João Bosco Leal (*)
Neste segundo turno da eleição, uma coisa tem me chamado a atenção: quanto mais vejo manifestações claras de apoio ao candidato José Serra, mais a candidata Dilma Rousseff sobe nas pesquisas.
Muito estranho, pois, no primeiro turno, comparadas com aquelas em favor de Dilma Rousseff, praticamente não se via propaganda de José Serra e, agora, percebe-se um aumento significativo das manifestações pró-Serra e uma diminuição daquelas em favor de Dilma.
Em campanhas políticas anteriores, pude constatar esse mesmo comportamento do PSDB, onde seus próprios partidários ou não apoiam com clareza seus candidatos ou até lutam contra, com medo do surgimento de novas lideranças, que no futuro possam fazer sombra aos velhos caciques do partido, como o ocorrido na campanha de Geraldo Alckmin.
Como Serra foi para o segundo turno, líderes de seu partido, que antes estavam em cima do muro ou cuidando de suas próprias campanhas, passaram a apoiar Serra abertamente, inclusive viajando em campanha pelo candidato, como Aécio Neves, Tasso Jereisssati, o presidente do partido, Sérgio Guerra, e o próprio Geraldo Alckmin, governador eleito de São Paulo.
É no mínimo irresponsável imaginar que, depois da entrada em peso dessas lideranças na campanha, o candidato caia nas pesquisas e, ao mesmo tempo, sua oponente, com todos os escândalos vindos à tona, e inclusive contestações religiosas, aumente sua vantagem para 12 pontos percentuais.
Esses institutos de pesquisas, os partidários de Dilma e o próprio presidente Lula davam como certa sua eleição já no primeiro turno, e começaram inclusive a discutir nomeações, o que inclusive deu ao PMDB a verdadeira noção de como será tratado num eventual governo Dilma.
O racha no PMDB aumentou e, apesar da orientação contrária de suas lideranças, muitos deputados e senadores do partido passaram a apoiar Serra, tendo em vista o modo com que estavam sendo tratados pelos membros do PT na divisão dos cargos, quando estes já davam como certa a eleição de Dilma no primeiro turno.
É mais um apoio significativo pró-Serra, e não se vê alteração alguma de apoio pró-Dilma após o primeiro turno. Continua sendo apoiada pelos que já a apoiavam, menos esses dissidentes, o que, na prática, teria que fazer com que ela perdesse pontos, e não crescesse nas pesquisas.
É muito estranho o resultado dessas últimas pesquisas, até mesmo pelo desespero expresso nas faces dos petistas em geral, do presidente Lula, do presidente do partido, José Eduardo Dutra, do mensaleiro José Dirceu, e de tantos outros militantes que, nesse segundo turno, estão tão tensos que chegaram a se confrontar fisicamente com os militantes do PSDB.
Com já bem mais de meio século de vida, nunca conheci uma só pessoa que tenha sido entrevistada por um desses institutos de pesquisas, nem alguém que já tenha visto a cabeça de um bacalhau.
(*) É produtor rural, articulista e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários.
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