relativamente sólidas, mas que, depois, foram apanhadas por essa surpresa demográfica, o rápido envelhecimento da população.
O fato é que as mensalidades dos planos deixam de caber no bolso à medida que os cabelos brancos do associado vão aparecendo. No modelo atual de cobrança, os planos individuais chegam a custar até seis vezes mais para uma pessoa acima de 60 anos. O reajuste – na ordem de 500% – foi autorizado pela Agência Nacional de Saúde (ANS), organismo criado há dez anos para colocar em ordem o setor.
Uma pesquisa do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) mostra que as despesas com saúde para os sessentões chegam a ser seis vezes superiores às da primeira faixa etária (0-18 anos). Em geral, atingem uma população financeiramente enfraquecida, ou porque vive de aposentadoria ou porque não consegue (ou não tem) renda complementar. E isso piora tudo.
A questão do momento consiste em descobrir a saída para o impasse. O diretor da ANS, Maurício Ceschin, admite que a maioria das operadoras de planos de saúde enxerga o idoso apenas como problema. Para mudar essa percepção, adianta que a agência estuda um novo modelo para o atendimento dessa faixa. Consiste em desenvolver uma espécie de fundo de capitalização cuja mensalidade desde o princípio preveja cobertura para o custo do tratamento de saúde na idade avançada. Isso pode solucionar o problema para os novos associados, mas não os daqueles que já estão no sistema.
Investir em prevenção é quase um mantra no setor. Trata-se de evitar as doenças crônicas que aparecem com a idade ou, então, garantir qualidade de vida às pessoas que têm de conviver com elas por anos e anos. “A pessoa mais velha não precisa de helicóptero para uma emergência, precisa de atendimento contínuo”, aponta o especialista Renato Veras, diretor da Universidade Aberta da Terceira Idade da Uerj.
Mas isso não é tudo. Ceschin diz que este é o momento certo para que as operadoras comecem a pensar novas opções para atendimento específico dessa faixa do mercado. É também o que pensa Veras. Para ele, o erro das administradoras de planos de saúde é tratar todos os segmentos etários do mesmo jeito. “O idoso precisa de mais cuidados, mais exames, remédios, consultas, etc. É necessário tratamento diferenciado”, diz. Falta saber em que bases atuariais.
(*) Formado em Ciências Sociais pela USP é Jornalista desde 1966. Trabalhou na Folha de S.Paulo e nas revistas Veja e Exame. Tem uma coluna de economia editada por vários jornais. Também é escritor.
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